3.11.15

A continuidade da crise e a resistência dos trabalhadores


Existe hoje praticamente uma unanimidade por parte da imprensa burguesa e da propaganda governista em torno do discurso de que “o pior da crise já passou” e de agora em diante teremos a recuperação da economia e a volta do crescimento. Esse discurso é falso por dois motivos.
Em primeiro lugar, não é verdade que a crise econômica tenha se resolvido. A economia capitalista é um sistema mundializado e os problemas persistem no plano dessa totalidade mundial. Os governos emitiram trilhões de dólares para salvar o capital da falência, mas isso apenas adia o problema, pois essa explosão de endividamento público terá que ser paga por alguém (ou seja, pelos trabalhadores), e a emissão descontrolada de moeda sem lastro ameaça a própria função do dinheiro.
Em segundo lugar, uma solução satisfatória para a crise, do ponto de vista do capital, só pode se dar por meio da recomposição da taxa de lucro, o que envolve tanto a destruição de capital (física ou contábil) quanto um aumento da exploração sobre os trabalhadores. Enquanto o Estado ganha tempo emitindo dinheiro, a burguesia realiza ajustes estruturais para tentar retomar a taxa de lucro. Nos planos da burguesia, os trabalhadores demitidos não serão mais contratados, os salários rebaixados não serão mais reajustados, e os direitos retirados não serão mais concedidos. As demissões, rebaixamento de salários e corte de direitos dos trabalhadores são os efeitos mais catastróficos e persistentes dessa crise.
Assim, por mais que a propaganda burguesa e governista diga que o pior já passou, para os trabalhadores a crise deixa um legado de dificuldades e miséria. É com essa realidade que a classe trabalhadora brasileira estará defrontada no próximo período. O segundo semestre de 2009 colocará em movimento várias categorias que entrarão em campanha salarial: bancários, correios, petroleiros, metalúrgicos, servidores. As campanhas tendem a ser muito duras, pois o governo e a patronal usarão o discurso de que as perdas provocadas pela crise não permitirão conceder reajustes, nem ampliar direitos, etc. Além disso, as direções sindicais dessas categorias estão controladas por correntes políticas governistas, pelegas e burocráticas. A Articulação/PT comanda a CUT, que ainda é a principal central sindical do país, e juntamente com seus satélites e outras burocracias (Força, CTB, etc.) tem funcionado como um obstáculo para as mobilizações e impedido que as reivindicações que contemplam as reais necessidades da classe sejam colocadas.
Apesar dessas dificuldades, várias dessas categorias tem realizado greves nos últimos anos (em especial bancários e correios), entrando em luta mesmo com problemas, e em face da crise e dos ataques ao seus saláros e condições de vida, precisarão novamente se colocar em movimento este ano. Além disso, o primeiro semestre trouxe o exemplo de lutas importantes, como a greve geral da USP, dos técnicos da CEF, ferroviários do Rio, servidores da educação em vários estados, etc. Isso é um sinal de que a classe trabalhadora brasileira não está passiva e existe potencial de resistência.
As categoria em luta no 2º semestre precisarão transformar esse potencial em ações de fato, o que exige:
- buscar a unidade de todos os setores em luta, unificando calendário e atos de mobilização;
- organizar-se desde a base em comandos de greve abertos, e estruturados a partir dos locais de trabalho, como forma de ultrapassar as direções sindicais governistas, pelegas e burocráticas;
- desenvolver um programa de luta que coloque em pauta questões estruturais, como: a) defesa dos serviços públicos, b) reestatização das empresas privatizadas, c) garantias contra as demissões, d) reposição de perdas salariais, e) redução de jornada sem redução de salário.
Essas tarefas exigem um movimento sindical de novo tipo, estruturado desde a base, voltado para a ação direta, democrático, combativo e com uma perspectiva ideológica classista. Os passos que tem sido dados para a reorganização do movimento, como por exemplo, as discussões sobre uma possível fusão Conlutas/Intersindical, mesmo representando o pólo mais avançado, permanecem restritos a atividades de cúpula e ainda não contemplam aquelas características.
Os trabalhadores em luta no 2º semestre precisarão enfrentar-se não apenas com a patronal, o governo e as direções pelegas, mas também com os vícios e debilidades que persistem nos organismos de luta da própria esquerda. Essa é a tarefa que está colocada para os militantes e lutadores classistas.

Daniel M. Delfino
Setembro 2009








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