29.5.07

Cem anos da Revolução Russa de 1905 - Parte II



3 – PREPARAÇÃO



A política de ambas as frações do POSDR seria testada dois anos depois do Congresso que precipitou fracionamento de suas duas alas, quando o ascenso das massas culmina na Revolução. A assim chamada “Revolução Russa de 1905” na verdade se constitui de uma longa série de acontecimentos, que se iniciam antes e se estendem para além deste “ano vermelho”. Adiantamos na Introdução que a Revolução foi precipitada pela Guerra russo-japonesa de 1904-05. A guerra, porém, já era em si uma tentativa do governo czarista de desviar as atenções das massas de suas candentes condições materiais.

Essas condições vinham produzindo um ascenso generalizado não só do proletariado, mas de outros setores da população russa. Nos anos precedentes, as greves, manifestações e passeatas de operários e também de estudantes se tornavam cada vez mais freqüentes nas grandes cidades russas, bem como a repressão policial: “Entre 1900y 1905 la agitación revolucionaria aumenta constantemente. A partir de 1902 renace el movimiento universitario, y en la misma época se produce una serie de revueltas campesinas. Por su parte las movilizaciones obreras provocan la intervención de las tropas del ejército: 522 veces en 1902 y 427 en 1903.” (6)

Em menor escala, tivemos algo semelhante ao que aconteceu com o imperialismo dos dias de hoje, que para conter a maré montante do mal-denominado “movimento antiglobalização”, inventou a “guerra ao terrorismo”, contando com (ou encomendando) a providencial ajuda de Bin Laden nos acontecimentos de 11/09. A Rússia contou com a “ajuda” do Japão, que atacou suas bases marítimas no extremo oriente. Segue-se imediatamente a mobilização patriótica do exército e a adesão em massa do povo à luta da “Mãe Rússia”, do seu “pai” o Czar e da “fé ortodoxa”.

A guerra contra o Japão eclode em janeiro de 1904, a pretexto de algumas ilhas sem qualquer importância material nos confins do continente asiático. Tratava-se na verdade de uma disputa estratégica entre o velho Império russo e o nascente imperialismo japonês. O Japão realizara sua transição ao capitalismo moderno por meio daquilo que Lukács denomina “via prussiana”: sem uma “revolução burguesa” clássica, a própria aristocracia feudal/militar desencadeia a industrialização, retendo autoritariamente o poder político e isolando o campesinato e o proletariado.

Os grandes conglomerados industriais japoneses, os “zaibatsus”, como Mazda, Mitsubushi, Honda, etc. descendem diretamente das grandes famílias de senhores feudais do período Tokugawa. A forma da transição ao capitalismo industrial é mais controlada e simultaneamente mais acelerada e intensa no Japão do que na Rússia. O conflito entre os dois países vai de janeiro de 1904 a agosto de 1905. O Japão, até então tido no mundo inteiro como país secundário, consegue uma série de esmagadoras vitórias militares, tanto em terra como no mar, chegando a destruir toda a armada russa no Pacífico, para espanto mundial e vergonha do exército do Czar. O Império do Sol Nascente, mais organizado e mais agressivo que a Rússia, acaba vencendo a guerra, complicando a situação do Czar.

Um dos episódios mais extraordinários de todo o processo da Revolução deu-se justamente no setor das forças armadas: a revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin, em junho de 1905. O navio fazia parte da frota russa no mar Negro, portanto longe do principal teatro de operações. Mas a tripulação do encouraçado se revoltou contra os maus tratos e privações a que a guerra com o Japão os estava submetendo (esse episódio foi celebrado pelo cineasta Sergei Eisenstein, em 1925, num filme produzido sob encomenda do governo soviético para comemorar os vinte anos da Revolução de 1905, “O Encouraçado Potemkin”, que tornou-se um dos clássicos absolutos da cinematografia mundial, até hoje venerado e estudado como aula de cinema). Depois de uma série de peripécias, a tripulação amotinada acabou se refugiando na Romênia.

Também merece destaque nesse quesito a revolta dos marinheiros de Kronstadt, base naval vizinha à capital Petrogrado, que se estenderia até outubro, já depois de encerrada a guerra com o Japão.

