(Comentário sobre o filme “Terminal”)
Nome original: The terminal
Produção: Estados Unidos
Ano: 2004
Idiomas: Inglês, Francês, Russo, Búlgaro
Diretor: Steven Spielberg
Roteiro: Andrew Niccol, Sacha Gervasi
Elenco: Tom Hanks, Catherine Zeta-Jones, Stanley Tucci, Chi McBride, Diego Luna
Gênero: drama, romance, comédia
Fonte: “The Internet Movie Database” – http://www.imdb.com/
Depois de revolucionar o cinema entre meados dos anos 70 e 80, Steven Spielberg vive agora uma fase de pré-aposentadoria, dedicando-se a filmes menores e despretensiosos, como “Prenda-me se for capaz” e “O Terminal”. Não por coincidência, os dois contam com o talento testado e aprovado de Tom Hanks para carregar a trama. Em “O Terminal”, Tom Hanks é “Viktor Navorsky”, um viajante de um país fictício que fica preso no aeroporto internacional de Nova York, depois que seu país de origem sofre um golpe de Estado e entra em guerra civil. Sem que haja um governo reconhecido em “Krakozhia”, o governo dos Estados Unidos não pode aceitar seus documentos, não pode autorizá-lo a entrar no país, nem pode deportá-lo de volta. Navorsky fica assim preso numa brecha do sistema, uma “falha na Matrix”, condenado a habitar o aeroporto, até que a situação institucional se resolva no seu país de origem.
Essa situação surreal serve de pretexto para que experimentemos uma sucessão de embaraços cômicos, que envolvem o estrangeiro incapaz de falar inglês no babélico mundo do aeroporto. Sendo o terminal um ponto de chegada de rotas internacionais, a área à qual Navorsky está confinado está repleta de viajantes de todos os continentes e origens. Muitos, como ele próprio, não falam inglês. Sem ser capaz de se comunicar, Navorsky acaba deduzindo, graças à televisão, o que está se passando no seu país, e porque está condenado ao saguão internacional do aeroporto. Permanecendo simples e inocente, ele espera até que seu caso seja resolvido pelas autoridades, a quem se submete.
Sem perspectivas a curto prazo, Navorsky limita-se às demandas básicas da sobrevivência, procurando comida, roupa e um lugar para dormir. Aos poucos, por meio de sua simplicidade e inocência, ele conquista a simpatia de funcionários do aeroporto, e até uma improvável namorada, a aeromoça vivida por Catherine Zeta-Jones. A maior parte da diversão está na primeira hora do filme, em que a incomunicabilidade de Navorsky o reduz aos expedientes mínimos e improvisados da sobrevivência. Por incrível que pareça, Tom Hanks consegue convencer na pele de um cidadão que não fala inglês.
Spielberg habilmente tira partido da situação da incomunicabilidade para explorar a condição da humanidade totalmente despojada de rótulos e identificações. Navorsky é literalmente um cidadão de lugar nenhum. Um produto da globalização. Como tal, ele pode se identificar com qualquer espectador global. Mais ou menos como os personagens de Chaplin, na época do cinema mudo, que prescindiam da fala para criar empatia com os imigrantes de todo o mundo, que corriam em massa aos E.U.A. em busca do sonho. O humano indeterminado é um objeto de observação curioso. Como um animal no zoológico, Navorsky encontra suas soluções, e o pessoal do aeroporto, assim como o espectador, se diverte com ele. Isso não deixa de ser reflexo de uma espécie de cultura voyeurista contemporânea, moldada pelo recente fenômeno dos “reality shows” na TV.
De um certo momento em diante, a mistificação ideológica da aceitação do estrangeiro se torna o substrato da trama e o filme perde a força. Recorre-se então à fórmula básica da comédia romântica, na qual uma mentira qualquer une os enamorados, mas a verdade acaba vindo à tona, para por à prova o seu amor. As aeromoças são apresentadas estereotipadamente como seres inerentemente promíscuos. E esse estereótipo tem até uma explicação “científica”. Devido ao “relógio biológico desregulado”, as aeromoças estão sempre prontas para fazer “aquilo”. Sorte do homem que estiver no seu caminho, como o próprio Navorsky. A personagem de Catherine Zeta-Jones sujeita-se ao estereótipo e nós somos convidados a aceitá-la dessa maneira. Trata-se de um fato da vida. O sonho não é assim tão cor de rosa. Graças ao amante poderoso e influente, a aeromoça consegue o visto para que Navorsky visite os E.U.A. e realize seu sonho. Porque, “evidentemente”, todos sonham em ir para os E.U.A.
