Os sindicatos surgiram no século XIX como instrumento defensivo de organização dos trabalhadores, com a função de negociar com a classe proprietária o preço da venda da mercadoria força de trabalho fornecida pelos assalariados, ou seja, o valor do salário e as condições de trabalho. No século XX o potencial dos sindicatos de servir também como ponto de apoio para a luta por um projeto de sociedade próprio dos trabalhadores acabou não se confirmando, devido a uma série de derrotas e traições, até que chegamos ao ponto em que as instituições sindicais se tornaram instrumentos auxiliares da administração do capitalismo, facilitando o controle da classe patronal sobre os trabalhadores.
Em países como o Brasil essa adaptação dos sindicatos ao sistema se aprofundou até transformá-los em parte do próprio aparato do Estado, através do financiamento estatal (imposto sindical) e regulamentações legais. Sem romper com essa vinculação, as correntes que surgem no movimento sindical com a proposta de resgatar a luta e a organização dos trabalhadores acabam regredindo e se convertendo numa nova safra de burocratas, com interesses diferentes daqueles da classe a quem deveriam representar e alinhados aos dos patrões.
É o cado da Articulação/PT, que hoje dirige o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Além de não cumprir o papel fundamental de um sindicato, que é o de organizar e mobilizar a categoria para a resistência cotidiana nos locais de trabalho e as lutas gerais, campanhas salariais, etc., esse grupo transformou a entidade numa espécie de “conglomerado empresarial”, com uma série de ramificações como a Bangraf (parque gráfico com capacidade industrial equivalente ao de um jornal de grande porte, usado para imprimir materiais do PT e da CUT usados no país inteiro); a Bancredi (cooperativa de crédito que faz empréstimos para bancários, o que representa no mínimo um seríssimo conflito de interesse para uma instituição que deveria ter como finalidade lutar por aumento de salários); e a Bancoop (cooperativa habitacional envolvida em escândalo policial pela não entrega de imóveis pagos pelos cooperados e desvio de dinheiro para campanhas eleitorais do PT).
Esse processo de “privatização” do sindicato dará mais um passo com a criação da Faculdade dos Bancários. Com esse projeto, a Articulação dará mais uma forcinha aos patrões, pois a formação profissional dos trabalhadores bancários, que deveria ser de responsabilidade das empresas, será bancada pelos próprios trabalhadores. A demanda por formação transformou as faculdades particulares num negócio lucrativo, o que explica a proliferação das “uni-esquinas”, verdadeiras fábricas de diplomas que ludibriam os estudantes-clientes com a promessa de uma solução individual para seus problemas e de “sucesso na vida”.
O nosso sindicato vai se tornar mais um concorrente nesse filão da educação particular, ainda que anunciem cinicamente a concessão de descontos para os “clientes” que forem membros da categoria bancária. Aquilo que perderem com a concessão de desconto, os atuais dirigentes vão ganhar politicamente, ao usar a sala de aula para doutrinar ideologicamente os trabalhadores segundo a sua linha de pensamento e se perpetuar no controle da entidade.
Não nos iludamos: a educação superior gratuita e de qualidade para todos é um dever do Estado. E o dever dos sindicatos é sim auxiliar na formação dos trabalhadores, mas na formação teórica, no conhecimento dos seus direitos, da sua história, das suas lutas, de como foi a ação coletiva da categoria e da classe que trouxeram todas as conquistas que ainda mantemos e poderão conquistar mais.
Daniel Menezes Delfino
06/01/2010
06/01/2010
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