O protagonista do filme é um executivo da companhia do metrô de Nova York (interpretado por Denzel Washington) que está sob investigação por suspeita de aceitar suborno em uma licitação. Por conta disso ele foi rebaixado para a função de controlador de tráfego, encarregado de monitorar o fluxo dos trens nas linhas e se comunicar com os maquinistas. É nessa função que ele entra em contato com seu antagonista, um ex-presidiário (interpretado por John Travolta) que seqüestra um trem e exige um resgate milionário da prefeitura. Mas não se trata de um ex-presidiário qualquer: o seqüestrador havia sido preso por aplicar um golpe em Wall Street.
Seguem-se então as piruetas tradicionais dos filmes de ação, o clássico duelo do mocinho e do bandido, a ideologia tradicional do heroísmo hollywoodiano, etc. Nessa linha, trata-se de uma produção competente, realizada por profissionais de bom nível. O diretor é Tony Scott, o irmão sem talento de um dos grandes artistas em atividade no cinema (Ridley Scott, responsável por clássicos como “Alien, o 8º passageiro” e “Blade Runner”, além de uma longa coleção de obras acima da média, como “Os duelistas”, “Chuva Negra”, “1492”, “Telma e Louisie”, “Gladiador”, entre outros). Mesmo sem o talento do irmão, Tony Scott já emplacou um mega-sucesso de bilheteria, o icônico “Top Gun”, filme paradigmático da década de 1980 e seu “revival” da Guerra Fria, com a apologia explícita do aparato militar estadunidense, embalada no clichê do herói rebelde romântico.
Em “seqüestro do metrô 123” temos outro tipo de discurso ideológico, adequado a uma época de crise econômica.
O herói é um funcionário público civil, apesar de também pegar em armas no final. Isso representa uma defesa do papel do Estado ao supostamente tirar a economia estadunidense da crise (sem no entanto abrir mão das guerras no Oriente Médio).
O vilão da história é um especulador do mercado financeiro. Ou seja, a causa da crise são as “maçãs podres” de Wall Street, os banqueiros inescrupulosos que transformaram a economia num cassino. A mensagem é que, expurgando-se essas maçãs podres, o sistema vai voltar a funcionar normalmente. Não há nada de errado com o capitalismo, apenas com alguns indivíduos problemáticos.
O herói da história é um negro, assim como o atual presidente estadunidense é negro. O herói cometeu um erro no passado, assim como o governo estadunidense (que praticou torturas, prisões ilegais, morte de civis inocentes, entre outros crimes de guerra.) cometeu. O combate ao vilão redime o herói de seus crimes, assim como Obama acoberta os crimes dos seus antecessores. O prefeito é um político tradicional, demagogo, mulherengo, etc., que não está concorrendo à reeleição, assim como os republicanos conservadores cederam o bastão a Obama e se retiraram para os bastidores, para voltar quando o serviço sujo de administrar a crise tiver sido feito. Um encobre os crimes do outro, uma mão lava a outra, e estamos conversados. O mocinho do filme pode voltar para casa feliz, como se nada tivesse acontecido.
O resumo da ópera é que o Estado salvou o capitalismo. Um conto de fadas para quem acredita num mundo de mocinhos e bandidos “made in Hollywood”. No mundo real, é preciso mais do que marketing e demagogia estatista. A crise continua, o capital fictício foi estocado nos cofres públicos, o Estado socializou os prejuízos das falcatruas privadas, trabalhadores perderam seus empregos, suas casas, seus salários e seus direitos, as guerras continuam no Oriente Médio, golpes de Estado na América Central, bases militares na Colômbia e a IV Frota estadunidense de olho no nosso pré-sal, e Lula, em conluio com Sarney e outros caciques, está loteando o pré-sal para as transnacionais, garantindo uma fatia para que a burocracia petista possa continuar anestesiando as massas com bolsa-esmola, e assim eleger Dilma.
O show vai continuar, enquanto não dermos fim ao seqüestro das consciências.
Daniel M. Delfino
Setembro 2009
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