Spielberg continua sendo aquele bom estadunidense que acredita piamente que o seu país representa o bem no mundo. Ele se esforça para mostrar o lado simpático dos E.U.A., que existe por trás da máscara do seu sistema. O sistema é representado pelo personagem do diretor da segurança do aeroporto. O diretor representa a intransigência fria das regras e números, a burocracia kafkiana e a indiferença desumana do mundo moderno. O chefe da segurança do aeroporto é obrigado a desconfiar de todo e qualquer passageiro que desembarca no aeroporto. Todo passageiro é suspeito até que prove o contrário. Por definição, qualquer um deles pode estar tentando burlar a imigração e se tornar mais um trabalhador clandestino. Ou pode ser um traficante de drogas vindo do Brasil.
A lição que Spielberg tenta passar é que apesar dessa aparente frieza e desumanidade, o sistema ainda pode ser burlado. O chefe da segurança mais durão e intransigente pode acabar cedendo, diante de quem demonstrar, ao fim de sucessivas provas, a pureza e a simplicidade de Navorsky. O sistema, afinal de contas, não é tão rígido assim. O chefe da segurança não quer resolver a situação de Navorsky. Quer apenas se livrar dele. Quer passar a “batata quente” para outro departamento. O refugiado de lugar nenhum é um incômodo no seu mundo. O chefe da segurança não se preocupa humanamente com Navorsky. Ocupa-se dele como um empecilho, como se fosse uma bagagem perdida, algo do qual precisa livrar-se para manter seu mundo/aeroporto limpo e asséptico, com cara de “shopping center”.
A propósito de “shopping center”, o chefe da segurança explica a Navorsky que a única coisa que se pode fazer naquele setor do aeroporto (e no restante do país, podemos acrescentar) é comprar. Nos E.U.A., tudo está à venda. Para tudo se pode dar um jeito, na “terra das oportunidades”. Mesmo não sendo cidadão de lugar nenhum, não tendo documentos, nem residência fixa, Navorsky consegue emprego como peão de obras na reforma de uma ala do aeroporto onde “mora”. Não importa ao empreiteiro quem ele é, importa que tem “talento” para lidar com acabamento de construção, o que faz com que mereça seu dinheiro.
O empreiteiro contrata Navorsky “por fora”, pagando-lhe uma quantia que deixa o chefe da segurança com inveja. Na terra da iniciativa privada, o funcionário público como o do aeroporto é um zero à esquerda. O sucesso do imigrante de lugar nenhum é só mais um motivo para que o odeiem. Tentando se livrar de Navorsky, o chefe da segurança quer ensiná-lo o “jeitinho estadunidense” para burlar a imigração, pedindo asilo político. Não lhe importa que Navorsky venha a ser preso logo em seguida, o que importa é que não fique mais no seu aeroporto. Não lhe importa o lado humano das situações. Quando Navorsky serve de tradutor e ajuda um russo a contrabandear remédios para seu pai, a hostilidade do chefe da segurança se torna pessoal.
Mas nesse momento já estamos no campo dos estereótipos de mocinho e bandido. Navorsky é o mocinho, irrepreensível, incorruptível, incapaz de tirar partido da “falha na Matrix” que o beneficiou. Ele quer entrar nos E.U.A., mas o quer honestamente. Spielberg com isso está dizendo que todos são bem vindos aos E.U.A., desde que sejam “boa gente” como Navorsky.
