O primeiro ano do governo Lula terminou e para muitos isso significou a confirmação de tudo que se temia durante a campanha eleitoral. O PT estava concorrendo às eleições não para modificar qualquer coisa no sistema, mas para mostrar-se o mais apto gestor desse mesmo sistema. Substituir FHC e seu tucanato oligárquico-financeiro não representou nenhuma mudança estrutural. Representou, quando muito, uma simples e superficial mudança estética. Para uma grande massa de militantes, essa descoberta trouxe um choque existencial tremendo. Uma escolha silenciosa se impôs: continuar fiel ao partido ou às próprias convicções? Como continuar usando o rótulo de petista, a camisa petista, a estrela petista, se a cúpula petista fez desses símbolos um indigno pastiche?
Uma maneira possível de continuar petista é aceitar o discurso da cúpula e acreditar que não havia mesmo outra alternativa. Muitos fizeram essa escolha. Acho que na verdade, infelizmente, a maioria. Mas como dizia a letra de uma velha canção de Bob Dilan, quantas vezes pode um homem virar o rosto e fingir que simplesmente não vê? Muitos na verdade já viram, mas preferem não acreditar. Ou ainda, preferem continuar acalentando a esperança, tão bem decantada na campanha eleitoral, de que no futuro tudo vai ser diferente. Na geração dos meus pais, esperava-se o bolo do ministro Delfim crescer para cada um poder tirar sua fatia. Continuamos esperando até hoje. Agora, parece que a geração dos meus filhos vai esperar, “ad infinitum”, o bolo do ministro Palocci. Ou melhor, o bolo não, o “espetáculo do crescimento”. O PT no governo aprendeu bem com a cartilha do tucanato e descobriu que o que verdadeiramente conta no mundo atual é o espetáculo e não a realidade.
Para quem percebe que é impossível continuar sendo integralmente petista, como se não houvesse nenhuma contradição, impõe-se uma séria questão. Onde foi que nós todos erramos? Nós que votamos nos candidatos do PT? Foram eles que nos enganaram ou nós que nos enganamos? Este escriba, sem ser formalmente um petista, porque nunca foi membro do partido, já foi há tempos um eleitor do PT. Fui um petista no sentido, digamos assim, “futebolístico”, de quem torce pelo PT, porque enxergava na força do partido as maiores e melhores possibilidades de mudança para o país. E como deixou expresso em textos anteriores, esperou até tardiamente demais por algum sinal de coerência do governo Lula, que apontasse para uma mudança de rumos.
Como a mudança não veio e a esperança se esfacelou, é hora de juntar os cacos. Onde foi que todos erramos? Considero que a resposta para essa pergunta é na verdade outra pergunta: será que erramos mesmo? Será que o PT está mesmo fazendo algo diferente do que se poderia esperar que fizesse? Será que o programa posto em prática atualmente é assim tão incoerente com a história do partido? Será que a substância sócio-histórica do fenômeno do “petismo” não está na verdade encontrando agora sua plena realização?
Não estou dizendo que o PT já era neoliberal desde o começo, em 1980. Faço uma comparação com a primeira percepção que se teve do governo FHC. Muita bobagem foi dita em torno do problema de se saber se FHC estava sendo fiel ou não ao seu passado de sociólogo e de exilado da ditadura. Na verdade, FHC governou de forma estritamente conseqüente com sua teoria da dependência. Segundo ele, o Brasil é um país estruturalmente incapaz de ter um capitalismo independente e portanto deve se associar e subordinar ao capital estrangeiro. Essa era sua teoria, essa foi sua prática. Somente pode achar que FHC traiu seu passado quem achava que ele fosse marxista. E isso muita gente achava, seja por que não sabe o que é marxismo, seja para demonstrar, por um ato de má fé explícita, através da deserção de FHC, que o marxismo é inviável.
A questão que se coloca portanto em relação ao PT é essa: qual era a sua teoria? Qual era seu programa? O que o PT pretendia exatamente realizar na prática? O PT também era marxista? Faço essas perguntas não apenas no sentido formal de saber o que estava escrito no texto do programa do partido. O qual, obviamente, não era marxista. O programa, tal como é formulado para as eleições, por mais que seja bem intencionado e conseqüente, acaba se tornando apenas mais um instrumento de marketing. Falo do programa no sentido da substância sócio-histórica do petismo. O que é o petismo como fenômeno histórico-social?
O petismo apresenta um grau de consciência de classe equivalente ao dos cartistas ingleses da década de 1830. Os cartistas ainda não sabiam o que era o socialismo e lutavam por reivindicações de tipo sufragista (direito de voto) e trabalhista, como melhores salários e menores jornadas, que pudessem ser atendidas dentro da legalidade burguesa capitalista. Os petistas, um século e meio depois, já não sabiam mais o que era socialismo, pois este já estava esfacelado, e lutavam por reivindicações do mesmo tipo (diretas já...). Esse fenômeno é uma indicação do grau de atraso do capitalismo brasileiro, que muito tardiamente produziu um movimento operário de massa politicamente relevante e com capacidade aglutinadora.
Tão tardiamente que, àquela altura, os governos gerados por esse movimento operário no resto do mundo, como os de tipo soviético, já estavam podres há mais de meio século. E do mesmo modo, a cooptação dos partidos socialistas para a condição de gestores do sistema, sob a fórmula social-democrata, que sequer considera necessário transformar o capitalismo em outro sistema, já tinha uma tradição de um século.
É claro que nas condições do Brasil da década de 1980 o aparecimento de um partido de trabalhadores de massa era um fenômeno capaz de polarizar e atrair demandas e militantes de todos os setores sociais. Lutadores da reforma agrária, do ambientalismo, do movimento negro, feminista, homossexual, etc., todos foram atraídos pelo ímã irresistível do petismo, até porque não havia outra coisa a se fazer. Do mesmo modo, intelectuais e militantes desiludidos com os partidos comunistas tradicionais aderiram ao petismo, na esperança de que o partido encontrasse a fórmula de uma transformação socialista verdadeira.
O resultado é que o petismo ganhou um caráter socialista imposto “de fora”, artificialmente. Queria-se crer que o PT era socialista. Um socialismo vago, espontâneo, improvisado, “à la carte”, ao gosto do freguês. Cada petista tinha sua visão do socialismo do PT e queria acreditar que essa visão era aquela pelo qual o partido iria lutar. Por isso permanecia e permanece no partido, na esperança de que essa sua visão ainda tenha chance e sua luta não tenha sido em vão. Essa disposição fazia a força do petismo e ao mesmo tempo a sua fraqueza, que agora foi cruamente revelada.
O fato é que um socialismo sem clareza de suas condições e tarefas foi assumido tacitamente e a contragosto por Lula e por sua cúpula. Um rótulo inconveniente do qual foi preciso se descartar com presteza logo que o muro de Berlim caiu. Era mais fácil dizer que o socialismo estava morto, como já dizia a social-democracia há um século, do que empreender a gigantesca e necessária crítica do processo soviético. Crítica esta que seria uma pré-condição para retomar a luta no contexto do capitalismo globalizado impulsionado pela violenta ofensiva neoliberal.
Retomar a luta? Mas que luta?
O problema não é portanto saber se o governo Lula e a cúpula do PT está sendo fiel ou não ao programa e à história do partido. O problema é saber se os militantes do partido se deixaram levar pela falsa esperança da política eleitoral burguesa. Não falo como uma crítica aos militantes no sentido pessoal, como se fossem “incompetentes”. Até porque sempre rendi homenagem aos militantes do PT, e faço-o novamente aqui, no sentido de que são a mais importante força transformadora do país, estando a frente de todos os movimentos sociais, ocupações de terra, lutas de minorias, etc.. Falo da armadilha histórica em que se envolveram.
O petismo caiu na armadilha de acreditar que bastava eleger Lula para realizar seu programa. E diluiu-se assim na vala comum dos partidos políticos, organizações mafiosas dedicadas ao mero domínio do aparelho do Estado. O movimento de massas que gerou o petismo e foi impulsionado e aglutinado por ele tornou-se simples acessório de um partido político. A única e honrosa exceção foi o MST, que prosseguiu sendo um movimento autônomo e coerente. Mas até quando? O MST poderá resistir à cooptação, à repressão e à desmobilização?
A grande tragédia da história do Brasil é que nada desmobiliza mais um movimento de massas do que um governo de esquerda. A esquerda não deve ser governo, deve ser uma força de transformação. Quando se torna governo, deixa de ser esquerda. Ser de esquerda é ser a favor das transformações sociais. As forças que lutam pela transformação devem usar partidos, governos, movimentos, igrejas, jornais, o que quer que seja, para transformar a realidade, sem nunca ser um simples governo, um simples partido, uma simples instituição de qualquer natureza. O movimento deve continua sendo movimento, dentro do governo e também fora dele. Temos experimentado conciliações, composições, conchavos, coalizões e alianças há 500 anos. É hora de partir para o confronto.
A falta de imaginação nesse sentido, como já escrevi em outro texto, é vexatória. Se não há condições para o confronto de classe aberto, que se use outra tática. Basta colocar em prática a bandeira tão burguesa e respeitável da ética e do combate à corrupção. Uma campanha maciça e consistente com esse escopo bastaria para defenestrar 99% da elite política tradicional brasileira. Campanha a que a mídia não teria como não aderir e que contaria com o apoio certo da opinião pública. A menos que o PT tenha ido longe demais nas conciliações, composições, conchavos, coalizões, alianças...
O mais triste é que, por um momento, o breve momento de algumas décadas, em que se construiu a gloriosa legenda do petismo, essa fórmula pareceu ter sido encontrada. Aquela fórmula a que aludi, a formula mágica de uma transformação autenticamente socialista, tão ardentemente buscada há séculos e no mundo inteiro, pareceu ter de fato sido encontrada. O caráter aglutinador do petismo, sua abertura para as diferentes tendências, seu apego à tolerância, à democracia, a todas as causas e todas às demandas, o espaço para todas as reivindicações, o apelo à ética, a simpatia de todas as pessoas inteligentes e bem intencionadas, a ressonância dos melhores instintos da alma brasileira, fizeram do partido a própria imagem de uma utopia em construção.
Pena que foi apenas por um momento, por um breve momento. A mágica era puro ilusionismo da Articulação. Desvaneceu-se como fumaça ao enfrentar seu primeiro teste com a realidade. É hora de começar tudo de novo.
Daniel M. Delfino
11/01/2004
Uma maneira possível de continuar petista é aceitar o discurso da cúpula e acreditar que não havia mesmo outra alternativa. Muitos fizeram essa escolha. Acho que na verdade, infelizmente, a maioria. Mas como dizia a letra de uma velha canção de Bob Dilan, quantas vezes pode um homem virar o rosto e fingir que simplesmente não vê? Muitos na verdade já viram, mas preferem não acreditar. Ou ainda, preferem continuar acalentando a esperança, tão bem decantada na campanha eleitoral, de que no futuro tudo vai ser diferente. Na geração dos meus pais, esperava-se o bolo do ministro Delfim crescer para cada um poder tirar sua fatia. Continuamos esperando até hoje. Agora, parece que a geração dos meus filhos vai esperar, “ad infinitum”, o bolo do ministro Palocci. Ou melhor, o bolo não, o “espetáculo do crescimento”. O PT no governo aprendeu bem com a cartilha do tucanato e descobriu que o que verdadeiramente conta no mundo atual é o espetáculo e não a realidade.
Para quem percebe que é impossível continuar sendo integralmente petista, como se não houvesse nenhuma contradição, impõe-se uma séria questão. Onde foi que nós todos erramos? Nós que votamos nos candidatos do PT? Foram eles que nos enganaram ou nós que nos enganamos? Este escriba, sem ser formalmente um petista, porque nunca foi membro do partido, já foi há tempos um eleitor do PT. Fui um petista no sentido, digamos assim, “futebolístico”, de quem torce pelo PT, porque enxergava na força do partido as maiores e melhores possibilidades de mudança para o país. E como deixou expresso em textos anteriores, esperou até tardiamente demais por algum sinal de coerência do governo Lula, que apontasse para uma mudança de rumos.
Como a mudança não veio e a esperança se esfacelou, é hora de juntar os cacos. Onde foi que todos erramos? Considero que a resposta para essa pergunta é na verdade outra pergunta: será que erramos mesmo? Será que o PT está mesmo fazendo algo diferente do que se poderia esperar que fizesse? Será que o programa posto em prática atualmente é assim tão incoerente com a história do partido? Será que a substância sócio-histórica do fenômeno do “petismo” não está na verdade encontrando agora sua plena realização?
Não estou dizendo que o PT já era neoliberal desde o começo, em 1980. Faço uma comparação com a primeira percepção que se teve do governo FHC. Muita bobagem foi dita em torno do problema de se saber se FHC estava sendo fiel ou não ao seu passado de sociólogo e de exilado da ditadura. Na verdade, FHC governou de forma estritamente conseqüente com sua teoria da dependência. Segundo ele, o Brasil é um país estruturalmente incapaz de ter um capitalismo independente e portanto deve se associar e subordinar ao capital estrangeiro. Essa era sua teoria, essa foi sua prática. Somente pode achar que FHC traiu seu passado quem achava que ele fosse marxista. E isso muita gente achava, seja por que não sabe o que é marxismo, seja para demonstrar, por um ato de má fé explícita, através da deserção de FHC, que o marxismo é inviável.
A questão que se coloca portanto em relação ao PT é essa: qual era a sua teoria? Qual era seu programa? O que o PT pretendia exatamente realizar na prática? O PT também era marxista? Faço essas perguntas não apenas no sentido formal de saber o que estava escrito no texto do programa do partido. O qual, obviamente, não era marxista. O programa, tal como é formulado para as eleições, por mais que seja bem intencionado e conseqüente, acaba se tornando apenas mais um instrumento de marketing. Falo do programa no sentido da substância sócio-histórica do petismo. O que é o petismo como fenômeno histórico-social?
O petismo apresenta um grau de consciência de classe equivalente ao dos cartistas ingleses da década de 1830. Os cartistas ainda não sabiam o que era o socialismo e lutavam por reivindicações de tipo sufragista (direito de voto) e trabalhista, como melhores salários e menores jornadas, que pudessem ser atendidas dentro da legalidade burguesa capitalista. Os petistas, um século e meio depois, já não sabiam mais o que era socialismo, pois este já estava esfacelado, e lutavam por reivindicações do mesmo tipo (diretas já...). Esse fenômeno é uma indicação do grau de atraso do capitalismo brasileiro, que muito tardiamente produziu um movimento operário de massa politicamente relevante e com capacidade aglutinadora.
Tão tardiamente que, àquela altura, os governos gerados por esse movimento operário no resto do mundo, como os de tipo soviético, já estavam podres há mais de meio século. E do mesmo modo, a cooptação dos partidos socialistas para a condição de gestores do sistema, sob a fórmula social-democrata, que sequer considera necessário transformar o capitalismo em outro sistema, já tinha uma tradição de um século.
É claro que nas condições do Brasil da década de 1980 o aparecimento de um partido de trabalhadores de massa era um fenômeno capaz de polarizar e atrair demandas e militantes de todos os setores sociais. Lutadores da reforma agrária, do ambientalismo, do movimento negro, feminista, homossexual, etc., todos foram atraídos pelo ímã irresistível do petismo, até porque não havia outra coisa a se fazer. Do mesmo modo, intelectuais e militantes desiludidos com os partidos comunistas tradicionais aderiram ao petismo, na esperança de que o partido encontrasse a fórmula de uma transformação socialista verdadeira.
O resultado é que o petismo ganhou um caráter socialista imposto “de fora”, artificialmente. Queria-se crer que o PT era socialista. Um socialismo vago, espontâneo, improvisado, “à la carte”, ao gosto do freguês. Cada petista tinha sua visão do socialismo do PT e queria acreditar que essa visão era aquela pelo qual o partido iria lutar. Por isso permanecia e permanece no partido, na esperança de que essa sua visão ainda tenha chance e sua luta não tenha sido em vão. Essa disposição fazia a força do petismo e ao mesmo tempo a sua fraqueza, que agora foi cruamente revelada.
O fato é que um socialismo sem clareza de suas condições e tarefas foi assumido tacitamente e a contragosto por Lula e por sua cúpula. Um rótulo inconveniente do qual foi preciso se descartar com presteza logo que o muro de Berlim caiu. Era mais fácil dizer que o socialismo estava morto, como já dizia a social-democracia há um século, do que empreender a gigantesca e necessária crítica do processo soviético. Crítica esta que seria uma pré-condição para retomar a luta no contexto do capitalismo globalizado impulsionado pela violenta ofensiva neoliberal.
Retomar a luta? Mas que luta?
O problema não é portanto saber se o governo Lula e a cúpula do PT está sendo fiel ou não ao programa e à história do partido. O problema é saber se os militantes do partido se deixaram levar pela falsa esperança da política eleitoral burguesa. Não falo como uma crítica aos militantes no sentido pessoal, como se fossem “incompetentes”. Até porque sempre rendi homenagem aos militantes do PT, e faço-o novamente aqui, no sentido de que são a mais importante força transformadora do país, estando a frente de todos os movimentos sociais, ocupações de terra, lutas de minorias, etc.. Falo da armadilha histórica em que se envolveram.
O petismo caiu na armadilha de acreditar que bastava eleger Lula para realizar seu programa. E diluiu-se assim na vala comum dos partidos políticos, organizações mafiosas dedicadas ao mero domínio do aparelho do Estado. O movimento de massas que gerou o petismo e foi impulsionado e aglutinado por ele tornou-se simples acessório de um partido político. A única e honrosa exceção foi o MST, que prosseguiu sendo um movimento autônomo e coerente. Mas até quando? O MST poderá resistir à cooptação, à repressão e à desmobilização?
A grande tragédia da história do Brasil é que nada desmobiliza mais um movimento de massas do que um governo de esquerda. A esquerda não deve ser governo, deve ser uma força de transformação. Quando se torna governo, deixa de ser esquerda. Ser de esquerda é ser a favor das transformações sociais. As forças que lutam pela transformação devem usar partidos, governos, movimentos, igrejas, jornais, o que quer que seja, para transformar a realidade, sem nunca ser um simples governo, um simples partido, uma simples instituição de qualquer natureza. O movimento deve continua sendo movimento, dentro do governo e também fora dele. Temos experimentado conciliações, composições, conchavos, coalizões e alianças há 500 anos. É hora de partir para o confronto.
A falta de imaginação nesse sentido, como já escrevi em outro texto, é vexatória. Se não há condições para o confronto de classe aberto, que se use outra tática. Basta colocar em prática a bandeira tão burguesa e respeitável da ética e do combate à corrupção. Uma campanha maciça e consistente com esse escopo bastaria para defenestrar 99% da elite política tradicional brasileira. Campanha a que a mídia não teria como não aderir e que contaria com o apoio certo da opinião pública. A menos que o PT tenha ido longe demais nas conciliações, composições, conchavos, coalizões, alianças...
O mais triste é que, por um momento, o breve momento de algumas décadas, em que se construiu a gloriosa legenda do petismo, essa fórmula pareceu ter sido encontrada. Aquela fórmula a que aludi, a formula mágica de uma transformação autenticamente socialista, tão ardentemente buscada há séculos e no mundo inteiro, pareceu ter de fato sido encontrada. O caráter aglutinador do petismo, sua abertura para as diferentes tendências, seu apego à tolerância, à democracia, a todas as causas e todas às demandas, o espaço para todas as reivindicações, o apelo à ética, a simpatia de todas as pessoas inteligentes e bem intencionadas, a ressonância dos melhores instintos da alma brasileira, fizeram do partido a própria imagem de uma utopia em construção.
Pena que foi apenas por um momento, por um breve momento. A mágica era puro ilusionismo da Articulação. Desvaneceu-se como fumaça ao enfrentar seu primeiro teste com a realidade. É hora de começar tudo de novo.
Daniel M. Delfino
11/01/2004
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