Conforme a maré da guerra virava em favor do Sol Nascente, o descontentamento crescia em todas as camadas da população. Não apenas as greves operárias paralisavam a produção e tumultuavam as grandes cidades, como também os camponeses se levantavam, os estudantes, a pequena-burguesia, setores da intelectualidade e até a burguesia liberal: “Los obreros recurrían constantemente a la huelga, los campesinos se hallaban empobrecidos, la intelectualidad había sido definitivamente alejada del gobierno y los liberales se oponian a la acción gubernamental.” (7)

Diante do descontentamento geral, o governo optou por reafirmar sua postura autoritária, recusando-se a atender quaisquer reivindicações ou mesmo a legitimidade de qualquer tentativa do povo de se fazer ouvir. A situação originava contradições dentro do próprio bloco das classes superiores. A burguesia percebia que a postura de agressivo desprezo do Czar para com seu povo poderia levar a uma situação de ruptura. E nessa ruptura, ela própria, a burguesia, seria a maior prejudicada. Estava óbvio para qualquer pessoa minimamente esclarecida que o descontentamento crescente levaria a uma explosão popular: “Los liberales tenían tanto o más temor que el zar a la revolución y eran mucho más conscientes que la autocracia de que una vez abierto el cauce a un movimiento revolucionario de masas la burguesia en Rusia tendría los días contados.” (8) Os setores esclarecidos da burguesia russa pressionavam o Czar na direção de concessões ao povo, a fim de manter seu próprio poder.

A burguesia tentou, pois, conter o movimento popular no âmbito de reivindicações políticas, que não atingissem as estruturas sociais. Subatov, o chefe da polícia de Petrogrado, estimulava a formação de sindicatos atrelados a uma política de colaboração de classes. Dentro desses sindicatos, despontou a liderança do padre Gapón, que propôs-se a ser uma espécie de mediador entre a população exasperada de Petrogrado e o Czar. O qual, por sua vez, permaneceu surdo a todos os apelos.

Na virada do ano de 1904 para 1905, a situação se radicaliza. Os operários da metalúrgica Putilov, a maior fábrica da Rússia, com mais de 11 mil empregados, entram em greve. Logo, toda a Petrogrado está em greve geral, com grandes mobilizações de massa. A mobilização popular precisava ser contida dentro dos limites da “lei e da ordem”. Assim, Gapón levou adiante a idéia de uma marcha dos operários e dos pobres ao palácio do Czar para entregar uma carta de reivindicações. Na marcha organizada pelo padre confluíam elementos confusos do atraso das massas, como a esperança e a adoração religiosa ao soberano, misturada a reivindicações materiais importantes.

Trotsky assim analisa o significado da petição: “La petición de los obreros oponía a la fraseologia confusa de las resoluciones liberales los términos precisos de la democracia política; además, introducía el espíritu de clase al exigir el derecho de huelga y la jornada de ocho horas. Su significación política no reside empero en el texto, sino que en el hecho. La petición servia de prólogo a una acción que había de unir las masas obreras ante el fantasma de una monarquía idealizada, con el resultado de oponer inmediatamente al proletariado y la monarquía real como enemigos mortales.” (9)

De todo modo, a organização da marcha prossegue, realizando-se em 9 de janeiro de 1905. Incapaz de avaliar a correlação de forças, o governo reage com truculência assassina. As tropas de segurança do Czar abrem fogo contra a multidão, que incluía idosos, mulheres e crianças. Centenas são mortos no “Domingo Sangrento”. Essa data fatídica cavou o túmulo da política de colaboração de classes em que a burguesia depositava suas esperanças. Surgiu um abismo entre Czar e o povo, especialmente o proletariado, como sintetiza o embaixador estadunidense: “El actual gobernante ha perdido por completo el afecto del peublo ruso, y sea cual sea el futuro de la dinastia el actual zar nunca volverá a sentirse seguro en medio de su pueblo.” (10)

A repressão armada das reivindicações populares mostrou aos setores mais avançados da luta social na Rússia que não havia mais conciliação possível com o regime. Mas os próximos passos na luta teriam que esperar um novo momento propício.

