A crise
política do país entrou em uma nova fase com a “coerção
coercitiva” de Lula para depoimento em 04/03, e o subsequente
pedido de sua prisão preventiva pelo MP de São Paulo
(enriquecido no aspecto anedótico pela brilhante demonstração
de analfabetismo e pedantismo dos procuradores). A burocracia petista
encastelada no aparato dos movimentos sociais tentou organizar uma
reação imediata, mas foi incapaz de reunir mais gente
do que meramente o suficiente para encher a quadra do Sindicato dos
Bancários, no centro do São Paulo, tornando patente a
sua fraqueza. Mais importante do que isso, a continuidade da crise
econômica e a incapacidade do governo Dilma de produzir
respostas que agradem à burguesia fizeram com que voltasse a
ganhar força o movimento pelo impeachment.
Atos
contra o PT foram realizados em 13/03 e atos em defesa do governo
estão marcados para os próximos dias. O roteiro para o
impeachment não saiu exatamente como planejado, pois os dois
possíveis beneficiários da manobra, Aécio e
Alckmin, foram ambos pateticamente expulsos da manifestação
que eles mesmos convocaram. A burguesia terá que dar um tempo,
reavaliar suas táticas ou talvez até mesmo partir para
um plano B na tentativa de construir um substituto ao PT. Além
disso, o governo reagiu com a ida de Lula para o Ministério da
Casa Civil (da mãe Joana – piada pronta), na tentativa de
reconstruir as mediações com o PMDB e evitar tanto o
impeachment como a sua própria prisão. Ou seja, a crise
está longe de uma solução imediata (o próprio
processo de impeachment, ao ser instalado, demora no mínimo 6
meses). Temos que aguardar também os atos governistas para
avaliar a quantas anda a capacidade de mobilização do
PT (suspeitamos que seja muito baixa, conforme discutiremos mais
adiante).
Enquanto
essa conjuntura permanece indefinida, uma coisa é certa, a
esquerda anti-governista precisa urgentemente se repensar se deseja
se colocar como um ator relevante na disputa. O presente texto é
uma contribuição que visa problematizar a atuação
da esquerda, no intuito de ajudar a superar erros recorrentes.
Agrupamos as respostas das organizações de esquerda
para a crise política em alguns argumentos básicos ou
eixos de discurso. Debatemos os principais desses argumentos, mas sem
dar nomes aos bois, para não complicar demais a discussão
(se a carapuça servir, estamos abertos a seguir debatendo com
os defensores desses argumentos). Tentamos aqui discutir as ideias e
não seus formuladores, para que nenhum se diga acusado
injustamente ou que teve as suas posições distorcidas.
Começamos
nesta parte 1 pelas posições que entendem que é
necessário defender o governo ou no mínimo se
concentrar na luta contra a oposição burguesa, depois
passamos na parte 2, a ser publicada amanhã, para as posições
que são contra o governo (e também contra a oposição
burguesa, obviamente), para destacar os seus equívocos,
limites e insuficiências. Ao final, na parte 3 (que sai depois
de amanhã), a partir desse inventário e das
características e problemas comuns dessas posições
da esquerda, tentamos esboçar os elementos de uma resposta
para a crise política, do ponto de vista dos trabalhadores.
“Impeachment
é golpe!”
Um dos
discursos em voga é de que a ofensiva da burguesia contra
Dilma, Lula e o PT configura um golpe, comparável ao golpe de
1964, que estabeleceu a ditadura militar até 1985. Esse
discurso não se sustenta por conta da diferença entre
os contextos de 1964 e 2016. Em 1964 vivíamos um conflito
entre dois projetos de país, os quais polarizavam as classes
sociais e mobilizavam intensamente a sociedade. De um lado, tínhamos
o projeto nacionalista burguês de Jango (apoiado de maneira
seguidista e sem estratégia independente pela principal
direção do movimento dos trabalhadores na época,
o PCB) e a fração mais pró-imperialista da
burguesia nacional. Esse conflito se resolveu com a vitória do
setor pró-imperialista, pela força das armas,
implantando uma brutal repressão sobre os trabalhadores, um
governo autoritário, corrupto, entreguista, etc., que deixou
sequelas das quais não nos recuperamos até hoje.
