No dia 9
de dezembro o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), em um discurso na
Câmara dos Deputados, se referindo à deputada Maria do
Rosário (PT-RS), disse que “só não a
estupraria porque ela não merece.”
Depois
desse discurso, houve alguma reação dentro do Congresso
por parte de alguns partidos, pedindo a abertura de um processo de
cassação contra o deputado por falta de decoro.
Independentemente do seu duvidoso andamento na Câmara, a
campanha pela cassação se espalhou pelas redes sociais,
em alguns casos pedindo também a prisão de Bolsonaro,
notório defensor da ditadura militar, da homofobia, da pena de
morte e outras ideias da ultra direita.
Somos a
favor da cassação e da prisão do deputado do PP,
pois tal frase é inadmissível, especialmente num país
em que milhões de mulheres são, violentadas,
assediadas, injustiçadas de diversas formas, submetidas à
dupla jornada, à escravidão doméstica, aos
salários menores pela mesma função, aos abortos
clandestinos, assassinadas em “crimes passionais”, etc. Essa
frase endossa todos esses crimes e sofrimentos, pois expressa a
concepção reacionária de que a mulher existe
para ser objeto do homem, e deve se contentar com isso.
O
raciocínio do deputado, se levado às suas consequências
lógicas, quer dizer que existem mulheres que merecem ser
estupradas, que o estupro portanto é um “prêmio”,
que as mulheres devem ser gratas aos homens que as estupram, que o
homem “macho” como ele deve fazer esse favor às mulheres,
e daí por diante. É quase inacreditável que uma
figura pública da sociedade tenha chegado a tal nível
de barbárie!
Seremos
parte da campanha pela cassação e prisão do
representante da ultra direita, pois se trata de um embate político
contra essas concepções. O fato de que alguém
com essas ideias seja eleito significa que existe um setor da
sociedade que concorda com seu pensamento, concorda com todas as
formas de violência e opressão praticadas contra as
mulheres e os LGBTs. A cassação e a prisão devem
ser um recado contra esse tipo de pensamento. É preciso deixar
claro que essa agressão não pode passar impune!
Entretanto, entendemos que essa campanha é uma tarefa que deve
ser levada adiante pelos movimentos de mulheres e dos trabalhadores
em geral. Bolsonaro somente irá cair pela pressão das
ruas!
Não
será o Congresso que irá por si mesmo reparar essa
agressão e expurgar o reacionarismo. São vários
motivos pelos quais as instituições do Estado burguês
são incapazes de serem reformadas. Em primeiro lugar, a
cassação de Bolsonaro, pura e simplesmente, não
alteraria a composição reacionária do Congresso,
pois o seu cargo seria ocupado por um suplente do mesmo partido. Em
segundo lugar, o Congresso como um todo é incapaz de moralizar
a si mesmo. As bancadas da Câmara e do Senado são
compostas de autores de crimes de todos os tipos, desde os que
praticam a devastação ambiental, empregam trabalho
escravo, etc., até a corrupção generalizada. A
instituição protege a si mesma, e não vai
entregar um de seus membros à justiça, a menos que seja
forçada a isso por uma imensa pressão popular.
Em
terceiro lugar, o conjunto das instituições do Estado
burguês, o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, as
Forças Armadas, a polícia, etc., são
instrumentos de dominação de classe. Existem para
garantir a continuidade das relações de exploração
capitalistas e da opressão sobre as mulheres. Essas
instituições passam a imagem de que representam “toda
a sociedade”, uma imagem que é necessária para que os
explorados não se revoltem, acreditem na possibilidade de
melhorias, caso “votem certo”, entre outras bobagens, e continuem
aceitando a dominação de uma minoria de parasitas e
exploradores. Na prática, as instituições do
Estado servem apenas a essa minoria, e não podem remediar os
problemas sociais, entre eles a opressão contra as mulheres,
porque não podem contrariar os interessas da classe dominante,
que se beneficia da superexploração das mulheres, da
dupla jornada, etc.
Em
quarto lugar, a própria bancada do PT de Maria do Rosário
se acovardou pateticamente diante da agressão, sendo incapaz
de encabeçar um movimento amplo pela cassação de
um criminoso confesso. A razão disso é que o PT está
tão acostumado a conviver com a ultra direita que não é
mais capaz de reagir aos seus abusos. O PT fez alianças com
todos os tipos de setores reacionários, desde os ruralistas,
premiados com o Ministério da Fazenda, às igrejas
neopentecostais, aos militares (o debate entre Bolsonaro e Maria do
Rosário se referia ao relatório da Comissão da
Verdade sobre os crimes da ditadura, que aliás, como era de se
esperar, seguirão impunes), etc.
O PT não
tem moral para enfrentar a ultra direita porque está se
parecendo com ela. Ao longo de 12 anos de governo, o PT não
resolveu nenhum dos problemas sociais do país, e garantiu
lucros excepcionais a todos os segmentos da burguesia, às
custas da exploração do nosso trabalho. Entre os
trabalhadores, o PT difundiu a ideologia do sucesso medido pelo
progresso material, pelo consumismo, e com isso referendou a
meritocracia e o individualismo. Com isso, não é de se
estranhar que as ideias da direita ganhem espaço na sociedade.
Isso explica porque não é totalmente inacreditável
chegarmos a ver esse tipo de barbárie, como dissemos acima.
Por
isso, seremos parte da campanha pela cassação de
Bolsonaro, mas entendemos que tal campanha deve ser levada adiante de
maneira completamente independente do PT, em oposição à
gestão do capitalismo e sua ideologia meritocrática e
de direita assumida pelo governo. Essa campanha deve ser levada às
mulheres da classe trabalhadora, para que saibam o que é a
Câmara dos deputados, o Congresso e o Estado, para que entendam
que é preciso se colocar em luta contra o machismo, o
reacionarismo e a exploração capitalista!
Fora
Bolsonaro! Todxs os seus defensores! E todxs que silenciam diante de
sua violência! Cassação de Mandato e Prisão,
já!
Criminalização
do Machismo!
Daniel M.
Delfino
Dezembro
2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário