28.12.11

Em defesa do voto nulo



A democracia burguesa já está em vigor no Brasil há mais de vinte anos. De dois em dois anos, acontecem eleições, seja para os cargos municipais, seja para os cargos estaduais e federais, nas quais todos os brasileiros de determinada idade são obrigados a votar. Os partidos possuem tempo de exposição gratuito nos meios de comunicação e contam com fortunas para fazer campanha.

Gerações de brasileiros foram educadas a ver nas eleições a principal ou única forma de melhorar sua vida, votando e fazendo campanha pelos melhores candidatos. Parcelas mais conscientes e mobilizadas da classe trabalhadora chegaram a acreditar que o PT seria capaz de fazer transformações profundas na estrutura da sociedade, mesmo que não tivessem consciência precisa do que seriam essas transformações e de que melhorias verdadeiras só podem vir através de uma ruptura revolucionária em direção ao socialismo. Mesmo assim, votavam no PT, e acreditavam, e esperavam...

Passados trinta anos desde as greves do ABC e chegando ao fim o segundo mandato de Lula, a trajetória do PT acabou servindo para ensinar aos trabalhadores que os partidos e também os sindicatos servem para disputar eleições, conseguir cargos, arranjar uma “boquinha”, se dar bem, etc. O máximo que se pode conseguir é uma bolsa-esmola para os pobres aqui, um aumento do salário mínimo ali, e admite-se até mesmo que o PT também rouba (é o “rouba mais faz” dos pobres) e está pronto o discurso: nunca antes na história deste país a classe trabalhadora esteve tão bem!

O dever dos revolucionários é construir outra narrativa, que desfaça essas décadas de confusão ideológica e ensine aos trabalhadores que só a luta muda a vida. Não se trata de decretar no dia 3 de outubro de 2010 a greve geral insurrecional para derrubar o governo Lula, mas da construção de um movimento político da classe, totalmente independente em relação ao Estado, que realize uma disputa ideológica profunda pelo socialismo.

Os partidos operários viraram as costas para a tarefa de construir esse movimento, pois nem sequer a unificação em uma central sindical ou numa frente eleitoral conseguiram realizar, priorizando a sua auto-construção em detrimento da auto-organização e elevação da consciência da classe. Tais partidos se negam a romper com o eleitoralismo e construir uma outra forma de ação política, em que a classe se ponha como sujeito histórico. Recusam-se também a enxergar os cerca de 20 a 30 % de eleitores que a cada eleição votam branco, nulo ou se abstém, pelos mais diversos motivos, inclusive por não acreditar mais no sistema, deixando de incorporá-los à luta.

Não podemos ficar paralisados por esses erros e temos o dever de dizer a verdade aos trabalhadores. Só a luta muda a vida, e nas eleições do Estado burguês o voto classista e socialista só pode ser o voto nulo.

Daniel Menezes Delfino
18/07/2010

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