Em 2016,
não há diferença essencial de projeto entre o
governo do PT e a oposição burguesa, no mesmo nível
da diferença que havia entre Jango e a oposição
da época. Não há nem de longe o mesmo nível
de polarização de classe. Não há por trás
do PT de 2016 o mesmo grau de mobilização e organização
da classe trabalhadora que havia na época de Jango. A
divergência da burguesia em relação ao PT não
se encontra no nível de uma diferença de classe, de
projeto de sociedade, mas se situa no nível gerencial,
administrativo. O que a burguesia questiona é a capacidade do
PT como gestor do Estado em cumprir a sua função,
garantir os lucros do capital que opera no Brasil. Estando
desabilitado para essa função (que cumpriu a contento
durante um bom período), o PT será descartado, qualquer
que seja o procedimento, o impeachment ou a eleição de
2018.
O
descarte do PT não significa necessariamente uma escalada
autoritária, uma ruptura institucional, uma ditadura, mesmo
porque ela é dispensável. Os elementos autoritários
necessários para que o Estado siga reprimindo os trabalhadores
em favor do capital já são manejados pelo próprio
PT, que inclusive os aperfeiçoou (criando por exemplo a Força
Nacional de Segurança e a Lei Anti-terrorismo). Os 13 anos de
governo do PT presenciaram a continuidade do genocídio da
juventude negra na periferia, do genocídio de indígenas,
camponeses, quilombolas, etc., da repressão de greves,
ocupações e manifestações, da perseguição
de ativistas e militantes, da violência policial, agressões
contra mulheres e LGBTs, violações de direitos humanos,
etc.
Quando
não foi o agente direto da violência estatal, o PT foi
conivente e omisso, deixando que a máquina do Estado (em que
ocupa nada menos que a presidência) fosse livremente usada para
esmagar os explorados e oprimidos. O peso da presidência,
ministérios, governos estaduais e municipais, parlamentares,
etc., jamais foi usado pelo PT para sustar o massacre dos
trabalhadores, porque tal massacre é necessário para o
andamento dos negócios da burguesia, para quem o PT governa.
Nunca foi movida uma palha pelo PT, em nenhuma instância,
contra a violência patronal em todas as esferas. Leis
desfavoráveis aos trabalhadores foram editadas com a aprovação
do PT ou sem sua resistência. O judiciário seguiu
criminalizando greves e movimentos sociais. Essa “democracia” não
será em nada afetada pelo afastamento do PT.
Evidentemente,
a remoção do PT do governo servirá como uma
espécie de desforra de todos os setores reacionários e
vai reforçar os discursos de ódio da ultra direita
contra os movimentos sociais, os direitos trabalhistas, os direitos
humanos, as mulheres, os negros, os LGBTs, etc. Mas o cenário
em que um tal crescimento ideológico da direita é
possível foi construído pelo próprio PT com sua
política neoliberal e adicionalmente, no nível
ideológico, ao abrir mão de qualquer tipo de discurso
de projeto de sociedade (mesmo que fosse de fachada, como o
bolivarianismo), que apresentasse algum horizonte, alguma meta pela
qual se lutar. O discurso reforçado pelo PT foi o da
meritocracia (através justamente do exemplo de Lula, que é
o migrante nordestino pobre que “chegou lá” e virou
presidente), das soluções individuais, do consumismo.
Quando as bases materiais desse discurso (a efêmera
prosperidade da era Lula) se dissolvem em meio às crises
econômicas, o que resta é o vazio ideológico em
que grassam as ideias de direita.
Em
resumo, não se trata de golpe, porque não há
diferença de projeto (entre o PT e demais partidos) e não
há mobilização popular a ser esmagada. E não
se trata de ditadura, porque os instrumentos autoritários já
estão sendo largamente usados contra a população
mesmo durante a “democracia” pilotada pelo PT. Não será
denunciando o “golpe” e defendendo o PT que se vai enfrentar a
ofensiva política e ideológica da direita, mas
reconstruindo a identidade da esquerda e um projeto dos
trabalhadores.
“Rouba
mas faz”
Na
esteira da luta contra o “golpe”, uma das variedades do discurso
(semi-governista, se é que podemos chamar assim) que prolifera
nos debates é a da exigência de imparcialidade, no
sentido de que o tratamento dado ao PT deve ser dado também ao
PSDB e demais partidos. Se é para punir os corruptos, que se
punam os do PT, mas também os do PSDB.