É de pessoas assim que os E.U.A. foram feitos, de imigrantes do tipo “boa gente”. Os E.U.A. são também o refúgio de todos aqueles que querem escapar de perseguições em seus países de origem, como o faxineiro indiano. O qual era perseguido na Índia por esfaquear um policial corrupto. Porque no Terceiro Mundo, evidentemente, todas as autoridades são corruptas... (como se nos E.U.A., terra do jeitinho, não acontecesse isso) Como imigrante ilegal precariamente estabelecido, o velho imigrante indiano é o mais desconfiado em relação a Navorsky dentre o pessoal do aeroporto. Acostumado à frieza e indiferença das multidões anônimas, tornou-se ele próprio indiferente e “sádico”. A diversão do faxineiro era observar as pessoas escorregarem no piso recém-lavado por ele. Essa era sua vingança por todas as rasteiras que levou na vida.
Entretanto, não se pode acusar Spielberg de ser preconceituoso com relação aos estrangeiros. Krakozhia, como qualquer país real do Leste Europeu ou do Terceiro Mundo, está sujeito a golpes de Estado e guerras civis. Isso não é ficção, é a mais pura realidade. Trata-se de uma infelicidade do mundo globalizado, da qual, felizmente, os Estados Unidos estão “livres”. A instabilidade política, os golpes de Estado e a “violação aos direitos humanos” são tristes realidades que pertencem ao “resto do mundo”, crê o povo estadunidense. Crêem piamente nisso, mesmo vivendo num país que tem Bush como Presidente e o “Patriotic Act” como lei.
Spielberg não é pois hostil ou preconceituoso em relação ao “resto do mundo”, ele é simplesmente incapaz de compreendê-los. Como bom estadunidense que é, acredita piamente que toda hostilidade que possa haver entre os E.U.A. e “o resto do mundo” só pode ser fruto de mal-entendido. Um mal-entendido a ser solucionado por meio de gestos de amizade e profissões de fé. Spielberg faz sua profissão de fé nos E.U.A., o país mitológico que recebe os imigrantes de braços abertos (ou nem tanto).
Ele não exige de nós fidelidade política ou ideológica. Não exige adesão às modas ou slogans políticos da última temporada. O teste definitivo da cidadania para os que querem entrar na terra de Spielberg é a devoção aos ícones estadunidenses. A fidelidade exigida é a devoção aos elementos da cultura “pop” estadunidense, cultura que Spielberg acredita ser capaz de representar também todo o “resto do mundo”. No caso de “Terminal”, a viagem de Navorsky é justificada pela devoção ao jazz (pelo menos, um sinal de bom gosto). O jazz era a música dos negros pobres, que sobreviveram por meio da criatividade, do improviso, do charme, criando uma sofisticada arte musical.
A arte como uma maneira de superar limitações de uma situação social precária. Os E.U.A. continuam de braços abertos para quem quer que viva esse sonho. Essa é a crença de Spielberg.
Daniel M. Delfino
05/10/2004
Essa situação surreal serve de pretexto para que experimentemos uma sucessão de embaraços cômicos, que envolvem o estrangeiro incapaz de falar inglês no babélico mundo do aeroporto. Sendo o terminal um ponto de chegada de rotas internacionais, a área à qual Navorsky está confinado está repleta de viajantes de todos os continentes e origens. Muitos, como ele próprio, não falam inglês. Sem ser capaz de se comunicar, Navorsky acaba deduzindo, graças à televisão, o que está se passando no seu país, e porque está condenado ao saguão internacional do aeroporto. Permanecendo simples e inocente, ele espera até que seu caso seja resolvido pelas autoridades, a quem se submete.
Sem perspectivas a curto prazo, Navorsky limita-se às demandas básicas da sobrevivência, procurando comida, roupa e um lugar para dormir. Aos poucos, por meio de sua simplicidade e inocência, ele conquista a simpatia de funcionários do aeroporto, e até uma improvável namorada, a aeromoça vivida por Catherine Zeta-Jones. A maior parte da diversão está na primeira hora do filme, em que a incomunicabilidade de Navorsky o reduz aos expedientes mínimos e improvisados da sobrevivência. Por incrível que pareça, Tom Hanks consegue convencer na pele de um cidadão que não fala inglês.