4 – ECLOSÃO

O efeito imediato do “Domingo Sangrento” foi desigual. De um lado, refluíram as lutas na capital do Império, enquanto se acenderam novos focos nas demais regiões do país. A questão camponesa prosseguia, assim como a das nacionalidades. Nessa época, países como Polônia, Finlândia e Ucrânia eram possessões do Império Russo. Setores da população desses países se levantavam contra o domínio russo, como a Polônia em junho de 1905. De conjunto, porém, todas essas formas de oposição ao regime não constituíam um movimento unificado de contestação. Eram simultâneos, mas não convergentes, de modo que o regime podia manobrar com as ferramentas da política burguesa.

Como sempre, para canalizar o descontentamento popular em direção a soluções inofensivas, o governo recorre a eleições. Elege-se uma “Duma”, o Parlamento russo, composto de grandes proprietários e burgueses, para dar uma aparência de legitimidade democrática ao governo. Em agosto de 1905 firma-se a paz com o Japão. Ainda que desvantajosa para a Rússia, por conta da derrota vexatória, a paz trouxe algum alívio ao governo. Posteriormente, sairia o Manifesto de Outubro, ampliando algumas concessões democráticas, tais como a liberdade para os presos políticos e a anistia para os exilados.

Mas o alívio duraria pouco. Em setembro recomeçam as greves nas grandes cidades, paralisando categorias importantes como metalúrgicos e ferroviários. Num país com as dimensões da Rússia, geograficamente o maior do mundo, com mais de 20 milhões de quilômetros quadrados, uma greve de ferroviários representa um fator crucial na conjuntura. A maior parte das regiões só era acessível à economia moderna e ao governo por trem. Além disso, uma greve de ferroviários tendia a se espalhar como um rastilho de pólvora pelas demais categorias de trabalhadores.

As greves acabaram por se tornar a principal forma de luta do proletariado russo. A greve surge como uma forma de conquistar reivindicações de natureza econômica. Entretanto, por meio da greve, do enfrentamento contra a repressão do Estado, o proletariado realiza o seu aprendizado político. Desmascara-se o verdadeiro caráter do Estado enquanto instrumento armado de repressão a serviço das classes dominantes.

O aprendizado vai dos militantes aos dirigentes. Lênin assim sintetiza a importância da greve de massas para a Revolução: “El medio principal de esa transición fue la huelga de masas. La peculiaridad de la revolución rusa consiste precisamente en que, por su contenido social, fue una revolución democrátio-burguesa, mientras que, por sus medios de lucha, fue una revolución proletária.” (11) Formalmente, tal raciocínio está correto. Na condição de classe fundamental do sistema do capital, enquanto personificação do trabalho, o proletariado adquire paulatinamente, por meio das greves gerais e de massa, de natureza política, a consciência de sua posição histórica de classe revolucionária. Entretanto, Lênin aqui ainda não havia concluído, como Trotsky, que somente o proletariado poderia realizar a revolução democrático-burguesa, e que justamente através dessa tarefa histórica prévia se abriria caminho para o objetivo maior da revolução socialista. O desenvolvimento desse debate está esboçado na seção seguinte.

Por enquanto, cumpre assinalar que a teoria marxista evoluía dialeticamente, conforme avançava a consciência do conjunto da classe trabalhadora russa. É no terreno da luta, da greve, que o proletariado realiza seu aprendizado. Descobre que a classe que trabalha deve ser também a classe que governa, se quiser libertar-se. Justamente por isso, por sua importância estratégica para a consciência política das massas, a greve geral é combatida com toda força. Mas em outubro de 1905, a situação é diferente daquela do Domingo Sangrento de janeiro. Dessa vez os operários estão preparados para o confronto: “Se movilizan las tropas, pero el 9 de enero ya ha quedado atrás: no se suplica paso, se levantan barricadas, los obreros se organizan en las calles, asaltan armerías, resisten al ejército.” (12) O proletariado russo é obrigado a armar-se para resistir à repressão czarista e burguesa, levando a luta revolucionária às vias de fato.

A revolução somente chegaria às vias de fato com a criação dos soviets, instituição para cuja formação a greve geral provou ser um passo decisivo. Uma greve somente se constrói com organização, por meio de comitês dedicados a espalhar o movimento de uma fábrica a outra, conquistando adesões e fortalecendo a luta. Da união de tais comitês numa espécie de “federação de representantes de fábrica” surge o soviet: “A la novedad de la huelga general se añadia la evidencia del alto grado de organización que habían alcançado los obreros russos. Esta se apoyaba en los comités de obreros en huelga, los quales elegían representantes con la misión de ligar a las fábricas entre sí. En estos comités de enlace estaban los gérmenes de una forma organizativa que luego sufriría un vertiginoso desarollo: los soviets de diputados obreros, o consejos obreros.” (13)

O soviet de Petrogrado constitui-se em outubro de 1905. Erguem-se as barricadas. A revolução está nas ruas.

5 – OS SOVIETS

A radicalização da luta do movimento operário leva à criação da mais original invenção devida aos acontecimentos de 1905: os “soviets”, ou “conselhos de deputados operários”. Em cada fábrica, cada bairro, cada cidade, os operários se organizavam espontaneamente, elegendo representantes para os conselhos deliberativos que decidiriam os passos da luta. Esses conselhos se transformaram numa verdadeira instância de poder paralelo do proletariado, contestando a autoridade do Estado e opondo-se frontalmente a este.

No manifesto de criação do soviet de Petrogrado lê-se: “ ‘La clase obrera se ha visto obligada a recurrir a la última medida de que dispone el movimiento obrero mundial: la huelga general (...) En el plazo de alguns días deben producirse acontecimientos decisivos en Rusia. Determinarán para muchos años la suerte de la clase obrera; tenemos pues que ir por delante de los hechos con todas las fuerzas disponibles, unificada bajo la égida de nuestro sóviet comum.’ ” (14)

A formação do soviet de Petrogrado serviu de exemplo para as lutas que se desenvolviam por todo o país: “El soviet de Diputados Obreros de Petrogrado inspiró los soviets locales que se constituyeron en gran parte de las ciudades rusas. Velozmente se convirtió en una instancia que limitaba al gobierno, con fuerza para enfrentarlo y producir iniciativas políticas.” (15) As iniciativas revolucionárias partiam principalmente do soviet mais importante, que congregava as representações dos operários da capital. Além de servir de exemplo para as massas mobilizadas por todo o país, os soviets serviram de laboratório para os principais partidos envolvidos na luta pelo socialismo.

É importante destacar que, no Manifesto de Outubro, em que o Czar acena com uma política legalista, transformando o regime absolutista em um sistema constitucional, constava também a concessão de anistia e liberdade a presos políticos e exilados. Uma experiente vanguarda de militantes, com nomes como Lênin e Trotsky à frente, soma-se ao movimento e dá-lhe impulso decisivo. É aqui o momento de examinar minimamente a diferenças entre as posturas dessas duas importantes lideranças.

Num primeiro momento, os mencheviques, com sua maior flexibilidade operacional, adaptaram-se melhor à dinâmica espontânea dos conselhos operários. Os bolcheviques, com sua rígida estrutura conspirativa, passaram por dificuldades para se adequar a esse sistema. Trotsky, que atuava e raciocinava mais próximo dos mencheviques, assim avaliou a aparição dos soviets no cenário histórico, em contraponto à limitada estratégia bolchevique de então: “Aqui no se trata de organizaciones de conspiradores minuciosamente preparadas, que em um momento de exaltación se hacen com el poder sobre la masa del proletariado. No, aqui se trata de órganos creados metodicamente por esta misma masa em orden a la coordinación de su lucha revolucionaria. Y estos soviets, elegidos por lãs masas y responsables ante ellas, estas organizaciones incondicionalmente democráticas, practican una política de clase enormemente decisiva en el sentido del socialismo revolucionário.” (16)

Trotsky vai além e formula a partir dos acontecimentos de 1905 sua teoria da Revolução Permanente (a teoria somente se completa décadas depois, mas o seu primeiro embrião surge neste momento). Grosseiramente, tal teoria pode ser resumida na afirmação de que o capitalismo não cumpre mais qualquer papel progressivo em nenhum país do mundo, de que todos os países estão ligados pela lei do desenvolvimento desigual e combinado, de que a revolução socialista precisa portanto ser uma revolução mundial, e de que, onde a burguesia não cumpriu ainda as tarefas da revolução democrática, como na Rússia, tais tarefas deveriam ser cumpridas pelo proletariado, que em seguida faria a revolução “transcrescer” para uma revolução socialista.

Enquanto Trotsky, que foi o principal líder de 1905, iniciava o processo de construção dessa teoria, Lênin permanecia um pouco mais atrás, como que preso a uma concepção mais “etapista” de revolução. O descompasso teórico resultou numa certa defasagem da prática. Os bolcheviques demoraram a ingressar nos soviets. Entretanto, a prática reorientou a teoria. Conforme os acontecimentos se desenvolviam, o debate no interior do partido resultou na adesão ao processo. Depois de reavaliar a conjuntura, Lênin interveio em favor do “entrismo”. A partir daí, os bolcheviques participaram ativamente dos soviets, entrando com o peso de sua atuação coesa, unificada e decidida.

As diferenças entre os modos de pensar e de atuar de Trotsky e de Lênin com relação aos acontecimentos a partir de 1905 resultaram numa certa complementaridade em favor da revolução. Se Trotsky desempenhou um papel mais protagonístico em 1905, sua atuação tendeu a retroceder no momento imediatamente posterior, pela falta de um instrumento organizacional capaz de refletir as conquistas teórico-políticas obtidas. Esse instrumento era justamente o partido de Lênin, que com suas células de militantes coesos e articulados, refletia e debatia em conjunto, absorvendo de modo mais produtivo as experiências práticas e teóricas. Os bolcheviques, simultaneamente mais democráticos e mais centralizados, mantiveram-se como referência para as massas nos anos seguintes à revolução, até o novo ascenso de 1917.

Se nesse ensaio geral da revolução Trotsky estava adiante de Lênin, o líder dos bolcheviques estava adiante na organização do partido (além de reter uma série de inegáveis méritos teóricos em várias outras questões). No processo de 1917, Lênin percebe que caberá ao proletariado russo tomar o poder, em suas famosas “Teses de Abril”, de certo modo dando razão a Trotsky. O qual, por sua vez, reconhecerá mais tarde o mérito de Lênin no método de organização do partido, que o levará à iniciativa de fundar a IV Internacional em 1938. De certo modo, Lênin se tornou “trotskista” e Trotsky “leninista”. Na peculiar dialética da colaboração entre os dois está parte da explicação para o formidável desempenho dos bolcheviques em 1917.

Entretanto, em 1905, a hora dos bolcheviques ainda não havia chegado. A repressão czarista, as conciliações liberais, as hesitações reformistas e a própria inexperiência dos dirigentes contribuíram para a derrota da revolução. O poder paralelo em constituição ainda não vislumbrava com clareza as tarefas da construção de uma nova ordem social capaz de se sobrepor à inércia das instituições capitalistas. Não foi dado tempo para que tal construção fosse minimamente iniciada, não sendo senão esboçada. Trotsky, principal dirigente do soviet de Petrogrado, foi preso e enviado para a Sibéria. Uma repressão feroz se abateu sobre o movimento operário, com o ministro Stolypin. Os soviets se dissolvem, as greves se esvaziam, o movimento cessa e entra em refluxo total.

Mas as lições tinham sido aprendidas. O enraizamento conquistado junto ao proletariado, bem como o centralismo do partido de Lênin, criaram uma via de mão dupla pela qual o partido aprendia com o movimento e vice-versa. “Los largos años de clandestinidad habían servido para forjar el partido de la revolución: la nueva etapa encontraba a los bolcheviques cohesionados políticamente y con una extensa y homogénea organización.” (17) A despeito da repressão, as forças revolucionárias se preparavam para novos combates no futuro.

Daniel M. Delfino
21/08/2005

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