Esse
discurso brada indignado com o tratamento desigual do PT pela mídia.
Demonstra que a linha editorial dos veículos da imprensa
burguesa é seletiva, dando grande espaço para as
denúncias contra o PT e abafando as que envolvem o PSDB.
Denuncia a mídia por investigar o pedalinho de Lula no Guarujá
e esquecer o helicóptero com meia tonelada de cocaína
dos aliados de Aécio em Minas. Da mesma forma, exigem que o
judiciário tome as medidas cabíveis contra os corruptos
do PSDB. Se a delação do Delcídio serve para
incriminar Lula, porque não serve para incriminar Aécio?
Indignados, os paladinos da imparcialidade descobrem que a mídia
burguesa é parcial, defende interesses de classe, destila ódio
aos trabalhadores, explorados e oprimidos, etc., ou seja, que é
burguesa. E descobrem que o judiciário é igualmente um
órgão do Estado burguês, que pune somente as
classes sociais subalternas e absolve os integrantes de sua própria
classe de qualquer delito.
Em
relação a essa exigência de imparcialidade, temos
duas possibilidades: se os seus portadores estão descobrindo
agora que a mídia e o judiciário defendem os interesses
de classe da burguesia, são muito ingênuos, mas muito
mesmo. Se já sabiam, então porque aceitaram a opção
pela convivência e mesmo a aliança do PT com esses
mesmos setores durante anos e mais anos? Como destacamos no texto
anterior, somente a Globo recebeu R$ 5,8 bilhões em
publicidade do governo federal entre 2000 e 2012. O próprio PT
financiou a Globo durante pelo menos 10 anos! O PT já tinha
feito a opção de governar com essa classe social e para
ela. Para enfrentar a Globo, o PT teria que ter feito a opção
oposta, de governar com a mobilização dos
trabalhadores. Era essa opção que já estava
descartada desde o começo.
O
problema que os defensores da imparcialidade enfrentam não
está na mídia e no judiciário, que são o
que são, está no PT, que finge ser o que não é.
O PT finge ser um defensor dos explorados e oprimidos, mas não
é. Está sendo punido e perseguido pela burguesia pelo
que finge ser, e está impossibilitado de se defender pelo que
de fato é. Por não ser mais uma organização
dos trabalhadores, o PT é incapaz de apelar para que estes o
defendam, como veremos a seguir. Ao ser incapaz de apelar para uma
base social de classe, o PT se nivela aos demais partidos burgueses.
É um partido burguês, composto por burocratas, que vivem
da corrupção, de mandatos eleitorais, aparatos nos
sindicatos, movimentos sociais, ONGs, academia, diretorias de
estatais, fundos de pensão das estatais, etc., com um programa
burguês que visa garantir os lucros do capital que opera no
Brasil.
E se o
PT é um partido burguês, não uma organização
de trabalhadores, o último refúgio para os defensores
da exigência de imparcialidade, na sua incoerência e
vazio, é a aplicação da “imparcialidade ao
contrário”. Explicando: de um lado, a mídia e o
judiciário não reconhecem que os demais partidos são
criminosos, só o PT; de outro lado, os defensores do PT
reconhecem que o partido também é corrupto, mas acham
que ele é melhor que os demais, ou menos pior. A defesa do PT
não é mais por ser um partido dos trabalhadores, uma
organização classista e de luta, mas por ser, entre os
partidos (burgueses) existentes, o menos pior. É aquele que
supostamente mais trouxe “melhorias” aos trabalhadores (não
importa se são melhorias cosméticas e efêmeras e
não estruturais). O que importa é que o PT é um
partido que rouba, mas faz. O último refúgio dos
defensores do PT é o malufismo.
Defesa
do PT contra a direita
Ainda
que reconheçam muitos dos defeitos do governo do PT, a
política neoliberal, a subordinação ao
imperialismo, o caráter meramente cosmético das
políticas sociais, a ausência de mudanças
estruturais, a corrupção, etc., muitos argumentam que
ainda assim é preciso defender o PT e o governo contra a
ofensiva da oposição de direita, porque é “menos
pior” do que o PSDB e todo o ideário reacionário que
com ele pegou carona.
