(Comentário sobre o filme “Dragão Vermelho”)
Nome original: Red Dragon
Produção: Estados Unidos, Alemanha
Ano: 2002
Idiomas: Inglês
Diretor: Brett Ratner
Roteiro: Thomas Harris, Ted Tally
Elenco: Anthony Hopkins, Edward Norton, Ralph Fiennes, Harvey Keitel, Emily Watson, Mary-Louise Parker, Philip Seymour Hoffman
Gênero: crime, thriller
Fonte: “The Internet Movie Database” – http://www.imdb.com/
De vez em quando, os executivos de Hollywood cometem grandes bobagens. Na ânsia por faturar alguns milhões de dólares com o prestígio de filmes importantes, armam-se continuações fajutas, que não contam com o mesmo impulso criativo autêntico do original. Criam-se verdadeiros frankensteins cinematográficos, filmes de gabinete, onde um produtor contrata um diretor, um roteirista e um elenco e os coloca no liquidificador dos estúdios, na esperança de que dessa alquimia surja algo tão lucrativo quanto o filme que está sendo imitado. O resultado é o desastre, como bem sabem os aprendizes de feiticeiro. “Hannibal” é um desses casos. Junta-se um Ridley Scott preguiçoso com um Anthony Hopkins canastrão e um Gary Oldman patético para produzir um “trash” vexaminoso. Um filme que fica a anos-luz de distância do já clássico “Silêncio dos Inocentes”.
De vez em quando, os executivos consertam a bobagem que fizeram. Uma série que parecia morta e enterrada por um segundo filme horroroso é ressuscitada e volta a ser interessante por força de um terceiro filme que retoma o espírito do original. “Dragão Vermelho” é um desses casos. Junta-se um diretor regular e esforçado como Brett Ratner, o sempre ótimo Eduard Norton, um relaxado Anthony Hopkins, um competente elenco de apoio com Harvey Keitel, Emily Watson, Ralph Fiennes e Phillip Seymour Hoffman e tem-se um excelente suspense policial.
Claro que depois do prejuízo causado por “Hannibal”, fica difícil fazer qualquer comparação com o filme original. O canibal foi transformado em personagem principal da série. É como se os produtores quisessem dar mais um pouco de Hannibal Lecter para saciar a sede de maldade do público. Mas a idéia por trás de “Dragão Vermelho” não é essa. O filme é baseado no primeiro livro de Thomas Harris, o autor dos “best sellers” em que se basearam os outros dois filmes, apesar de ser o terceiro a ser filmado. Se bem que na verdade trata-se de uma refilmagem, pois o mesmo livro foi filmado por Michael Mann em 1986. Tentou-se vender este “Dragão Vermelho” como sendo o filme que conta a história de como o canibal Hannibal foi preso.
Mas a idéia também não é essa. O dr. Lecter é preso logo no início do filme. A situação a ser explorada é praticamente a mesma de “Silêncio dos Inocentes”, em que o psiquiatra psicopata colabora com a polícia para ajudar a elucidar os crimes de outro “serial killer”. A diferença é que se trata do próprio policial que o prendeu. Uma das teses do dr. Lecter sobre o assassino é de que ele está evoluindo, está aprendendo com seus crimes, tornando-se mias letal e perfeito entre uma carnificina e outra. Podemos aplicar a tese para o próprio Thomas Harris.
O conceito do psiquiatra-psicopata-que-auxilia-um-policial estava ainda em desenvolvimento nesse “Dragão Vermelho”, chegando à sua elaboração mais perfeita somente no livro seguinte, que deu origem ao “Silêncio dos Inocentes”. O primeiro livro, que é o terceiro filme, é um ensaio para a verdadeira obra-prima. Um ensaio que já revela excelentes qualidades, mas ainda não está completa.
Talvez o que falte a esse “Dragão Vermelho” para concorrer com seu primo mais famoso seja um pouco da complexidade psicológica que há em “Silêncio dos inocentes”. O autor encontrou um mote genial, mas ainda não o desenvolveu plenamente. O dr. Lecter não analisa o policial que o prendeu como faz com a agente Sterling, que viria consultá-lo depois. A relação entre os dois não é tão bem desenvolvida. Não é tão fundamental para a resolução da trama, não é tão catártica quanto seria para a agente Sterling.
O que leva o policial ao Dragão Vermelho do título não é uma sofisticada sutileza psicológica, conforme a expectativa do espectador deseja. É um detalhe mais policialesco, detetivesco, convencional, que não nos revela meandros profundos e sombrios da alma humana. Não entrega exatamente o que prometia. Mas em compensação traz um bônus, que é a nervosa relação que se desenvolve entre os personagem de Ralph Fiennes e Emily Watson.
A fórmula ainda estava em maturação, mas já era poderosa. Trata-se ainda de um ensaio, mas nem por isso o espectador sai ileso do cinema. O “Dragão Vermelho” pode não ser um competidor à altura do “Silêncio dos inocentes”, se se quiser saber qual dos dois filmes é o melhor. Mas trata-se mais de um caso de verdadeira continuação, de relação autêntica entre dois argumentos, do que de uma continuação caça-níqueis daquelas a que estamos habituados.
Daniel M. Delfino
19/11/2002
De vez em quando, os executivos consertam a bobagem que fizeram. Uma série que parecia morta e enterrada por um segundo filme horroroso é ressuscitada e volta a ser interessante por força de um terceiro filme que retoma o espírito do original. “Dragão Vermelho” é um desses casos. Junta-se um diretor regular e esforçado como Brett Ratner, o sempre ótimo Eduard Norton, um relaxado Anthony Hopkins, um competente elenco de apoio com Harvey Keitel, Emily Watson, Ralph Fiennes e Phillip Seymour Hoffman e tem-se um excelente suspense policial.
Claro que depois do prejuízo causado por “Hannibal”, fica difícil fazer qualquer comparação com o filme original. O canibal foi transformado em personagem principal da série. É como se os produtores quisessem dar mais um pouco de Hannibal Lecter para saciar a sede de maldade do público. Mas a idéia por trás de “Dragão Vermelho” não é essa. O filme é baseado no primeiro livro de Thomas Harris, o autor dos “best sellers” em que se basearam os outros dois filmes, apesar de ser o terceiro a ser filmado. Se bem que na verdade trata-se de uma refilmagem, pois o mesmo livro foi filmado por Michael Mann em 1986. Tentou-se vender este “Dragão Vermelho” como sendo o filme que conta a história de como o canibal Hannibal foi preso.
Mas a idéia também não é essa. O dr. Lecter é preso logo no início do filme. A situação a ser explorada é praticamente a mesma de “Silêncio dos Inocentes”, em que o psiquiatra psicopata colabora com a polícia para ajudar a elucidar os crimes de outro “serial killer”. A diferença é que se trata do próprio policial que o prendeu. Uma das teses do dr. Lecter sobre o assassino é de que ele está evoluindo, está aprendendo com seus crimes, tornando-se mias letal e perfeito entre uma carnificina e outra. Podemos aplicar a tese para o próprio Thomas Harris.
O conceito do psiquiatra-psicopata-que-auxilia-um-policial estava ainda em desenvolvimento nesse “Dragão Vermelho”, chegando à sua elaboração mais perfeita somente no livro seguinte, que deu origem ao “Silêncio dos Inocentes”. O primeiro livro, que é o terceiro filme, é um ensaio para a verdadeira obra-prima. Um ensaio que já revela excelentes qualidades, mas ainda não está completa.
Talvez o que falte a esse “Dragão Vermelho” para concorrer com seu primo mais famoso seja um pouco da complexidade psicológica que há em “Silêncio dos inocentes”. O autor encontrou um mote genial, mas ainda não o desenvolveu plenamente. O dr. Lecter não analisa o policial que o prendeu como faz com a agente Sterling, que viria consultá-lo depois. A relação entre os dois não é tão bem desenvolvida. Não é tão fundamental para a resolução da trama, não é tão catártica quanto seria para a agente Sterling.
O que leva o policial ao Dragão Vermelho do título não é uma sofisticada sutileza psicológica, conforme a expectativa do espectador deseja. É um detalhe mais policialesco, detetivesco, convencional, que não nos revela meandros profundos e sombrios da alma humana. Não entrega exatamente o que prometia. Mas em compensação traz um bônus, que é a nervosa relação que se desenvolve entre os personagem de Ralph Fiennes e Emily Watson.
A fórmula ainda estava em maturação, mas já era poderosa. Trata-se ainda de um ensaio, mas nem por isso o espectador sai ileso do cinema. O “Dragão Vermelho” pode não ser um competidor à altura do “Silêncio dos inocentes”, se se quiser saber qual dos dois filmes é o melhor. Mas trata-se mais de um caso de verdadeira continuação, de relação autêntica entre dois argumentos, do que de uma continuação caça-níqueis daquelas a que estamos habituados.
Daniel M. Delfino
19/11/2002
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