Existem
mais de 400 mil bancários no país (sem considerar
terceirizados, correspondentes, lotéricos, banco postal,
etc.), sendo que praticamente 25% deles estão na base de São
Paulo, Osasco e região. Os bancários estão
entrando em campanha salarial, com data base em 1º de setembro,
e juntamente com correios, petroleiros e metalúrgicos, podem
protagonizar algo semelhante a uma greve geral no segundo semestre.
Mas para que isso aconteça, seria preciso passar por cima da
direção do movimento sindical, controlado há
décadas com mão de ferro pela Articulação
(PT), corrente majoritária da CUT, que em bancários se
organiza numa entidade chamada Contraf, filiada à CUT.
Contando com a colaboração de satélites como DS,
CTB, (PCdoB) e Intersindical, a Articulação se apoderou
dos principais sindicatos e os conduz de maneira cada vez mais
distante das lutas.
O
principal sindicato da categoria bancária no país, o
sindicato de São Paulo, Osasco e região, que dirige a
Contraf, é um verdadeiro conglomerado empresarial, com
gráfica, imobiliária, financeira, faculdade, ONG, etc.,
além de ser a porta de entrada para a diretoria dos fundos de
pensão do BB (PREVI) e da CEF (FUNCEF), por meio dos quais o
PT controla participações acionárias em centenas
de empresas e se associa organicamente aos interesses de classe da
burguesia brasileira.
Há
décadas esse sindicato abandonou a combatividade e se
transformou no maior promotor do “sindicalismo cidadão”,
eufemismo para colaboração de classes. O resultado
disso é que não há mais qualquer organização
no setor dos bancos privados, que representa metade da categoria, e
as lutas se restringem aos bancos públicos (BB, CEF, Banco do
Nordeste, Banco da Amazônia e alguns estaduais remanescentes).
A Articulação se sustenta eleitoralmente na base de
bancos privados (que vê o sindicado como uma espécie de
clube de convênios), que lhe dão folgada maioria em São
Paulo, e usa esse controle para impedir as lutas nos bancos públicos.
Os burocratas do PT se perpetuam como representantes nas mesas de
negociação, enquanto que do outro lado da mesa, os
dirigentes do BB e CEF (assim como das demais estatais como Correios
e Petrobrás) são também do próprio PT ou
indicados por partidos governistas. Isso impede que nas negociações
salariais as verdadeiras necessidades dos
trabalhadores sejam postas em pauta. Os acordos são muito
rebaixados e para que sejam aprovados a Contraf-CUT e seus satélites
usam todos os tipos de manobras, como trazer os gerentes e fura
greves em massa para votar a favor do acordo, em assembleias no
horario da noite.
Essas
traições escancaradas, somadas à ausência
de organização de base, de representantes nos locais de
trabalho, de fóruns permanentes de discussão e de
organização, de enfrentamento cotidiano aos desmandos e
abusos dos gerentes, faz com que os bancários estejam já
muito desconfiados do movimento sindical e da greve. Os bancários
vão à greve todos os anos desde 2003, mas o fazem
porque simplesmente não suportam mais as condições
de trabalho. O excesso de serviço, a pressão diária,
a cobrança dos gerentes, o assédio moral, o adoecimento
físico e psicológico, massacram
diariamente esses trabalhadores, que vêem na greve uma forma
de dizer “chega, não agüento mais!”, que funciona
como uma válvula de escape. Fazem greve e deixam de ir
trabalhar, mas deixam também de comparecer às
atividades de greve, piquetes, assembleias, etc., desconfiados
de que os dirigentes dos sindicatos vão trair a luta a
qualquer momento.
Esse
potencial de insatisfação está presente todos os
anos nas campanhas salariais. O desafio é fazer com que essa
insatisfação que leva à “greve do saco cheio”
se transforme em uma mobilização com participação
e envolvimento dos trabalhadores na luta, com presença nas
assembleias e mobilizações, de forma a passar por cima
das burocracias dirigentes. Esse papel cabe às oposições
sindicais. Infelizmente, o Movimento Nacional de Oposição
Bancária - CSP-Conlutas, abandonou o projeto de construir
campanhas independentes da burocracia, participando dos fóruns
da CUT, sob o pretexto de “disputar a base” da Articulação.
Por
outro lado, a Frente Nacional de Oposição Bancária,
composta por coletivos de vários estados (entre os quais o
Bancários de Base – SP, em que milita o Espaço
Socialista) e ativistas independentes, luta para resgatar um
sindicalismo combativo, classista, antigovernista e democrático,
resgatando a pauta de reivindicações históricas
e fazendo oposição intransigente à burocracia da
Contraf-CUT. O Bancários de Base – SP também
participa do boletim “Avante, Bancários!”, em conjunto com
outros coletivos de oposição da base de São
Paulo. Lutamos para resgatar os elementos básicos de
democracia nas assembleias, para que as assembleias sejam no horario
da tarde (sem a presença de gerentes e fura greves), para que
os bancários possam falar, possam fazer propostas, possam
colocar propostas em votação, possam eleger
representantes na mesa de negociação, possam discutir
as questões específicas durante a campanha salarial.
São esses elementos básicos que podem motivar os
bancários a tomar as questões em suas mãos.
Assim como os manifestantes ocuparam as ruas, precisamos ocupar a
quadra nas assembleias!
Daniel M.
Delfino
Setembro
2013
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