A
morte do presidente venezuelano Hugo Chávez em 5 de março
passado, depois de 2 anos de luta contra o câncer, que não
o impediu de vencer a 14ª das 15 eleições de que
participou, reabriu o debate sobre o significado do projeto chavista,
sua “revolução bolivariana” ou “socialismo do
século XXI” e as perspectivas para a Venezuela e a América
Latina. Num momento inicial, os opositores de Chávez pela
direita, o imperialismo e seus aliados latinoamericanos, as elites
brancas, racistas e entreguistas que sempre governaram a América
Latina de “veias abertas” e “relações carnais”
com o imperialismo; os seus representantes na mídia, como
revista Veja, Folha e Estado de São Paulo, rede Globo, etc.;
todos comemoraram a morte de Chávez e anteviram o fim de seu
projeto político. Chegou-se a falar até em
instabilidade e perigo de golpe na Venezuela, tamanho é o ódio
despertado pelo chavismo e o desejo da direita burguesa de retomar o
poder a qualquer custo. Num segundo momento, consolidou-se a
situação em que o vice de Chávez, Nicolas
Maduro, assumirá o papel de condutor do projeto. Uma vitória
eleitoral do chavismo, porém, longe de deixar “tudo
resolvido”, nos coloca uma questão muito séria, a de
qual deve ser a postura dos que lutam pelo socialismo em relação
ao projeto chavista, seu balanço e perspectivas, sobre o que
discutiremos a seguir.
Origem
de Chávez e sua trajetória na Venezuela
A
origem do movimento chavista pode ser buscada no “caracazo” de
1989, um imenso levantamento popular na capital venezuelana, em que
os planos de “austeridade” (corte dos gastos sociais) do
presidente Carlos Andrés Perez geraram manifestações
colossais, saques aos supermercados, confrontos com a polícia,
etc. O governo jamais se recuperou e a instabilidade permaneceu no
país. Em 1992 um jovem coronel chamado Hugo Chávez
liderou uma tentativa de golpe de estado que foi derrotada, que o
levou a alguns anos na prisão. Carlos Andrés Perez
seria afastado do poder em 1993, quando sofreu um impeachment por
corrupção.
Ao
contrário do restante da América Latina, não
houve golpes militares na Venezuela para reprimir as lutas populares
e a “ameaça comunista”, desde a queda do último
ditador em 1958. Com isso, houve espaço para que se formasse
um setor nacionalista nas forças armadas venezuelanas, de onde
Chávez recrutou os integrantes do Movimento Quinta República.
Com seu discurso contra a espoliação do país
pelos Estados Unidos e o imperialismo, Chávez foi se tornando
cada vez mais popular. Em 1998, foi eleito presidente, a primeira de
suas várias vitórias eleitorais. Em 1999 alterou a
constituição do país, que passou a se chamar
República Bolivariana da Venezuela (em referência a
Simon Bolivar, um dos líderes da independência dos
países latioamericanos do domínio espanhol no século
XIX e ídolo de Chávez). Seu projeto político, em
termos de discurso, era completar a independência do país,
contra os dominadores estrangeiros, desenvolvendo a soberania do
Estado venezuelano.
Realizações
do chavismo
A
principal luta para que o governo de Chávez conseguisse
desenvolver suas realizações (redução da
pobreza, das desigualdades sociais, do desemprego etc.) foi a
retomada do controle da empresa petrolífera estatal, a PDVSA.
O petróleo é a principal riqueza do país,
respondendo por 95% das exportações e 45% da
arrecadação federal (dados do CIA World Factbook,
disponíveis em
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ve.html).
De acordo com a mesma fonte, a Venezuela é o 14º maior
produtor de petróleo, com 2,45 milhões de barris por
dia e o 10º maior exportador, com 1,69 milhões, e possui
a 3ª maior reserva comprovada do mundo, com 209,4 bilhões.
Antes de Chávez, a PDVSA era controlada por uma camada de
gerentes corruptos apelidada de “meritocracia”, que não
tinha mérito nenhum, mas a “esperteza” de roubar o
dinheiro da estatal para montar negócios particulares. A
burguesia venezuelana se sustentava nessa espoliação do
dinheiro público, vivendo isolada do povo do próprio
país e cultivando o hábito de residir em mansões
em Miami.
