3.11.15

Bancários: contra os governistas do movimento sindical, retomar as lutas e a organização da categoria



Existem mais de 400 mil bancários no país (sem considerar terceirizados, correspondentes, lotéricos, banco postal, etc.), sendo que praticamente 25% deles estão na base de São Paulo, Osasco e região. Os bancários estão entrando em campanha salarial, com data base em 1º de setembro, e juntamente com correios, petroleiros e metalúrgicos, podem protagonizar algo semelhante a uma greve geral no segundo semestre. Mas para que isso aconteça, seria preciso passar por cima da direção do movimento sindical, controlado há décadas com mão de ferro pela Articulação (PT), corrente majoritária da CUT, que em bancários se organiza numa entidade chamada Contraf, filiada à CUT. Contando com a colaboração de satélites como DS, CTB, (PCdoB) e Intersindical, a Articulação se apoderou dos principais sindicatos e os conduz de maneira cada vez mais distante das lutas.
O principal sindicato da categoria bancária no país, o sindicato de São Paulo, Osasco e região, que dirige a Contraf, é um verdadeiro conglomerado empresarial, com gráfica, imobiliária, financeira, faculdade, ONG, etc., além de ser a porta de entrada para a diretoria dos fundos de pensão do BB (PREVI) e da CEF (FUNCEF), por meio dos quais o PT controla participações acionárias em centenas de empresas e se associa organicamente aos interesses de classe da burguesia brasileira.
Há décadas esse sindicato abandonou a combatividade e se transformou no maior promotor do “sindicalismo cidadão”, eufemismo para colaboração de classes. O resultado disso é que não há mais qualquer organização no setor dos bancos privados, que representa metade da categoria, e as lutas se restringem aos bancos públicos (BB, CEF, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e alguns estaduais remanescentes). A Articulação se sustenta eleitoralmente na base de bancos privados (que vê o sindicado como uma espécie de clube de convênios), que lhe dão folgada maioria em São Paulo, e usa esse controle para impedir as lutas nos bancos públicos. Os burocratas do PT se perpetuam como representantes nas mesas de negociação, enquanto que do outro lado da mesa, os dirigentes do BB e CEF (assim como das demais estatais como Correios e Petrobrás) são também do próprio PT ou indicados por partidos governistas. Isso impede que nas negociações salariais as verdadeiras necessidades dos trabalhadores sejam postas em pauta. Os acordos são muito rebaixados e para que sejam aprovados a Contraf-CUT e seus satélites usam todos os tipos de manobras, como trazer os gerentes e fura greves em massa para votar a favor do acordo, em assembleias no horario da noite.
Essas traições escancaradas, somadas à ausência de organização de base, de representantes nos locais de trabalho, de fóruns permanentes de discussão e de organização, de enfrentamento cotidiano aos desmandos e abusos dos gerentes, faz com que os bancários estejam já muito desconfiados do movimento sindical e da greve. Os bancários vão à greve todos os anos desde 2003, mas o fazem porque simplesmente não suportam mais as condições de trabalho. O excesso de serviço, a pressão diária, a cobrança dos gerentes, o assédio moral, o adoecimento físico e psicológico, massacram diariamente esses trabalhadores, que vêem na greve uma forma de dizer “chega, não agüento mais!”, que funciona como uma válvula de escape. Fazem greve e deixam de ir trabalhar, mas deixam também de comparecer às atividades de greve, piquetes, assembleias, etc., desconfiados de que os dirigentes dos sindicatos vão trair a luta a qualquer momento.
Esse potencial de insatisfação está presente todos os anos nas campanhas salariais. O desafio é fazer com que essa insatisfação que leva à “greve do saco cheio” se transforme em uma mobilização com participação e envolvimento dos trabalhadores na luta, com presença nas assembleias e mobilizações, de forma a passar por cima das burocracias dirigentes. Esse papel cabe às oposições sindicais. Infelizmente, o Movimento Nacional de Oposição Bancária - CSP-Conlutas, abandonou o projeto de construir campanhas independentes da burocracia, participando dos fóruns da CUT, sob o pretexto de “disputar a base” da Articulação.
Por outro lado, a Frente Nacional de Oposição Bancária, composta por coletivos de vários estados (entre os quais o Bancários de Base – SP, em que milita o Espaço Socialista) e ativistas independentes, luta para resgatar um sindicalismo combativo, classista, antigovernista e democrático, resgatando a pauta de reivindicações históricas e fazendo oposição intransigente à burocracia da Contraf-CUT. O Bancários de Base – SP também participa do boletim “Avante, Bancários!”, em conjunto com outros coletivos de oposição da base de São Paulo. Lutamos para resgatar os elementos básicos de democracia nas assembleias, para que as assembleias sejam no horario da tarde (sem a presença de gerentes e fura greves), para que os bancários possam falar, possam fazer propostas, possam colocar propostas em votação, possam eleger representantes na mesa de negociação, possam discutir as questões específicas durante a campanha salarial. São esses elementos básicos que podem motivar os bancários a tomar as questões em suas mãos. Assim como os manifestantes ocuparam as ruas, precisamos ocupar a quadra nas assembleias!

Daniel M. Delfino
Setembro 2013


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