Existe
hoje praticamente uma unanimidade por parte da imprensa burguesa e da
propaganda governista em torno do discurso de que “o pior da crise
já passou” e de agora em diante teremos a recuperação
da economia e a volta do crescimento. Esse discurso é falso
por dois motivos.
Em
primeiro lugar, não é verdade que a crise econômica
tenha se resolvido. A economia capitalista é um sistema
mundializado e os problemas persistem no plano dessa totalidade
mundial. Os governos emitiram trilhões de dólares para
salvar o capital da falência, mas isso apenas adia o problema,
pois essa explosão de endividamento público terá
que ser paga por alguém (ou seja, pelos trabalhadores), e a
emissão descontrolada de moeda sem lastro ameaça a
própria função do dinheiro.
Em
segundo lugar, uma solução satisfatória para a
crise, do ponto de vista do capital, só pode se dar por meio
da recomposição da taxa de lucro, o que envolve tanto a
destruição de capital (física ou contábil)
quanto um aumento da exploração sobre os trabalhadores.
Enquanto o Estado ganha tempo emitindo dinheiro, a burguesia realiza
ajustes estruturais para tentar retomar a taxa de lucro. Nos planos
da burguesia, os trabalhadores demitidos não serão mais
contratados, os salários rebaixados não serão
mais reajustados, e os direitos retirados não serão
mais concedidos. As demissões, rebaixamento de salários
e corte de direitos dos trabalhadores são os efeitos mais
catastróficos e persistentes dessa crise.
Assim,
por mais que a propaganda burguesa e governista diga que o pior já
passou, para os trabalhadores a crise deixa um legado de dificuldades
e miséria. É com essa realidade que a classe
trabalhadora brasileira estará defrontada no próximo
período. O segundo semestre de 2009 colocará em
movimento várias categorias que entrarão em campanha
salarial: bancários, correios, petroleiros, metalúrgicos,
servidores. As campanhas tendem a ser muito duras, pois o governo e a
patronal usarão o discurso de que as perdas provocadas pela
crise não permitirão conceder reajustes, nem ampliar
direitos, etc. Além disso, as direções sindicais
dessas categorias estão controladas por correntes políticas
governistas, pelegas e burocráticas. A Articulação/PT
comanda a CUT, que ainda é a principal central sindical do
país, e juntamente com seus satélites e outras
burocracias (Força, CTB, etc.) tem funcionado como um
obstáculo para as mobilizações e impedido que as
reivindicações que contemplam as reais necessidades da
classe sejam colocadas.
Apesar
dessas dificuldades, várias dessas categorias tem realizado
greves nos últimos anos (em especial bancários e
correios), entrando em luta mesmo com problemas, e em face da crise e
dos ataques ao seus saláros e condições de vida,
precisarão novamente se colocar em movimento este ano. Além
disso, o primeiro semestre trouxe o exemplo de lutas importantes,
como a greve geral da USP, dos técnicos da CEF, ferroviários
do Rio, servidores da educação em vários
estados, etc. Isso é um sinal de que a classe trabalhadora
brasileira não está passiva e existe potencial de
resistência.
As
categoria em luta no 2º semestre precisarão transformar
esse potencial em ações de fato, o que exige:
- buscar
a unidade de todos os setores em luta, unificando calendário e
atos de mobilização;
-
organizar-se desde a base em comandos de greve abertos, e
estruturados a partir dos locais de trabalho, como forma de
ultrapassar as direções sindicais governistas, pelegas
e burocráticas;
-
desenvolver um programa de luta que coloque em pauta questões
estruturais, como: a) defesa dos serviços públicos, b)
reestatização das empresas privatizadas, c) garantias
contra as demissões, d) reposição de perdas
salariais, e) redução de jornada sem redução
de salário.
Essas
tarefas exigem um movimento sindical de novo tipo, estruturado desde
a base, voltado para a ação direta, democrático,
combativo e com uma perspectiva ideológica classista. Os
passos que tem sido dados para a reorganização do
movimento, como por exemplo, as discussões sobre uma possível
fusão Conlutas/Intersindical, mesmo representando o pólo
mais avançado, permanecem restritos a atividades de cúpula
e ainda não contemplam aquelas características.
Os
trabalhadores em luta no 2º semestre precisarão
enfrentar-se não apenas com a patronal, o governo e as
direções pelegas, mas também com os vícios
e debilidades que persistem nos organismos de luta da própria
esquerda. Essa é a tarefa que está colocada para os
militantes e lutadores classistas.
Daniel M.
Delfino
Setembro 2009
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