O
problema é que o governo do PT, por seus próprios
deméritos, é indefensável. A rejeição
de Dilma e do PT é gigantesca entre os trabalhadores, e com
muita razão. A miragem consumista dos anos Lula já
ficou para trás há muito tempo e o que sobrou foram as
dívidas, os carnês dos automóveis, as prestações
do Minha Casa Minha Vida, os juros no cartão de crédito
e no cheque especial. A sensação de prosperidade e
ascensão social foi substituída pela amargura do
desemprego, da precarização, do arrocho salarial, do
endividamento, da inflação, da intensificação
do trabalho, da deterioração dos serviços
públicos, hospitais, escolas, transportes, etc. É o
governo do PT que está aplicando os cortes nos gastos sociais
para seguir pagando a dívida pública (por volta de 45%
da arrecadação federal sendo jogado no ralo anualmente,
em prol de uma dívida fraudulenta), atacando os direitos
sociais e trabalhistas, reprimindo as lutas, etc. No caso da
juventude, boa parte daqueles que não trabalham nem estudam
(geração “nem nem”) cresceu já sob os
governos do PT, não tem qualquer memória do partido
quando era um instrumento de luta classista e o enxerga como algoz
dos seus sonhos e seu futuro.
Os
trabalhadores não se mobilizam sem uma perspectiva concreta,
sem um projeto em que apostem. Se alguém tentasse mobilizar os
trabalhadores para defender o PT e o governo, de alguma forma teria
que contemplar na pauta as suas reivindicações
imediatas: aumentos salariais, garantia de emprego, condições
de trabalho, serviços públicos de qualidade, etc. Mas
essas reivindicações são impossíveis de
serem atendidas pelos governos petistas. Não há
qualquer possibilidade de um “giro à esquerda” do governo,
uma promessa que é reiteradamente repetida e descumprida com a
mesma assiduidade pelo menos desde 2005, quando explodiu o escândalo
do mensalão, ou a cada eleição, como em 2014,
quando foi renovada na campanha para reeleição de Dilma
apenas para ser traída e desmentida com uma velocidade
impressionante, antes mesmo da posse, devido aos compromissos do
partido com o capital.
Mobilização
dos trabalhadores?
Além
disso, os aparatos dos movimentos sociais fiéis ao PT estão
tão burocratizados e aferrados à conciliação
de classe que já não inspiram mais qualquer confiança
na base dos setores sociais que representam. No movimento sindical,
por exemplo, os sindicatos dirigidos pela CUT e demais correntes
governistas, burocráticas e pelegas, estão tão
distantes do dia a dia das categorias, estão tão
acostumados a trair as greves e as lutas, a fazer acordos lesivos aos
trabalhadores que representam, a sabotar a democracia interna,
tratorar assembleias, desconsiderar a organização nos
locais de trabalho, etc., que estão odiados e desacreditados.
No
papel, a CUT reúne mais de 3000 entidades sindicais filiadas,
que representam mais de 20 milhões de trabalhadores.
Entretanto, essa representação é apenas
jurídica, no sentido de que os trabalhadores só podem
fazer greves e assinar acordos por meio dos sindicatos. Mas no
sentido real de representação, como liderança
política e ideológica, já faz muitos anos que o
PT deixou de ser referência para os trabalhadores. Há
décadas os sindicatos filiados não organizam os locais
de trabalho para lutar por questões cotidianas, não
enfrentam as demissões no setor privado, a ditadura patronal
nos locais de trabalho, o assédio moral, o adoecimento, os
acidentes de trabalho, etc.; não realizam reuniões,
plenárias e assembleias sistematicamente, não realizam
campanhas políticas, assinam acordos rebaixados, mantêm
dirigentes burocratizados, afastados dos locais de trabalho, etc.
As lutas
e greves que ainda acontecem em categorias com maior tradição
de organização, como funcionários públicos,
bancários, professores, petroleiros, correios, metalúrgicos;
acontecem contra e apesar dos sindicatos, passando por cima deles,
não por causa deles. No caso de funcionários do BB,
CEF, Correios e Petrobrás, em que o PT exerce a função
de patrão, a sua gestão foi idêntica a de uma
empresa privada (com exceção das demissões em
massa). O PT implantou nessas empresas a sobrecarga de serviços,
a cobrança de metas massacrantes, o assédio moral
sistemático, causou o adoecimento físico e psicológico,
trouxe o arrocho salarial, o sucateamento dos planos de previdência
e saúde, as terceirizações, privatização
de setores inteiros, etc. Quando os trabalhadores desses setores
tentaram lutar, foram impedidos pelo PT na função de
direção sindical, por meio das manobras mais rasteiras.
