1.
O título deste blog é uma paráfrase do refrão de “Polícia”, dos Titãs, que diz: “Polícia para quem precisa! Polícia para quem precisa de... polícia!”. Política e polícia compartilham uma raiz etimológica comum em “pólis”, nome das cidade-Estado gregas, onde tudo começou.
Quem precisa de política? A política é a expressão oficial da luta de classes existente na sociedade. Existem classes, mas para impedir que o seu conflito destrua a ordem estabelecida, os dominadores criam um instrumento de administração que é o Estado, forma moderna da política. A existência da política é a negação da unidade da humanidade. Logo, a necessidade de política é uma necessidade negativa. Precisamos de ação política para negar a esfera da política. É preciso realizar a negação da negação: usar a política para negar a sociedade existente, negando inclusive sua política. Nesse sentido, tudo é político.
A política negativa consiste em tornar político, ou seja, negativo, todas as esferas da vida social corrompidas e degradadas pela existência da divisão de classes. Consiste em negar o Estado, o mercado, a autoridade, a hierarquia, as instituições, as leis, a escola, a pseudo-ciência tecnicista, as igrejas dogmáticas, a família repressiva, o patriarcado, a polícia, o partido, a mídia, a publicidade, a moda, os ídolos, os preconceitos, as superstições, o senso comum, a medíocre e esmagadora hipocrisia coletiva largamente prevalecente.
Negar significa destruir material e ideologicamente, e ainda construir novas mediações emancipadas como forma de superação daquilo que foi destruído. A negação política é uma atividade prática e simultaneamente teórica. Para negar é preciso questionar, criticar, realizar o exame radical de todas aquelas esferas da vida, tornar patentes à consciência todas as armadilhas da alienação e do estranhamento que criam barreiras entre os homens e do homem consigo mesmo.
A epígrafe de Orwell na página de abertura diz que os homens “não se revoltarão enquanto não tiverem consciência”. Esse enunciado é bastante coerente com a percepção intuitiva imediata. É muito fácil entender que a revolta só pode se desenvolver com o impulso decisivo de uma compreensão consciente da realidade. Mas o sentido do seu correspondente dialético não é muito facilmente apreendido: “não terão consciência enquanto não se revoltarem”. Ou seja, para adquirir consciência, é preciso se revoltar. A consciência não surge do nada na cabeça dos homens e os torna subitamente revoltosos. A consciência nasce também do próprio ato de revolta. Só se pode falar propriamente de consciência quando há auto-consciência, a qual só se desenvolve na ação.
A revolta é o primeiro ato do processo de auto-superação e negação. É esse ato que fundamenta o movimento posterior de negar as idéias estabelecidas. As idéias revolucionárias não entram na cabeça por osmose, não se imprimem por decalque, não podem ser empurradas goela abaixo. “As idéias não brotam como cogumelos na cabeça dos filósofos”, diria Marx. Elas brotam do solo social onde o indivíduo/filósofo pisa. “Não existe filosofia inocente”, completou Lukács. O filósofo (etimologicamente, um amante da sabedoria) também é feito de carne e osso, estômago e músculos, nervo e órgãos sexuais. Só se adquire a sabedoria por meio da experiência vivida.
Apenas na luta o indivíduo se torna consciente. Ao localizar as trincheiras de classe que recortam a sociedade em todos os seus níveis, ele descobre quem está ao seu lado, quem são seus iguais. E descobre também a prevalência esmagadora dos seus inimigos, os donos do poder, que daí por diante farão de tudo para silenciá-lo, com seu arsenal avassalador de mecanismos de repressão física e ideológica. É então que o indivíduo se torna consciente desses mecanismos e passa a combatê-los.
A consciência acompanha o processo de revolta, do contrário não se enraíza e não frutifica em conhecimento revolucionário do mundo. A revolta consciente é uma condição necessária para a emancipação do homem em todas as esferas políticas, econômicas, sociais e culturais. A emancipação é a completa realização do indivíduo social e de seu potencial ético, intelectual, científico, artístico, psíquico, afetivo, sensorial, corporal e sexual.
A teoria é um momento desse processo de emancipação. O trabalho do pensamento é se tornar o pensamento do trabalho. “Sem teoria revolucionária não há prática revolucionária”, advertiu Lênin. Teoria e prática estão dialeticamente unidos. A teoria é um momento da prática (e vice-versa). Um não se desenvolve sem o outro. Para desenvolver uma prática política, especialmente a política negativa revolucionária, é indispensável a mediação da teoria.
A teoria se registra sob diversas formas, inclusive em fragmentos. É para resgatar tais fragmentos que se utilizará este espaço. Os fragmentos de reflexão aqui publicados são traços de uma reflexão que aspira a colaborar com a prática política negativa e revolucionária. Para quem precisa de política.
2.
Este “blog” fará não apenas um registro, mas o resgate de fragmentos teóricos, pois há uma história que precede a inauguração deste espaço. Há um acervo de textos que havia sido perdido e que foi resgatado. Esses textos perdidos foram originalmente publicados sob pseudônimo no site “Duplipensar.net”, no período entre meados de 2002 e março de 2006. Para entender como foi encerrada a colaboração do autor com o site e porque foi preciso “suicidar” o pseudônimo, o leitor pode consultar o “post” intitulado “A morte de Janus Mazursky” (http://politicapqp.blogspot.com/2006/08/morte-de-janus-mazursky.html), o qual foi publicado no dia 22/08/2006.
3.
Resgatados os textos dessa fase do autor, foi preciso organizá-los no novo espaço do “Política para quem precisa”. Um “blog” não possui as mesmas funcionalidades de um site. Não permite organizar os textos por assunto, por data, etc. Foi preciso encontrar formas alternativas de tornar esses textos antigos acessíveis aos leitores interessados em pesquisas temáticas. A lista de todos os textos “perdidos” que haviam sido arremessados ao “buraco da memória” está disponível num “post” denominado “ÍNDICE”, o qual foi publicado no dia 31/05/07.
4.
Todos os textos publicados a partir da data de “inauguração” do “blog”, marcada pela publicação desta “Apresentação”, hoje em 1/06/07, pertencem à “nova fase” do autor. Foram concebidos com o projeto de serem publicados no “Política para quem precisa”. Todos os textos, antigos e novos, contém ao final o nome do autor e a data em que foram escritos.
5.
Além de seus próprios textos, este escriba publicará também textos de terceiros, retirados de outras fontes, todos devidamente creditados e identificados, com o nome do autor e a fonte de publicação. Todos os textos de terceiros eventualmente publicados serão também devidamente precedidos de uma introdução, que vai comentar e justificar o porquê de sua publicação no “Política para quem precisa”.
6.
Está autorizada a reprodução, impressão, cópia, etc. e a distribuição sob qualquer forma do conteúdo total ou parcial dos textos escritos pelo autor deste blog, com a única condição de que seja citada a fonte.
7.
O espaço para comentários de qualquer natureza (seja qual for a linha teórica, posição política, crença religiosa, preferência musical, time de futebol, etc.) está plenamente franqueado aos leitores.
Boa leitura, bom proveito, reverberações dialéticas e revolucionárias a tod@s!
Daniel M. Delfino
Junho 2007
Um comentário:
Oi, Daniel. Parabéns pelo blog. Gostei de seu texto e da dialética revolta-consciência-revolta. Aliás, o nome de meu coletivo é Revolutas exatamente no sentido de que a revolta precisa se transformar em ação, em luta, do contrário vira frustração conservadora.
Abraço
Sérgio
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