A
partir de Chávez, a maior parte da “meritocracia” foi
expulsa ou passou a colaborar com seu governo. Com o aumento do preço
do petróleo nos anos 2000 (de US$ 10,41 em 1998 para US$
107,66 em 2013 e picos de US$ 132,55 em 2008, considerando-se uma
média dos preços do barril das veriedades de petróleo
tipo Brent, Texas Oeste e Dubai Fateh – dados do Indexmundi
http://www.indexmundi.com/pt/pre%E7os-de-mercado/?mercadoria=petr%C3%B3leo-bruto&meses=300),
a renda estatal aumentou de maneira explosiva. Com isso, Chávez
passou a sustentar programas de bem estar social para a população
pobre do país, tais como as chamadas “missões”, em
que médicos (a maioria cubanos) e professores passaram a
visitar as favelas e periferias, o que nunca havia acontecido; ou
ainda como o programa “Gran Missión Vivenda”, programa de
moradia similar ao “Minha Casa, Minha Vida” brasileiro, mas que,
para o porte da sociedade venezuelana, tem um impacto muito maior
(além de garantir que aqueles que ganham até um salário
mínimo recebam sua casa totalmente custeada pelo Estado).
Apesar dessas importantes mudanças, não houve qualquer
alteração substancial no sistema capitalista. A
exploração cotidiana dos trabalhadores permanece
inalterada e permanecem os problemas sociais típicos do
capitalismo: miséria, violência, corrupção...
Como todo país capitalista pobre, periférico e
explorado, a Venezuela chavista continuou vendendo petróleo
aos Estados Unidos e continuou pagando a sua dívida externa.
A
opoição de direita
Apesar
da continuidade dos elementos fundamentais do capitalismo, a ousadia
de Chávez de dividir uma parte da renda do petróleo com
os pobres enfureceram a burguesia local e o imperialismo, tendo,
pois, respaldo, principalmente, no setor da população
de alta renda do país. Em 2002 um golpe de estado liderado
pela Fedecamaras, a federação empresarial venezuelana,
tirou Chávez do poder por dois dias e foi prontamente
reconhecido pelos Estados Unidos. No entanto, um milhão de
pessoas provenientes dos bairros periféricos de Caracas cercou
o palácio presidencial, exigindo a volta de Chávez, que
foi reconduzido ao poder pelo setor leal das forças armadas.
Por todo o país, os trabalhadores se preparavam para um
confronto armado, mas Chávez optou pela conciliação
com os golpistas, que não foram punidos. Em 2003, os mesmos
setores empresariais lideraram um “lockout”, uma greve patronal,
com o fechamento das empresas, na tentativa de paralisar a economia
para derrubar o governo. Os trabalhadores reagiram mais uma vez e
chegaram a tomar o controle da produção da PDVSA. No
entanto, mais uma vez Chávez chegou a um acordo com a
burguesia e paralisou as iniciativas autônomas dos
trabalhadores.
Sem
conseguir derrubar ou desestabilizar Chávez, a direita
(apelidada de “esquálida”) optou por um discurso
ideológico raivoso, imputando ao presidente a pecha de
ditador, nome pelo qual é tratado na imprensa internacional, a
despeito das inúmeras eleições que venceu, de
ter submetido seu mandato a referendo, etc. Pelos critérios da
democracia burguesa, não há nada de anti democrático
no governo chavista (discutiremos logo abaixo os critérios
socialistas e de democracia operária). O que não se
tolera na verdade é o seu discurso pseudo-socialista, pois a
burguesia sabe o perigo que pode estar escondido nessa palavra, que
havia sido banida do vocabulário. Nos anos seguintes, a
oposição mudou seu discurso para uma variedade menos
raivosa e conciliadora, “construtiva”, até porque o
chavismo não rompeu em nada com o capitalismo, e muitos
burgueses passaram a fazer parte do partido chavista.
O
nacionalismo burguês do século XXI
O
exemplo de Chávez se irradiou para o restante da América
Latina, com importantes diferenças de país para país,
mas ainda assim como parte de um processo comum. O continente passou
por um importante ciclo de lutas populares na década passada,
com grandes mobilizações contra os efeitos mais
nefastos do neoliberalismo e da mundialização típicos
da década de 1990. São exemplos desse ciclo a “guerra
da água” em 2000 e a “guerra do gás” em 2003 na
Bolívia, a queda de presidentes em 1997, 2000 e 2005 no
Equador, e o mais massivo de todos, o “argentinazo” de 2001.
Esses processos de luta representam uma resposta dos trabalhadores do
continente aos efeitos da crise anterior do capitalismo, por volta do
ano 2000. Entretanto, foram caracterizadas pela ausência de um
projeto que questionasse não apenas os efeitos do
neoliberalismo, mas o capitalismo como um todo.
Como
parte daquilo que chamamos de crise da alternativa socialista, as
lutas do início da década passada não tinham
como referência um projeto de transformação
revolucionária do conjunto da sociedade, mas o simples
atendimento de demandas parciais. Não eram baseados numa
tentativa organizada de tomar o poder e o controle da produção
a partir dos locais de trabalho, mas sim em mobilizações
em que os trabalhadores apareciam diluídos como habitantes de
determinados bairros ou regiões do país. Com isso, ao
invés de avançar para uma ruptura completa com o
capitalismo, esses importantes movimentos de luta foram administrados
por dentro dos mecanismos da democracia burguesa, ou seja, foram
desviados para a ocupação de cargos no Estado.
Elegeram-se candidatos que diziam representar a continuidade das
lutas, exatamente para paralisá-las. Mantiveram-se as
estruturas fundamentais do capitalismo, o Estado, a constituição,
a propriedade privada, as forças armadas, etc.
Os
dirigentes eleitos para paralisar as mobilizações, como
Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia,
Rafael Correa no Equador, retomaram um discurso nacionalista, que nem
chegou aos pés do nacionalismo do século XX (o qual
chegou a expropriar empresas estrangeiras que exploravam petróleo,
como fez Cárdenas na década de 1930 no México).
Sustentaram-se numa espécie de “nacionalismo de
commodities”, baseando-se no aumento conjuntural dos preços
dos hidrocarbonetos, minérios, produtos agrícolas,
etc., que caracterizou a primeira década do século,
para implantar algumas políticas sociais limitadas, das quais
as populações latinoamericanas sempre foram
cronicamente carentes. De outro lado, como representação
de saídas menos “radicais” e a partir de uma negação
menos contundente dos efeitos do neoliberalismo em sua roupagem mais
“pura”, elegeu-se Lula no Brasil, cuja gestão neoliberal
teve um papel decisivo para impedir o avanço das lutas e
moderar os programas dos novos presidentes “de esquerda” ou que
rompiam com o predomínio dos partidos tradicionais que se
elegeriam dali em diante, como os Kirchner na Argentina, Bachelet no
Chile, Vasquez no Uruguai, Lugo, no Paraguai, Ortega na Nicarágua,
etc. Todos limitaram-se a um certo grau de avanço em políticas
sociais, e, em larga medida, numa gestão aceitável para
a burguesia.
As
fragilidades da alegação de um “Socialismo do Século
XXI”
A
“revolução bolivariana” na Venezuela foi o
protótipo e modelo de todos esses movimentos. Ao dizer que
defende um “socialismo” busca confundir e dar um ar de esquerda e
anticapitalista ao seu projeto, que todos sabemos não tem nada
de socialista. Trata-se de uma confusão proposital, para
atrair o apoio de todos os que simpatizam com o socialismo. Essa
confusão proposital é um estelionato, uma manobra de
usurpação do conceito de socialismo para defender a
continuidade do capitalismo. Com isso, a nomenclatura termina por
realizar duas confusões: primeiramente, induz à ideia
de que no século XX houve socialismo; em segundo lugar, na
verdade, escamoteia as reais distinções deste projeto
para com a ideia de socialismo.
Em
primeiro lugar, o fato de que o método proposto para alcançar
o socialismo não é uma ruptura revolucionária,
mas a eleição de candidatos que impulsionem um
“processo de mudanças”. Ora, já vimos no caso da
própria Venezuela como a burguesia reage no caso de uma
tentativa de “mudanças”, com o golpe e o lockout, e como
Chávez, ao invés de aprofundar as mudanças,
optou por conciliar com os golpistas. Ou seja, a intenção
de fato nunca foi romper com o capitalismo, mas continuar convivendo
com ele. A lição é de que não existe
socialismo sem a tomada do poder, a destruição da
máquina do Estado (forças armadas, polícia,
judiciário, legislativo e executivo), a expropriação
dos meios de produção (fábricas, minas,
fazendas, bancos, etc) e a sua gestão coletiva.
Em
segundo lugar, o fato de que o “socialismo do século XXI”
não se baseia na classe trabalhadora, a classe que produz toda
a riqueza social. As bases sociais originárias do movimento
chavista foram e continuaram a ser as forças armadas, as quais
se juntaram, posteriormente, os setores mais poderosos da burocracia
venezuelana; ou seja, as bases sociais do chavismo residem no próprio
aparato do Estado. Os trabalhadores respaldam o chavismo por causa
das pequenas melhorias (ainda que importantes) que obtiveram, mas são
essencialmente um objeto passivo, uma massa pronta a atender a seu
governo, no “seguidismo” típico do chavismo. Não
são os trabalhadores que determinam os rumos do movimento, mas
o próprio Chávez e agora seus sucessores é quem
decidem tudo. Os trabalhadores não aparecem como sujeito
social autônomo, dotado organismos auto determinados e baseados
nos locais de trabalho, a partir de onde se possa socializar a
produção, mas como moradores dos bairros, cujo papel é
eleger candidatos chavistas e pressionar por verbas do Estado. Contra
isso afirmamos em alto e bom som: não existe socialismo sem a
classe trabalhadora auto determinada!
Em
terceiro lugar, o fato de que não há uma verdadeira
democracia operária na Venezuela chavista, mas a mesma
democracia burguesa de sempre. Chávez não só
manteve a estrutura do Estado burguês como a usou para reprimir
os trabalhadores em diversas greves e processos de luta, prender
dirigentes sindicais, etc. As organizações dos
trabalhadores foram forçadas a se dissolver e seus militantes
a entrar no partido chavista, o PSUV, acatando o centralismo
burocrático, o projeto eleitoral e abstendo-se de apresentar
divergências. Aqueles que não aceitassem seriam
rotulados de “contra revolucionários” e aliados da direita
“esquálida” e do imperialismo.
Em
quarto lugar, ainda que o chavismo tivesse avançado para um
maior controle estatal, o que nem sequer aconteceu numa escala
significativa, o socialismo não é o mesmo que
estatização, nem se limita a uma simples divisão
da renda através do Estado. O socialismo se define pela
existência de organismos auto determinados dos trabalhadores,
compostos por representantes eleitos pela base em cada local de
trabalho, com mandatos revogáveis a qualquer tempo,
responsáveis por gerir coletivamente a produção,
decidindo o que produzir, como produzir e em que quantidade, acabando
com a separação alienada e hierárquica entre
economia e política, entre os que decidem e os que executam,
entre os que fazem trabalho braçal e intelectual. Tudo isso
está ausente do projeto chavista. Por ter mantido as próprias
características de sua origem militar, sua concepção
de mundo é hierárquica e burocrática: cabe ao
presidente decidir e ao povo obedecer.
Nem
pró imperialismo nem pró chavismo: por uma alternativa
socialista e operária!
Em
função dessas diferenças gritantes entre o
chavismo e o socialismo, muitos socialistas passaram a fazer oposição
sistemática a Chávez. Nessa oposição,
entretanto, várias correntes socialistas foram longe demais, a
ponto de ultrapassar a barreira de classe. Passaram a defender
bandeiras e palavras de ordem idênticos ao dos opositores
burgueses, participando de manifestações lado a lado
com os “esquálidos”. O exemplo mais claro desse erro foi o
do PSTU no Brasil, que aderiu à campanha do “Não”
no referendo constitucional sobre reeleição em 2009,
apoiando as manifestações dos estudantes “esquálidos”
por democracia.
De
outro lado, por conta do cerco global do imperialismo contra o
chavismo e seus derivados, muitas correntes socialistas adotaram a
postura de apoio (às vezes, crítico) a Chavéz.
Com isso, levam em consideração as realizações
do chavismo, os programas sociais, etc., e desconhecem seus limites,
que descaracterizam qualquer pretensão de socialismo
(manutenção do capitalismo, do Estado, da propriedade
privada, centralização burocrática, etc.). Ainda
assim, essas correntes se colocam como parte do campo chavista,
priorizando a defesa da “revolução bolivariana”, em
relação ao desenvolvimento de organizações
autônomas dos trabalhadores. O exemplo dessa postura no Brasil
é o do PCB e correntes próximas.
Essas
duas posições cometem o erro de perder a referência
de classe. O chavismo não é um movimento de superação
radical da miséria da classe trabalhadora e não serve
como caminho para o socialismo. Ainda assim, a Venezuela e outros
países em que se estabeleceram governos nacionalistas
burgueses no século XXI se tornaram alvos preferenciais do
imperialismo e devem ser defendidos contra qualquer tentativa de
golpe ou de intervenção. Mas os trabalhadores devem se
manter independentes desses governos, pois do contrário serão
as maiores vítimas quando são derrubados, seja pela via
eleitoral ou pela força, como aconteceu com Lugo no Paraguai,
que foi derrubado sem esboçar qualquer reação.
Esses governos são incapazes de reagir, como foi demonstrado
várias vezes na história, e o chavismo o demonstrou
mais uma vez, pois seus dirigentes são incapazes de romper com
a barreira de classe, com a propriedade privada e o Estado. Essa
lição é crucial num momento histórico em
que o capitalismo atravessa uma de suas mais violentas crises e a
luta de classes tende a ficar mais aguda e transparente. Apesar de
nos solidarizar com o sofrimento por que passa o povo venezuelano,
somos todos chamados a reafirmar que só a superação
do capitalismo pode pôr fim a todas as mazelas que acometem a
Venezuela. Esta superação, porém, só pode
se dar por uma autêntica revolução socialista,
revolução esta para a qual se faz necessário o
desenvolvimento de organismos de luta da classe trabalhadora armados
com um programa de ruptura com o capitalismo, completamente
independentes de correntes pequeno-burguesas, nacionalistas e
burocráticas. Nesse sentido, a oposição que
fazemos ao chavismo não se estende às lutas do povo
venezuelano; pelo contrário, nos colocamos prontamente em
solidariedade às suas lutas contra a burguesia e contra os
interesses do imperialismo.
Daniel
M. Delfino
Abril
2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário