5.11.15

Ucrânia: todo apoio à resistência em Donetsk e Lugansk! Contra os neonazistas, o imperialismo e a capitulação da Rússia!


O conflito na Ucrânia está no centro da situação política internacional há vários meses e deixou de ser apenas mais um exemplo de uma população insatisfeita que derruba seu governante, como tem acontecido em vários países na sequência da crise econômica mundial iniciada em 2008, para se tornar uma questão geopolítica que envolve as principais potências mundiais. A Ucrânia estava em vias de ser incorporada pela União Europeia quando, na última hora, o presidente Viktor Yanukovich voltou atrás e recusou-se a assinar o tratado de adesão, em novembro de 2013, preferindo priorizar as relações históricas com a Rússia. Imediatamente começaram protestos contra a decisão de Yanukovich, pressionando pela entrada do país na União Europeia. Esses protestos, liderados por grupos neonazistas, terminaram com a queda do presidente em fevereiro de 2014.
A queda de Viktor Yanukovich levou à posse de um novo governo, que não foi aceito em várias regiões do país. De imediato, a Criméia organizou um plebiscito, separou-se da Ucrânia e optou por integrar-se à Rússia (que prontamente deslocou tropas e incorporou a nova província). A Criméia possui uma população de esmagadora maioria russa, o que explica o resultado do plebiscito (90% votaram pela integração à Rússia), mas existem outras regiões no leste da Ucrânia, como Donetsk, Lugansk e Kharkov, em que as populações russas e ucranianas estão misturadas. Essas regiões estão em aberto conflito com o governo estabelecido em Kiev, de modo que a crise não se resolveu e está em pleno andamento. Prédios públicos foram ocupados por milícias pró-russas nessas regiões.
Esse conflito interno repercute internacionalmente e opõe frontalmente as duas principais potências nucleares do planeta, os Estados Unidos e a Rússia. Os Estados Unidos tomaram a frente da União Europeia (fachada para o imperialismo alemão) e se tornaram os portavozes da “comunidade internacional” na condenação dos passos dados pela Rússia, impondo sanções econômicas (proibição de realização de certos negócios) ao país eslavo pelo seu comportamento na crise ucraniana. Depois de uma tensa negociação (os mais apressados falaram em uma “nova Guerra Fria”), foi feito um acordo em Genebra em abril pelo qual a Rússia pôde manter a Crimeia, com a condição de que não avançasse para incorporar novos territórios na Ucrânia. Essa condição foi aceita pelo governo Putin, pois ainda que tenha perdido quase toda a Ucrânia, um satélite que historicamente pertenceu a sua esfera de influência, mesmo assim garantiu a posse de uma região estratégica: a Crimeia é a sede da frota russa no Mar Negro, porta de entrada no Mediterrâneo.
Mas apesar do acordo entre as potências, a situação permanece instável no leste da Ucrânia, região de fronteira com a Rússia. Donetsk e Lugansk já realizaram em 11 de maio seus próprios referendos, em que a maioria da população votou também pela separação da Ucrânia. Em várias cidades as tropas do exército e da polícia enviadas pelo governo central em Kiev para retomar a posse dos edifícios públicos desertaram e se passaram para o lado dos insurgentes, ou no mínimo recusaram-se a obedecer. Como o governo parecia incapaz de agir pelos meios normais, as mesmas milícias neonazistas que derrubaram o governo anterior foram legalizadas como componentes de uma “Guarda Nacional” para “auxiliar” o exército. Os neonazistas atacaram ativistas pró-russos, resultando na morte de quase 50 pessoas na Casa dos Sindicatos em Odessa, no sul do país.
O massacre de Odessa não deixa dúvidas quanto ao destino que aguarda as populações de Donetsk e Lugansk caso se dobrem ao governo de Kiev: repressão, violência e morte, é tudo que o novo governo tem a oferecer. Estamos falando de um governo composto por oligarcas, nome que é dado aos antigos membros da burocracia soviética que, com o fim da URSS, saquearam as antigas empresas estatais por meio da força, assassinando os oponentes, e se converteram em burgueses mafiosos, milionários e bilionários, controlando totalmente a política desses países, como se fossem sua propriedade. São essas figuras que hoje ocupam o governo ucraniano, com a benção dos Estados Unidos e União Europeia. Os grupos neonazistas ucranianos nesse momento agem como suas tropas de choque.
