19.3.16

A luta de classes na era pós PT e as respostas da esquerda - parte 3/3



Antes de começar, uma observação preliminar de caráter pessoal: a opção de dividir o presente texto em partes e publicá-lo em três dias, um após o outro, pode se provar uma das mais felizes na carreira deste escriba (ou a mais desastrosa, dependendo do grau de concordância do leitor com o texto), porque permitiu acompanhar uma conjuntura que se desenvolveu com enorme velocidade, apresentando novos desdobramentos a cada dia. A nosso ver, esses desdobramentos aprofundaram e confirmaram as avaliações que fizemos nas duas partes anteriores.

Resumo dos últimos capítulos
O movimento pelo impeachment confirmou o seu caráter de direita, com elementos de ultra direita. O PT arriscou uma espécie de tudo ou nada ao lançar a jogada da nomeação de Lula ao Ministério para escapar da prisão. Ao fazer isso, o PT deu a brecha para que a oposição burguesa transformasse a não nomeação de Lula e sua prisão numa espécie de questão de honra. Inteligentemente, o movimento pelo impeachment ganhou os corações e as mentes das massas. Imensas parcelas da população foram mobilizadas pela oposição burguesa e pela mídia para achar que a nomeação como forma de escapar da justiça é uma espécie de gota d'água, o tapa na cara, o insulto definitivo, que não se pode aceitar. De quebra, pode servir até como o pretexto final para o impeachment de Dilma, sem a necessidade de queimar também Temer. Os dias 16 e 17 de março presenciaram uma imensa mobilização de ódio contra a nomeação de Lula.
Entretanto, o volume das manifestações em defesa do PT na sexta-feira dia 18 mostrou que o governo pode conseguir uma sobrevida. O simples fato de que as manifestações não tenham sido esvaziadas, não tenham sido um fiasco, mas que tenham levado um número significativo de pessoas, não só burocratas petistas encastelados nos movimentos sociais, mas gente “de verdade”, que foi atraída pelo chamado a defender a “democracia”, é uma vitória para o PT. É claro que muitos dos que estiveram nos atos de sexta-feira dia 18 não são petistas, nem são organizados pelo PT, nem pretendem ser, e mantém reservas críticas ao governo. Marcharam em repúdio ao que enxergam como um golpe, em repúdio ao PSDB, à rede Globo e ao restante da mídia, à ultra-direita que está pondo as manguinhas de fora. Mas indiscutivelmente, o PT será o beneficiário dessa mobilização, pois conseguiu transformar a não prisão de Lula e sua nomeação ao Ministério numa espécide de questão de honra também para um grande número de pessoas com simpatias de esquerda.
Num país onde tudo tende para a futebolização, muita gente, ao ver o aspecto fascistóide das mobilizações contra a nomeação ministerial, ao ver o cinismo da cobertura seletiva da mídia, ao tremer de indignação diante de fuguras como Aécio, Alckmin, Cunha, Gilmar Mendes, etc., fizeram questão de mostrar que “torcem para o outro time”, e marcharam ao lado do PT. O brasileiro não suporta ver o outro time ganhando, no caso, o time da direita e da ultra direita, da mídia, PSDB, Bolsonaro, etc. Por isso, muitos escolheram o lado “vermelho”. A crise terminal do PT pode ter sido adiada e o governo Dilma pode continuar, respirando por aparelhos. Teremos nos próximos dias o vai vém jurídico em torno da nomeação ministerial de Lula. Mas no campo ideológico, o PT conseguiu o que queria, aparecer como a única alternativa existente contra à direita mobilizada, por mais algum tempo. Ponto para o PT, derrota da esquerda anti governista.

O caráter de classe do atual movimento anti PT
A crise política que está se desenrolando tem origem no fato de que a utilidade do PT para a burguesia foi esgotada. Depois de amortecer, contornar, bloquear, sabotar a luta de classes, desorganizar e despolitizar os trabalhadores, o PT está sendo descartado impiedosamente pela burguesia. Agora, trata-se de produzir o seu sepultamento, com tons dramáticos de uma desforra ideológica da direita. Até o momento, o principal componente social do movimento pelo impeachment são as camadas médias de pequenos empresários e assalariados de alta renda. Esse setor social enxerga no PT a causa de todos os problemas, acha que foram os mais pobres que roubaram a sua prosperidade por meio de programas sociais que os “bandidos” do PT criaram para cooptar eleitoralmente a população pobre. Também não demonstra muita confiança na direita tradicional (PSDB) e tem bastante simpatia pelo discurso anti partido (como boa parte dos trabalhadores). Um setor minoritário tem sido atraído pelos discursos de ódio e tende mesmo para o fascismo.