Spielberg habilmente tira partido da situação da incomunicabilidade para explorar a condição da humanidade totalmente despojada de rótulos e identificações. Navorsky é literalmente um cidadão de lugar nenhum. Um produto da globalização. Como tal, ele pode se identificar com qualquer espectador global. Mais ou menos como os personagens de Chaplin, na época do cinema mudo, que prescindiam da fala para criar empatia com os imigrantes de todo o mundo, que corriam em massa aos E.U.A. em busca do sonho. O humano indeterminado é um objeto de observação curioso. Como um animal no zoológico, Navorsky encontra suas soluções, e o pessoal do aeroporto, assim como o espectador, se diverte com ele. Isso não deixa de ser reflexo de uma espécie de cultura voyeurista contemporânea, moldada pelo recente fenômeno dos “reality shows” na TV.
De um certo momento em diante, a mistificação ideológica da aceitação do estrangeiro se torna o substrato da trama e o filme perde a força. Recorre-se então à fórmula básica da comédia romântica, na qual uma mentira qualquer une os enamorados, mas a verdade acaba vindo à tona, para por à prova o seu amor. As aeromoças são apresentadas estereotipadamente como seres inerentemente promíscuos. E esse estereótipo tem até uma explicação “científica”. Devido ao “relógio biológico desregulado”, as aeromoças estão sempre prontas para fazer “aquilo”. Sorte do homem que estiver no seu caminho, como o próprio Navorsky. A personagem de Catherine Zeta-Jones sujeita-se ao estereótipo e nós somos convidados a aceitá-la dessa maneira. Trata-se de um fato da vida. O sonho não é assim tão cor de rosa. Graças ao amante poderoso e influente, a aeromoça consegue o visto para que Navorsky visite os E.U.A. e realize seu sonho. Porque, “evidentemente”, todos sonham em ir para os E.U.A.
Spielberg continua sendo aquele bom estadunidense que acredita piamente que o seu país representa o bem no mundo. Ele se esforça para mostrar o lado simpático dos E.U.A., que existe por trás da máscara do seu sistema. O sistema é representado pelo personagem do diretor da segurança do aeroporto. O diretor representa a intransigência fria das regras e números, a burocracia kafkiana e a indiferença desumana do mundo moderno. O chefe da segurança do aeroporto é obrigado a desconfiar de todo e qualquer passageiro que desembarca no aeroporto. Todo passageiro é suspeito até que prove o contrário. Por definição, qualquer um deles pode estar tentando burlar a imigração e se tornar mais um trabalhador clandestino. Ou pode ser um traficante de drogas vindo do Brasil.
A lição que Spielberg tenta passar é que apesar dessa aparente frieza e desumanidade, o sistema ainda pode ser burlado. O chefe da segurança mais durão e intransigente pode acabar cedendo, diante de quem demonstrar, ao fim de sucessivas provas, a pureza e a simplicidade de Navorsky. O sistema, afinal de contas, não é tão rígido assim. O chefe da segurança não quer resolver a situação de Navorsky. Quer apenas se livrar dele. Quer passar a “batata quente” para outro departamento. O refugiado de lugar nenhum é um incômodo no seu mundo. O chefe da segurança não se preocupa humanamente com Navorsky. Ocupa-se dele como um empecilho, como se fosse uma bagagem perdida, algo do qual precisa livrar-se para manter seu mundo/aeroporto limpo e asséptico, com cara de “shopping center”.
A propósito de “shopping center”, o chefe da segurança explica a Navorsky que a única coisa que se pode fazer naquele setor do aeroporto (e no restante do país, podemos acrescentar) é comprar. Nos E.U.A., tudo está à venda. Para tudo se pode dar um jeito, na “terra das oportunidades”. Mesmo não sendo cidadão de lugar nenhum, não tendo documentos, nem residência fixa, Navorsky consegue emprego como peão de obras na reforma de uma ala do aeroporto onde “mora”. Não importa ao empreiteiro quem ele é, importa que tem “talento” para lidar com acabamento de construção, o que faz com que mereça seu dinheiro.
O empreiteiro contrata Navorsky “por fora”, pagando-lhe uma quantia que deixa o chefe da segurança com inveja. Na terra da iniciativa privada, o funcionário público como o do aeroporto é um zero à esquerda. O sucesso do imigrante de lugar nenhum é só mais um motivo para que o odeiem. Tentando se livrar de Navorsky, o chefe da segurança quer ensiná-lo o “jeitinho estadunidense” para burlar a imigração, pedindo asilo político. Não lhe importa que Navorsky venha a ser preso logo em seguida, o que importa é que não fique mais no seu aeroporto. Não lhe importa o lado humano das situações. Quando Navorsky serve de tradutor e ajuda um russo a contrabandear remédios para seu pai, a hostilidade do chefe da segurança se torna pessoal.
Mas nesse momento já estamos no campo dos estereótipos de mocinho e bandido. Navorsky é o mocinho, irrepreensível, incorruptível, incapaz de tirar partido da “falha na Matrix” que o beneficiou. Ele quer entrar nos E.U.A., mas o quer honestamente. Spielberg com isso está dizendo que todos são bem vindos aos E.U.A., desde que sejam “boa gente” como Navorsky.
É de pessoas assim que os E.U.A. foram feitos, de imigrantes do tipo “boa gente”. Os E.U.A. são também o refúgio de todos aqueles que querem escapar de perseguições em seus países de origem, como o faxineiro indiano. O qual era perseguido na Índia por esfaquear um policial corrupto. Porque no Terceiro Mundo, evidentemente, todas as autoridades são corruptas... (como se nos E.U.A., terra do jeitinho, não acontecesse isso) Como imigrante ilegal precariamente estabelecido, o velho imigrante indiano é o mais desconfiado em relação a Navorsky dentre o pessoal do aeroporto. Acostumado à frieza e indiferença das multidões anônimas, tornou-se ele próprio indiferente e “sádico”. A diversão do faxineiro era observar as pessoas escorregarem no piso recém-lavado por ele. Essa era sua vingança por todas as rasteiras que levou na vida.
Entretanto, não se pode acusar Spielberg de ser preconceituoso com relação aos estrangeiros. Krakozhia, como qualquer país real do Leste Europeu ou do Terceiro Mundo, está sujeito a golpes de Estado e guerras civis. Isso não é ficção, é a mais pura realidade. Trata-se de uma infelicidade do mundo globalizado, da qual, felizmente, os Estados Unidos estão “livres”. A instabilidade política, os golpes de Estado e a “violação aos direitos humanos” são tristes realidades que pertencem ao “resto do mundo”, crê o povo estadunidense. Crêem piamente nisso, mesmo vivendo num país que tem Bush como Presidente e o “Patriotic Act” como lei.
Spielberg não é pois hostil ou preconceituoso em relação ao “resto do mundo”, ele é simplesmente incapaz de compreendê-los. Como bom estadunidense que é, acredita piamente que toda hostilidade que possa haver entre os E.U.A. e “o resto do mundo” só pode ser fruto de mal-entendido. Um mal-entendido a ser solucionado por meio de gestos de amizade e profissões de fé. Spielberg faz sua profissão de fé nos E.U.A., o país mitológico que recebe os imigrantes de braços abertos (ou nem tanto).
Ele não exige de nós fidelidade política ou ideológica. Não exige adesão às modas ou slogans políticos da última temporada. O teste definitivo da cidadania para os que querem entrar na terra de Spielberg é a devoção aos ícones estadunidenses. A fidelidade exigida é a devoção aos elementos da cultura “pop” estadunidense, cultura que Spielberg acredita ser capaz de representar também todo o “resto do mundo”. No caso de “Terminal”, a viagem de Navorsky é justificada pela devoção ao jazz (pelo menos, um sinal de bom gosto). O jazz era a música dos negros pobres, que sobreviveram por meio da criatividade, do improviso, do charme, criando uma sofisticada arte musical.
A arte como uma maneira de superar limitações de uma situação social precária. Os E.U.A. continuam de braços abertos para quem quer que viva esse sonho. Essa é a crença de Spielberg.
Daniel M. Delfino
05/10/2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário