28.12.11

A ditadura do microfone nas assembleias de bancários em São Paulo


Na maior base da categoria bancária em todo o país, com mais de 110 mil trabalhadores, vivemos a ditadura do microfone. A diretoria do sindicato, da corrente Articulação/CUT, não permite que pensamentos divergentes sequer se manifestem em assembléia. Procedimentos elementares da democracia são diariamente pisoteados no nosso movimento.

Para começar, as assembléias nem sequer são diárias, acontecem quando a diretoria quer. São marcadas em dias alternados, no menor número possível, para restringir ao máximo os espaços de debate.

As assembléias acontecem na quadra dos bancários, no centro da cidade, com credenciamento controlado, sendo que a burocracia pode trazer “convidados”, “observadores” e pessoal de “apoio” a seu critério, mas não admite que militantes de outras categorias possam entrar para nos apoiar e contribuir. Há dias em que é até mesmo proibido panfletar dentro da quadra! Só pode circular a Folha Bancária, jornal do sindicato, no qual aliás, só a diretoria escreve.

Dentro da quadra, há um palco em que se instala a mesa, cujo acesso é bloqueado por um batalhão de seguranças contratados. Os bancários devem ficar afastados, como uma platéia, cuja única função é levantar o crachá para votar.

A diretoria se instala como mesa, ignorando o preceito básico de que, em qualquer fórum dos trabalhadores, a mesa deve ser eleita pelo plenário, com composição proporcional entre as correntes e representação da base.

Do alto do palco, a diretoria se põe a dar informes infindáveis, sem qualquer conteúdo político ou organizativo, exaltando sua ação na greve, que, na verdade, não existe.

O formato da assembléia é totalmente controlado pela burocracia. Não são acatadas propostas de encaminhamento ou questões de ordem. As votações que acontecem são aquelas que a diretoria determina. A mesa determina se vão haver ou não inscrições, se vão haver ou não votações, etc.

Raramente são abertas inscrições, e quando se abrem, dezenas de burocratas se inscrevem. Com isso, em face de um número inviável de falas, a mesa propõe o "sorteio" de um número limitado de inscrições, para "garantir as falas". Invariavelmente os burocratas têm mais falas e sempre falam por último.

Na maior parte dos casos, a mesa “concede” falas para as correntes/centrais sindicais/partidos, como se fosse um gesto de boa vontade, e ignorando completamente os bancários que não estão vinculados a nenhuma corrente, que são a maioria.

Lamentavelmente, algumas correntes que se reivindicam oposição, como MNOB e Intersindical, quando têm o direito à fala, não o usam para denunciar esse formato de assembléia e exigir falas para a base. Usam como palanque para agitar as palavras de ordem que são prioridade para a corrente/partido naquele momento. Não se confrontam com a burocracia para propor medidas que possam romper com o roteiro da burocracia e realmente democratizar o movimento.

Quando a oposição consegue falar e fazer propostas para melhor organizar a greve, as propostas não são colocadas em votação. Quando há votação de alguma proposta organizativa, não é dado tempo de fazer defesas, mas a diretoria fala contra as propostas pelo tempo que quiser. Quando se permite fazer defesas, a mesa interpreta as propostas a seu modo e embaralha tudo numa fala só para confundir os bancários, não dando tempo de explicar os detalhes. E o cúmulo do absurdo, há propostas que são votadas, mas que não são encaminhadas pela diretoria!!

Quando é votada a continuidade ou não da greve, a diretoria dá por encerrada a assembléia e desliga o microfone, induzindo à dispersão dos bancários. Com isso, não se discutem as medidas organizativas mínimas para dar força e visibilidade a uma greve, como organização dos piquetes, atos, passeatas, panfletagens, etc.

Para completar, na hora de encerrar a greve, a burocracia marca assembléias separadas por banco (BB, CEF e privados, em locais diferentes), no horário das 7 da noite (começando às 8 ou mais), em acordo prévio com a direção dos bancos, que manda os gerentes e fura-greves em massa para votar a favor das propostas rebaixadas, que a burocracia defende desavergonhadamente como "vitória".

Esse tipo de assembléia somente acontece devido ao esvaziamento da vida política do sindicato, que não realiza assembléias preparatórias, plenárias, reuniões de delegados sindicais, etc., de modo que a base se distancia cada vez mais da entidade. Nos bancos privados (85% da base) não há qualquer tipo de trabalho de organização, de modo que os trabalhadores não podem participar das greves e atividades sindicais sem sofrer demissão ou retaliação, e os poucos que participam são voto cativo da diretoria.

Os funcionários dos bancos públicos, que já presenciam essa farsa há anos, odeiam a diretoria e se dessindicalizam em massa a cada campanha salarial. Os que ainda aderem à greve o fazem por puro senso de dignidade, mas em número cada vez maior se recusam a comparecer ao verdadeiro "circo" que são essas assembléias convocadas pela burocracia.

Isso só vai mudar quando os bancários tomarem de fato a luta em suas mãos e se tornarem protagonistas do movimento. Essa mudança exige um longo processo de organização e conscientização dos trabalhadores, que deve acontecer o ano inteiro, não apenas nas campanhas salariais.

É o que nós do Coletivo Bancários de Base estamos propondo. Durante a greve exigimos democracia nas assembéias, exigimos o direito à fala para todos os bancários, exigimos respeito às decisões coletivas. E apresentamos o projeto da Frente Nacional de Oposição Bancária, que identificamos como um sindicalismo comprometido com a base e as lutas dos trabalhadores.

Somente juntos poderemos derrotar os patrões, os governos e seus servidores na CUT e outras centrais governistas!

Daniel Menezes Delfino
Coletivo Bancários de Base – São Paulo
Frente Nacional de Oposição Bancária
09/10/2011

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