Para este setor, vale qualquer coisa para barrar a manobra desesperada da nomeação ministerial de Lula. Inclusive, violar algumas leis, exceder as prerrogativas do judiciário, extrapolar a alçada de um juiz de primeira instância, romper o sigilo da comunicação presidencial, etc. Os mais exaltados partem para a ação direta. Grupos e indivíduos com perfil fascistóide ocuparam a Avenida Paulista desde a quarta-feira 16, dia da nomeação (curiosamente, passaram dias obstruindo a avenida sem nenhuma repressão por parte da PM de Alckmin, sempre tão diligente na tarefa de massacrar manifestações dos trabalhadores para impedir “perturbações da ordem”) para tentar impedir a manifestação de defensores do PT marcada para a sexta-feira dia 18, sendo removidos somente na manhã da própria sexta-feira.
A nosso ver, tudo isso confirma a posição de que este movimento pelo impeachment, tal como atualmente colocado, não deve ser apoiado pela esquerda, não representa os trabalhadores. Mas mais do que o fato de ser claramente ilegal, o critério decisivo para não apoiar e não participar desse movimento é o seu conteúdo de classe, político e ideológico, os projetos que ele favorece. A orquestração entre o judiciário, mídia e grupos organizados de direita e ultra direita confere um caráter abertamente anti operário, anti popular e anti esquerdista a esse movimento pelo impeachment.
A oposição de direita sente o momento como favorável e está na ofensiva (ou simplesmente aposta na desestabilização total do país e no quanto pior melhor). O movimento pelo impeachment e pela “despetização” do Estado de modo geral visa não apenas varrer a burocracia petista do controle do Estado, mas também varrer as poucas conquistas sociais que restam, intensificar a exploração e a opressão, dar espaço aos discursos de ódio, etc. O governo Dilma somente ressitiu ao longo de 2015 porque a grande burguesia estava dividida em relação à sua permanência. Uma parte da classe patronal vinha tendo paciência com o governo devido à falta de alternativa melhor do seu ponto de vista de classe, mas essa paciência está se esgotando e cada vez mais segmentos da burguesia abandonam essa posição. Entretanto, um substituto ideal ainda não foi gestado (como demonstra a rejeição de Alckmin e Aécio nas manifestações), e por isso a crise pode se arrastar por um certo período até uma definição. Ou mesmo, o PT recobrar forças para se manter no governo até 2018, como demonstrou o dia 18 de março.
Não vai ter golpe, já teve
Apesar desses elementos de crescimento da direita e ilegalidades, seguimos afirmando que não se trata de golpe e de ditadura, visto que não haverá mudança de regime. O regime político atual já é repressivo o suficiente, sem a necessidade de uma ditadura formal. A ditadura patronal e policial já come solta no país faz anos, antes e durante os governos do PT. Por isso toda a histeria petista contra o “golpe” não é uma defesa genuína da democracia no sentido real, das liberdades demcráticas para os trabalhadores, que já são reprimidos todos os dias. É puro desespero para permanecer nos seus cargos.
O regime democrático burguês, as instituições, o legislativo, o judiciário, as forças armadas, etc., não estão em crise, estão em pleno funcionamento. A falta de iniciativa do governo do PT e a sua condição de refém das exigências cada vez mais nefastas da burguesia (como o ajuste fiscal, a Lei Antiterrorismo, etc.) não significa que o conjunto do regime, para além do gerente de plantão, não tenha forças e condições de impor medidas contra os trabalhadores, a repressão, etc. Não será necessário um golpe, fundamentalmente, porque não há um inimigo a ser debelado pela força, não há mobilização dos trabalhadores, não há um projeto alternativo que precise ser derrotado.
Violar algumas leis não significa necessariamente um golpe ou uma ditadura. Caso se chegue ao ponto do impeachment, Dilma será removida, ao final, por um processo conduzido legalmente pelos poderes da República, o Legislativo e o Judiciário, sem o uso das Forças Armadas, sem quebra da institucionalidade. Não será necessário fechar o Congresso, suspender as garantias individuais, revogar a Constituição, instalar uma ditadura de fato, etc. O regime político seguirá sendo formalmente democrático. Será no máximo um golpe à paraguaia, como o que derrubou Fernando Lugo em 2012.
Se houve algum golpe, este já foi dado pelo PT, o estelionato eleitoral que fez imensas camadas da população acreditarem que teriam um governo que lhes seria favorável. No final das contas, esse governo seguiu sendo tão anti democrático e anti popular como qualquer governo burguês. Os instrumentos do Estado de direito não precisarão ser alterados para favorecer os interesses da burguesia, que não precisará de um AI 5. Os instrumentos repressivos do Estado já estavam sendo usados contra os trabalhadores durante o governo do PT e seguirão sendo. Evidentemente, o PT vai lutar desesperadamente de todas as formas contra essa manobra para lhe tirar o governo, e uma das formas é difundir uma histeria contra o “golpe”, como se impedir a prisão de Lula fosse uma questão de honra da “democracia”.
No momento em que o PT apela para que os trabalhadores o defendam, em nome da “democracia”, é importante perguntar: onde estavam o PT e a “democracia” para impedir que Rafael Braga fosse preso por portar produto de limpeza numa manifestação? Onde estavam o PT e a “democracia” para impedir as mortes de Amarildo, Cláudia e tantos outros milhares de trabalhadores e jovens pobres, pretos e periféricos vítimas do genocídio policial? Onde estavam o PT e a “democracia” para impedir o genocídio dos índios guaranis nas mãos dos jagunços do agronegócio? Onde estavam o PT e a “democracia” para impedir a desocupação do Pinheirinho em 2012? Onde estavam o PT e a “democracia” em todas as greves que foram traídas, sabotadas, desconstruídas, boicotadas, esvaziadas, impedidas sequer de começar, desde a histórica greve dos petroleiros de 1995 até a dos professores de São Paulo em 2015?
A resposta a todas essas perguntas é a mesma, o PT estava governando para a burguesia: destinando 45% da arrecadação federal para a dívida pública, ou seja, para o bolso de especuladores e assaltantes engravatados, visto que se trata de uma dívida fraudulenta. O PT estava destruindo a já precária proteção da legislação ambiental com o novo código florestal, permitindo que o agronegócio destrua livremente a fronteira agrícola e extermine indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses. O PT estava concedendo isenções fiscais para montadoras de automóveis. O PT estava fazendo acordos com empreiteiras. Enquanto os trabalhadores precisaram de organização, de projeto, de luta, o PT estava favorecendo a classe dominante, já por 4 mandatos presidenciais.
E sim, o PT estava chafurdando na corrupção. É preciso dizer sem medo que o PT se corrompeu, e não ceder à chantagem de que a “luta contra a corrupção é pauta da direita”. Essa desculpa foi muito conveniente, durante muitos anos, para uma “esquerda” que rouba. Essa “esquerda” que rouba não representa os trabalhadores, não é esquerda. Durante muitos anos, na sua época de organização classista e combativa, o próprio PT lutou contra a corrupção nos governos burgueses, como uma de suas pautas. Foi muito citada nos últimos dias a frase do próprio Lula em 1988, de que no Brasil, pobre que rouba vai preso e rico vira ministro...
O PT pode espernear o quanto quiser para ocultar o fato de que já se passou para o outro lado da trincheira de classe. E não tem mais volta. O próprio PT destruiu os seus vínculos orgânicos com a classe trabalhadora, ao aparelhar e burocratizar as organizações dos trabalhadores, como sindicatos e movimentos sociais. O PT os usou-os para bloquear as lutas, esterilizar os processos microscópicos de resistência em cada local de trabalho, em cada bairro, cada espaço de disputa ideológica. O PT precisa apelar para setores mais amplos do que a burocracia partidária para que o defendam, pessoas que não estão na militância organizada, mas que têm simpatia pelas causas históricas da esquerda, exibindo o epantalho do “golpe” da direita e da ditadura como ameaça, quando na verdade ele próprio exerce o governo numa “democracia” extremamente autoritária e hostil aos trabalhadores.
A comparação com 1964 é bastante ilutrativa. Onde estava Jango às vésperas do golpe? No comício da Central do Brasil, no Rio de janeiro, em 13 de março, assumindo a plataforma das Reformas de Base demandadas pela mobilização popular. Onde está Dilma em 2016, às vésperas do impeachment? Assinando a Lei Anti terrorismo, criminalizando os movimentos sociais. Essa comparação deveria encerrar a discussão em relação ao “golpe”.

Cenas dos próximos capítulos
Quando dissemos que o PT destruiu os vínculos orgânicos com a classe trabalhadora, a sua relação com a base dos trabalhadores por meio dos movimentos sociais organizados, sindicatos, etc., o menor dos problemas é o que isso representa para o próprio PT (o fato de que estejam nas diretorias e nas cúpulas dos movimentos sociais ainda confere recursos e poder de mobilização ao partido, como vimos no dia 18). O maior dos problemas é que a gestão do PT destruiu os vínculos de organização e identidade da classe em si mesma. Os trabalhadores não apenas não se identificam com a direção petista dos movimentos sociais, mas não se identificam com os próprios movimentos. Não rejeitam somente os petistas na direção dos sindicatos, rejeitam os próprios sindicatos.