Esses acontecimentos expõem também o erro grosseiro de algumas organizações que, quando da queda de Viktor Yanukovich, chegaram a falar em “revolução democrática” e “duplo poder” na Praça Maidan (Praça da Independência, no centro de Kiev, há meses ocupada pelos neonazistas). Esse é o problema de quando se desconsidera completamente o grau de organização, consciência e capacidade de ação independente da classe trabalhadora, como se fosse algo insignificante e bastasse uma “direção revolucionária” para que o processo fosse conduzido pela esquerda. Essa abordagem se perde na superfície dos fenômenos e não é capaz de compreender a dinâmica profunda do movimento das classes. Agora, essas organizações que festejaram a queda de Yanukovich como uma “revolução democrática” precisam reconhecer que o governo instalado na capital da Ucrânia é um títere do imperialismo euro estadunidense, e que sua base de sustentação social são os neonazistas.
Desde o início nós do Espaço Socialista apontamos o perfil de extrema direita das manifestações que derrubaram Yanukovich e sua ideologia pró europeia, pró estadunidense, pró livre mercado. A maioria da população foi seduzida pela “Eurotopia” do ingresso na União Europeia e apoiou as manifestações anti Yanukovich. Dizíamos também que a Rússia não era uma alternativa, o que se provou mais uma vez acertado, pois o governo Putin já reafirmou que não vai interferir na situação interna ucraniana em favor dos separatistas pró-russos. A Rússia vai cumprir os acordos de Genebra, garantir para si a posse da Crimeia e deixar as populações que não aceitam o golpe fascista entregues à própria sorte.
A mídia internacional, a serviço do imperialismo, chama os separatistas de Donetsk e Lugansk de terroristas. O imperialismo só reconhece votações quando o resultado sai a seu favor, o que não aconteceu nos referendos das províncias ucranianas do leste. Por outro lado, as eleições marcadas para 25 de maio estão sendo apresentadas como a legitimação democrática do novo governo instalado pela força em Kiev. Para que se tenha ideia do clima em que transcorrerão essas eleições, uma tentativa de comício de um dos apoiadores do governo derrubado terminou com o linchamento e hospitalização do candidato, impedido de falar em público pelas milícias da direita. A imprensa russa está proibida de trabalhar no pais. Críticos do novo governo são caçados nas ruas, linchados, assassinados, ameaçados. Essa é a “revolução democrática” da Praça Maidan.
Os separatistas em Donetsk e Lugansk se encontram numa situação difícil. Optaram por separar-se da Ucrânia, o que representa um ato de resistência contra o golpe fascista desfechado em Kiev. Mas a opção de unificação com a Rússia permanece bloqueada pela recusa do governo Putin, que rifou os separatistas em obediência ao acordo com o imperialismo que lhe garantiu a posse definitiva da Crimeia. Assim, sendo, só resta como alternativa a constituição de uma república autônoma nessas regiões. Nesse momento, o setor que resiste ao golpe fascista e proclama a autonomia em Donetsk e Lugansk é o setor politicamente mais progressivo.
Não por coincidência, essas regiões concentram importantes populações operárias, empregadas em geral nas atividades de mineração, que mantinham uma relação histórica com a Rússia. Seriam também as populações mais afetadas pela entrada em vigor do livre comércio com a União Europeia, que rebaixaria seus salários e direitos. No momento, essas regiões resistem ao governo de Kiev em nome de tradições nacionais, linguisticas ou até religiosas. Mas essas formas ideológicas são disfarces para o conteúdo social profundo que é de uma resistência operária contra um golpe fascista. Os governantes designados para a região pelos golpistas de Kiev são todos oligarcas odiados pela população.
Essa resistência anti fascista terá que dar saltos de consciência, para além de uma ideologia nacionalista russa, e avançar numa direção anticapitalista, única alternativa que permitirá resistir ao cerco do fascismo e do imperialismo que vem do oeste e à capitulação do governo oligárquico-mafioso de Putin no leste.
Todo apoio à resistência antifascista em Donetsk e Lugansk! Pelo direito de autodeterminação das populações do leste ucraniano! Contra a campanha difamatória da mídia imperialista! Terroristas são os fascistas de Kiev e os lacaios dos Estados Unidos e União Europeia! Contra a farsa das eleições do porrete de 25 de maio! Contra o governo golpista de Kiev e o acordo de livre comercio com a União Europeia! Por um governo socialista dos trabalhadores em toda a Ucrânia!

Daniel M. Delfino
Maio 2014


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