A ponto de que a maioria dos trabalhadores hoje odeia o seu sindicato
(e não apenas as diretorias, o que é muito grave), e é
mais fácil mobilizá-los contra o PT (inclusive com o
discurso da direita, o que é trágico) do que tem sido
para as greves e lutas.
No que
se refere ao distanciamento, o mesmo vale em alguma medida para os
movimentos de sem terra e outros movimentos sociais específicos.
Em todos eles a combatividade, a ação direta, a
organização de base, a democracia interna, etc., foi
substituída pela ditadura dos aparatos e burocratas petistas.
Tudo isso faz com que o PT seja incapaz de mobilizar de fato em
defesa do governo. Caso os burocratas petistas iniciem algum processo
de convocação na base dos trabalhadores, e caso os
trabalhadores comecem a comparecer em massa, os “dirigentes”
correm o risco de serem atropelados por reivindicações
próprias da classe, o que não interessa ao partido no
momento. Por isso, as manifestações em defesa do
governo terão que ser limitadas aos próprios burocratas
e setores mais próximos. Claro que também haverá
aqueles que sinceramente acreditam que é preciso defender o
governo. Mas ambos estão longe de serem suficientes, ou
representativos do que pensa a classe trabalhadora neste momento.
- x -
Ao
rejeitarmos as posições de defesa do PT, não se
trata de desconhecer o perigo do crescimento da direita e da
ultra-direita, nem de desconhecer o que representa o projeto do PSDB
em termos de ataque aos trabalhadores, nem de uma exigência
abstrata e ultra-esquerdista de que o PT se regenere imediatamente de
todos os seus erros e se encaminhe para o “socialismo”, etc.
Trata-se do fato objetivo de que o PT, para todos os efeitos, acabou,
e a esquerda tem que aprender a viver sem ele.
Se o
governo do PT for derrubado por um impeachment, e vier um governo
PSDB/PMDB, não será o PT, a CUT e demais movimentos
sociais sob seu controle que vão servir de defesa contra os
ataques da burguesia, por todo o descrédito acumulado, pela
incapacidade de mobilização, etc. Os mesmos dirigentes
que durante décadas desconstruíram, sabotaram, traíram
as lutas, não vão se tornar combativos da noite para o
dia. Se tentarem, não serão seguidos pela base, pois os
trabalhadores não são idiotas. As lutas que houverem
não serão lideradas pelo PT, terão que ser
conduzidas pela esquerda anti-governista que restar (se ela tiver
competência para isso) e por uma nova geração de
ativistas. Se o PT permanecer no governo, não será
graças à mobilização dos trabalhadores,
mas aos acordos (essa é a função da ida de Lula
para o ministério) para que o PT aplique ele mesmo os ataques
que a burguesia exige, essa seria a única condição
para que Dilma termine o mandato.
De uma
forma ou de outra, o PT não pode continuar sendo a referência.
Quanto mais tempo os setores da esquerda organizada e simpatizantes
permanecerem na defesa do PT, mais vão perpetuar a ilusão
de que esse partido tem alguma relação com a esquerda.
Quando mais tempo durar essa ilusão, mais tempo terá
sido perdido na tarefa urgente de reconstruir a esquerda. Não
podemos passar mais tempo sendo confundidos com o PT.
Para os
trabalhadores, o PT é sinônimo de corrupção,
neoliberalismo, ajuste fiscal, superávit primário,
recessão, crise econômica, desemprego, inflação,
hospitais e escolas sucateados, repressão, sindicalistas
pelegos, etc. E os trabalhadores tem razão, o PT é tudo
isso mesmo. A esquerda precisa se desvencilhar desse legado pavoroso
e recomeçar sua caminhada com uma nova identidade. O primeiro
passo para isso é abandonar a canoa furada do PT, arregaçar
as mangas e ir à luta junto à base da classe
trabalhadora e em todas as frentes.
16/03/2016
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