5.11.15

Fora Bolsonaro! Fora todos que o defendem e fora os que silenciam perante o machismo!



No dia 9 de dezembro o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), em um discurso na Câmara dos Deputados, se referindo à deputada Maria do Rosário (PT-RS), disse que “só não a estupraria porque ela não merece.”
Depois desse discurso, houve alguma reação dentro do Congresso por parte de alguns partidos, pedindo a abertura de um processo de cassação contra o deputado por falta de decoro. Independentemente do seu duvidoso andamento na Câmara, a campanha pela cassação se espalhou pelas redes sociais, em alguns casos pedindo também a prisão de Bolsonaro, notório defensor da ditadura militar, da homofobia, da pena de morte e outras ideias da ultra direita.
Somos a favor da cassação e da prisão do deputado do PP, pois tal frase é inadmissível, especialmente num país em que milhões de mulheres são, violentadas, assediadas, injustiçadas de diversas formas, submetidas à dupla jornada, à escravidão doméstica, aos salários menores pela mesma função, aos abortos clandestinos, assassinadas em “crimes passionais”, etc. Essa frase endossa todos esses crimes e sofrimentos, pois expressa a concepção reacionária de que a mulher existe para ser objeto do homem, e deve se contentar com isso.
O raciocínio do deputado, se levado às suas consequências lógicas, quer dizer que existem mulheres que merecem ser estupradas, que o estupro portanto é um “prêmio”, que as mulheres devem ser gratas aos homens que as estupram, que o homem “macho” como ele deve fazer esse favor às mulheres, e daí por diante. É quase inacreditável que uma figura pública da sociedade tenha chegado a tal nível de barbárie!
Seremos parte da campanha pela cassação e prisão do representante da ultra direita, pois se trata de um embate político contra essas concepções. O fato de que alguém com essas ideias seja eleito significa que existe um setor da sociedade que concorda com seu pensamento, concorda com todas as formas de violência e opressão praticadas contra as mulheres e os LGBTs. A cassação e a prisão devem ser um recado contra esse tipo de pensamento. É preciso deixar claro que essa agressão não pode passar impune! Entretanto, entendemos que essa campanha é uma tarefa que deve ser levada adiante pelos movimentos de mulheres e dos trabalhadores em geral. Bolsonaro somente irá cair pela pressão das ruas!
Não será o Congresso que irá por si mesmo reparar essa agressão e expurgar o reacionarismo. São vários motivos pelos quais as instituições do Estado burguês são incapazes de serem reformadas. Em primeiro lugar, a cassação de Bolsonaro, pura e simplesmente, não alteraria a composição reacionária do Congresso, pois o seu cargo seria ocupado por um suplente do mesmo partido. Em segundo lugar, o Congresso como um todo é incapaz de moralizar a si mesmo. As bancadas da Câmara e do Senado são compostas de autores de crimes de todos os tipos, desde os que praticam a devastação ambiental, empregam trabalho escravo, etc., até a corrupção generalizada. A instituição protege a si mesma, e não vai entregar um de seus membros à justiça, a menos que seja forçada a isso por uma imensa pressão popular.
Em terceiro lugar, o conjunto das instituições do Estado burguês, o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, as Forças Armadas, a polícia, etc., são instrumentos de dominação de classe. Existem para garantir a continuidade das relações de exploração capitalistas e da opressão sobre as mulheres. Essas instituições passam a imagem de que representam “toda a sociedade”, uma imagem que é necessária para que os explorados não se revoltem, acreditem na possibilidade de melhorias, caso “votem certo”, entre outras bobagens, e continuem aceitando a dominação de uma minoria de parasitas e exploradores. Na prática, as instituições do Estado servem apenas a essa minoria, e não podem remediar os problemas sociais, entre eles a opressão contra as mulheres, porque não podem contrariar os interessas da classe dominante, que se beneficia da superexploração das mulheres, da dupla jornada, etc.
Em quarto lugar, a própria bancada do PT de Maria do Rosário se acovardou pateticamente diante da agressão, sendo incapaz de encabeçar um movimento amplo pela cassação de um criminoso confesso. A razão disso é que o PT está tão acostumado a conviver com a ultra direita que não é mais capaz de reagir aos seus abusos. O PT fez alianças com todos os tipos de setores reacionários, desde os ruralistas, premiados com o Ministério da Fazenda, às igrejas neopentecostais, aos militares (o debate entre Bolsonaro e Maria do Rosário se referia ao relatório da Comissão da Verdade sobre os crimes da ditadura, que aliás, como era de se esperar, seguirão impunes), etc.
O PT não tem moral para enfrentar a ultra direita porque está se parecendo com ela. Ao longo de 12 anos de governo, o PT não resolveu nenhum dos problemas sociais do país, e garantiu lucros excepcionais a todos os segmentos da burguesia, às custas da exploração do nosso trabalho. Entre os trabalhadores, o PT difundiu a ideologia do sucesso medido pelo progresso material, pelo consumismo, e com isso referendou a meritocracia e o individualismo. Com isso, não é de se estranhar que as ideias da direita ganhem espaço na sociedade. Isso explica porque não é totalmente inacreditável chegarmos a ver esse tipo de barbárie, como dissemos acima.
Por isso, seremos parte da campanha pela cassação de Bolsonaro, mas entendemos que tal campanha deve ser levada adiante de maneira completamente independente do PT, em oposição à gestão do capitalismo e sua ideologia meritocrática e de direita assumida pelo governo. Essa campanha deve ser levada às mulheres da classe trabalhadora, para que saibam o que é a Câmara dos deputados, o Congresso e o Estado, para que entendam que é preciso se colocar em luta contra o machismo, o reacionarismo e a exploração capitalista!
Fora Bolsonaro! Todxs os seus defensores! E todxs que silenciam diante de sua violência! Cassação de Mandato e Prisão, já!
Criminalização do Machismo!

Daniel M. Delfino
Dezembro 2014



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