As décadas de gestão do PT mudaram a forma como a grande massa dos trabalhadores enxergam os sindicatos, principalmente, e o restante dos movimentos sociais, em menor medida. Deixaram de ser vistos como organizações da classe, como organizações suas, espaços de resistência e construção coletiva. Passaram a ser vistos como trampolins para que os dirigentes petistas saiam candidatos ao parlamento e ao executivo. E uma vez eleitos, esses dirigentes vão fatalmente se corromper. É assim que os trabalhadores vêem os “sindicalistas”, como uma espécie de profissão. Os militantes da oposição de esquerda anti governista nos sindicatos ainda são chamados de “vocês do sindicato” pelos trabalhadores de base, como se fossem da mesma turma. Enfrentam a mesma rejeição que o PT, a mesma dificuldade para organizar os trabalhadores.
Os trabalhadores rejeitam os próprios instrumentos de organização por onde poderiam construir uma saída classista para a crise do país. Sem as organizações nos locais de trabalho, CIPAs, comissões de fábrica, representantes de base, grupos clandestinos de trabalhadores, com um caráter independente e combativo, para lutar contra a ditadura da patronal nos microcosmos da reprodução social, não será possível construir um movimento dos trabalhadores. Da mesma forma, esse movimento não será possível sem organizações do mesmo tipo que agrupem os trabalhadores a partir da base nos bairros, no campo, nos movimentos de mulheres, negros, LGBTs, juventude, estudantes, coletivos culturais, etc.
Ao que parece, conforme saem os números das manifestações do dia 18 e a repercussão positiva desta nos círculos de debate, um amplo setor de pessoas com simpatias de esquerda cedeu a mais essa enésima chantagem para defender o indefensável. Deram uma sobrevida ao PT como alternativa de esquerda. Entendemos isso como um erro grave, pois o PT não servirá como instrumento de luta contra os ataques que estão por vir. Será preciso construir outros instrumentos, outros coletivos, outros movimentos, outros fóruns. Quanto antes a esquerda se diferenciar do PT, melhor para a construção desses novos instrumentos.
Não será uma tarefa fácil. Os trabalhadores estão massivamente insatisfeitos com o governo do PT, em particular depois da traição do discurso da última campanha eleitoral e o subsequente aprofundamento da crise econômica, do ajuste fiscal, etc. Em alguns setores importantes há lutas e mobilizações, mas de forma atomizada e insuficiente para conter os ataques da patronal de modo geral e enfrentar a crise. Há ódio ao PT e em menor medida ao PSDB, e grande rejeição dos políticos em geral. Reina a desorganização, a falta de confiança nas entidades, sindicatos, associações, movimentos, partidos, por conta do exemplo desastroso da trajetória do PT e da CUT. A classe está dispersa, desprovida de organismos, identidade, ideologia e projeto.

Se não é nem impeachment nem defesa do governo, o que é?
A sensibilidade e a paixão “esquerdista” de milhares de pessoas foi capturada pelo projeto de defender o PT e foi perdida (ao menos temporariamente) para o projeto urgente de reconstruir uma referência de esquerda para o país. A esquerda anti governista desapareceu na irrelevância nos dias mais agudos da crise atual, desde o dia 4/03, data da condução coercitiva de Lula, até o retorno triunfal (do ponto de vista da burocracia) do apoio ao PT nas ruas no dia 18/03. Com sua incompetência e insignificância, a oposição de esquerda não foi capaz de organizar um ato, uma manifestação, uma declaração, um acontecimento sequer minimamente digno de nota durante todos esses dias. Está marcando um ato para o distante 1º de abril, dia da mentira. A esquerda anti governista se converte em piada pronta...
A situação é grave, ou mesmo dramática, do ponto de vista de um projeto dos trabalhadores. Não será resolvida por meio de uma palavra de ordem genial, como dissemos na parte 2. As táticas devem ser o ponto de chegada, e não o ponto de partida, e as palavras de ordem de um programa de reivindicações devem ser o resultado de um processo real de construção, que seja a síntese mais avançada do movimento em seu processo de relançamento. O que podemos alinhavar por enquanto são algumas orientações gerais para a reconstrução do movimento e de uma perspectiva dos trabalhadores:
- independência de classe: nem se somar ao atual movimento pelo impeachment, nem defesa do governo. Não ceder à tentação superestruturalista, imediatista, oportunista, de surfar em alguma dessas ondas, fazendo unidade com os inimigos de classe (que são a oposição burguesa e o PT), com base em miragens eleitorais ou acordos de cúpula. É preciso resgatar o sentido de identidade de classe, como fundamento para um movimento futuro que vise superar não apenas a crise atual, mas o próprio sistema capitalista, e isso só é possível sem depositar nenhuma confiança em agentes substitutos, sejam eles quais forem. A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores;
- unificação das lutas: todas as greves, lutas e mobilizações têm que ser apoiadas, divulgadas, amplificadas. É preciso que os trabalhadores reaprendam que a luta de cada setor da classe beneficia a todos, e que as lutas conjuntas têm muito mais chances de serem bem sucedidas. Para isso, é preciso unificar os calendários das campanhas salariais, as assembleias, os atos, os piquetes, etc., de forma a potencializar as forças no enfrentamento com a patronal e o Estado;
- unidade da esquerda: construir frentes, fóruns, blocos, espaços que agrupem as organizações e ativistas hoje dispersos, de forma que os participantes das lutas tenham um ambiente comum onde possa ser discutida a linha política e os rumos da luta. Realizar encontros, plenárias, congressos, a partir da base e dos setores em luta, convergindo para encontros nacionais, de forma orgânica e representativa do que houver de mobilização. Nenhum dos partidos ou centrais sindicais hoje existentes tem a capacidade de propiciar sozinhos esse ambiente. Temos que criar uma estrutura acima e superior a todos eles, que possa proporcionar a síntese necessária das lutas em curso e o seu programa real, nascido do solo da luta de classes (e a partir daí desenvolver as bandeiras e palavras de ordem). Esse agrupamento pode ter uma expressão eleitoral para projetar as lutas (e não o contrário, como hoje acontece, em que os partidos se servem da luta de classes para se projetar nas eleições) e uma expressão sindical que sirva como referência de organização (e não, como acontece hoje, chapas de oposição que só aparecem na época das eleições sindicais e campanhas salariais, sem funcionamento regular e vida orgânica) para os enfrentamentos gerais e imediatos. Para o grave momento atual, temos que contar com o maior número de partidos, organizações políticas, correntes sindicais, movimentos e coletivos de luta pela terra e por moradia, movimentos e coletivos de juventude, movimentos e coletivos de mulheres, negros e LGBTs, grupos culturais, intelectuais, ativistas individuais, etc. Todos têm que dar sua contribuição e construir democraticamente um movimento políticos dos trabalhadores;
- organização de base: retomar o trabalho de base que esteve presente na fundação do PT, com a formação de organizações por local de trabalho, de estudo e de moradia. Oposições sindicais, coletivos, associações, etc., todos os espaços e formas de organização possíveis têm que ser aproveitados para estabelecer o diálogo com os trabalhadores. Em geral a esquerda erra por colocar o carro na frente dos bois: começa querendo convencer os trabalhadores do seu partido ou central sindical (numa disputa acirrada e dispersiva com as demais correntes), antes que estejam devidamente convencidos e consolidados em uma frente de luta, um coletivo de base de qualquer natureza. Temos que percorrer o caminho inverso, atraindo os trabalhadores, discutindo suas demandas e questões imediatas, estabelecendo uma relação de confiança, para que seja possível elevar gradualmente sua consciência dessas demandas imediatas em direção às gerais;
- disputa ideológica: enfrentar o discurso da direita que tem ganho espaço na esteira da decomposição do PT, contrapondo a defesa da luta dos trabalhadores e dos setores oprimidos e denunciando as contradições do capitalismo e seus defensores, usando todos os meios de comunicação, desde panfletagens de massa até as redes sociais da internet. Temos que ter a consciência de que estamos num momento em que algo do porte do que foi o PT na sua origem tem que ser construído de novo, do zero. Não necessariamente um partido político eleitoral ou uma central sindical, mas um processo por meio do qual a classe possa se colocar como sujeito histórico. O problema fundamental é que toda a disputa em torno da permanência ou não do PT no governo concentra a discussão no controle do Estado. E enquanto se discute o Estado, não se discute o capital, a mais valia, a exploração, a lei do valor e o fetichismo que seguem governando nossas vidas diariamente. Precisamos construir um novo movimento político dos trabalhadores, e ao mesmo tempo precisamos construir uma nova consciência radicalmente anticapitalista.


19/03/2016

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