Os partidos operários habilitados a lançar candidatos e as organizações socialistas revolucionárias partem de um pressuposto equivocado quando consideram que as eleições são o momento mais apropriado para discutir politica com os trabalhadores (em geral se justificam com citações do "Esquerdismo..." de Lênin, reproduzindo o mais puro método da escolástica medieval), pois, por mais radical que seja o seu discurso (e há programas eleitorais que são belíssimas peças literárias de radicalismo socialista), caem exatamente na armadilha da burguesia, que consiste em limitar a politica ao ato de votar.
Se os revolucionários não conseguem disputar a consciência dos trabalhadores para a necessidade de uma ruptura revolucionária com o capitalismo, não será nas eleições que vão conseguir. É como acreditar que se vai conseguir, na última rodada do campeonato, tirar uma diferença de vinte gols de saldo em favor da burguesia, no campo do adversário, com suas regras e o juiz pago por ele. Aceitando a falsa disputa desse jogo perdido, tentam encobrir a ausência da verdadeira disputa de consciência que não é feita durante todo o restante do tempo.
Os revolucionários precisam parar de fazer politica pensando no próprio umbigo, ou seja, parar de disputar a consciência dos militantes e ativistas que gravitam em torno das outras organizações, no interior do estreito universo da vanguarda, e começar a disputar a consciência da maioria da classe, que aliás vai votar é no PT. A obsessão inútil por uma tática eleitoral “mais correta”, por uma opção de voto que permita fazer uma campanha de perfil “mais revolucionário” sobre uma diminuta vanguarda, acaba por desviar o foco da verdadeira tarefa fundamental, que é a de organizar o conjunto da classe trabalhadora como força social portadora de um projeto socialista oposto ao da burguesia.
Se há trabalhadores dispostos a votar nulo, é um desperdício de esforço tentar convencê-los a votar em algum partido operário, e vice-versa, pois estes de alguma forma já percorreram metade do caminho. A partir de qualquer uma das duas posições (ou mesmo de ambas, basta um mínimo de criatividade e coragem), é possível dialogar com esses trabalhadores e, mais importante, com o conjunto da classe para mostrar que, para além do voto, o que transforma a realidade é a organização, a consciência e a luta. Por isso, não assino o texto da maioria, que busca uma precisão supérflua, artificial e divisionista, mas também assino o texto dos companheiros que defendem o voto nos partidos operários e o dos companheiros que defendem o voto nulo, pois concordo com os argumentos de ambos.
Daniel Menezes Delfino
18/07/2010
18/07/2010
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