Entre
as diversas maldades anunciadas logo no início do novo mandato
pela presidente Dilma – tais como os aumentos na conta de luz e
preço da gasolina, os cortes no Seguro Desemprego, PIS e
Pensões – está a privatização da Caixa
Econômica Federal – CEF, que foi apresentada com o pomposo
nome de “abertura de capital”. Esse nome significa que a CEF
deixaria de ter o capital 100% público, tal como é
hoje, e passaria a ser uma empresa de economia mista, com ações
em poder do governo e outras negociadas na Bolsa de Valores, nas mãos
de investidores privados.
Privatização
já avança no BB
Esse modelo é o que já
está em vigor hoje no Banco do Brasil – BB, já
transformado em um banco comercial idêntico aos bancos
privados, sem qualquer função pública, cujo
objetivo é o lucro a qualquer custo, obtido com a venda de
“produtos” bancários, tarifas abusivas e juros extorsivos.
Os funcionários vivem um cotidiano de excesso de serviço,
cobrança de metas, assédio moral sistemático e
adoecimento. Em 1998 foi mudado o regimento e todos os contratados
desde então tem salários menores, menos direitos, não
participam do mesmo fundo de pensão, etc. Não existe
plano de carreira, para ganhar mais é preciso vender e se
tornar gerente, e para se manter no cargo é preciso manter o
desempenho de vendas, sob uma pressão permanente.
Recentemente,
o BB anunciou a sua nova missão, “ser um banco de mercado
com espírito público”. O “espírito público”
significa que o Estado, ou seja, o dinheiro arrecadado de nós
trabalhadores, fica com o investimento, e o “mercado” fica com o
lucro. Em 2014 foram R$ 11,24 bilhões de lucro
(http://www.valor.com.br).
Esse modelo já vem sendo aplicado desde os governos do PSDB na
década de 1990 e foi mantido sem alterações nos
governos do PT. A gestão privatista vai vendendo o BB por
fatias, como fez com a área de seguridade, aberta ao mercado
em 2013 e a área de cartões, que foi repassada para uma
sociedade em que a Cielo é maioria (http://veja.abril.com.br).
A participação do Tesouro Nacional nas ações
do BB caiu de 58,3% para 57,9% no ano passado
(http://economia.estadao.com.br).
A
CEF já está sendo preparada para esse modelo, pois nas
suas agências já é rotina a falta de funcionários
(que resulta em filas imensas), o excesso de serviço, a
cobrança de metas. Em 2014 o lucro da CEF foi de R$ 7,1
bilhões (http://g1.globo.com).
O plano da empresa é se transformar no 3º maior banco do
país, entrando na briga direta com os gigantes Itaú,
Bradesco e BB.
Dividir
para conquistar
A
CEF é um objeto de desejo do mercado, já que possui o
monopólio de atividades altamente lucrativas como as Loterias
e o serviço de Penhor, além de administrar as contas do
FGTS. Isso significa que a abertura de capital é um ataque não
apenas aos seus funcionários, mas ao conjunto dos
trabalhadores, já que se trata de mais um patrimônio
público (ou seja, dos trabalhadores) entregue aos empresários
(como o governo do PT já fez com rodovias, portos, aeroportos,
áreas de preservação florestal, bancos estaduais
e reservas de petróleo do Pré-Sal).
Para
avançar na privatização e entregar as partes
lucrativas, o governo teria que se livrar das partes desinteressantes
e “sanear” a CEF, como diz o jargão do mercado. O primeiro
passo seria livrar-se das dívidas do passivo trabalhista e do
fundo de pensão dos funcionários (FUNCEF, cuja gestão,
sob controle de diretores da empresa e sindicalistas do PT, investiu
em inúmeros negócios duvidosos até ameaçar
a própria solvência do plano). O segundo seria livrar a
CEF da prestação de serviços sociais, como os
pagamentos do PIS e do Seguro Desemprego, jogando a população
mais carente para fora das agências.
E
o terceiro passo seria quebrar a resistência dos funcionários,
hoje o segmento mais combativo da categoria bancária, com
maior adesão às greves e maior combatividade. O
funcionalismo da CEF é também o mais prejudicado pelo
governo, já que acumula perdas salariais em torno de 100% em
relação a 1994 (no BB essas perdas estão em
torno de 90% e nos bancos privados 30%).
A
traição da Contraf-CUT
Para
contornar a resistência dos funcionários, e também
evitar problemas no momento mais agudo de questionamento ao seu
governo, com manifestações pelo impeachment, etc.,
Dilma mudou de tática e voltou atrás em relação
à abertura de capital. O ministro Joaquim Levy anunciou que
não vai vender ações por enquanto, mas vai
vender a participação da CEF na Caixa Seguros, empresa
do conglomerado encarregada de seguros, capitalização,
previdência privada, etc
(http://www.correiobraziliense.com.br).
Hoje parte da Caixa Seguros já é de acionistas
privados, e o governo vai vender o restante. Na prática, isso
significa que os donos privados da Caixa Seguros vão usar a
estrutura da CEF, seus funcionários e equipamentos (que
teoricamente são “públicos”), para vender
“produtos”, e vão ficar com todo o lucro! O cotidiano dos
funcionários da CEF vai ser ainda mais pesado com as novas
metas de vendas.
Ao
invés de denunciar mais esse ataque e organizar a luta contra
a privatização, seja ela por inteiro ou em fatias, a
burocracia sindical que dirige os sindicatos de bancários, a
Contraf-CUT, comandada pelo PT, comemorou o anúncio de que o
governo vai vender “apenas” a Caixa Seguros como uma grande
vitória! Contra esse brutal ataque do governo do PT e a
traição da burocracia sindical da Contraf-CUT,
defendemos a formação de comitês de base, a
partir de cada local de trabalho, para levar a discussão a
cada agência e departamento, organizando atos e paralisações
onde for possível, denunciando o estelionato eleitoral (há
menos de 6 meses, nas eleições, Dilma prometeu não
privatizar os bancos públicos), realizando manifestações
públicas, cartas abertas aos clientes, explicando a gravidade
da privatização e chamando os trabalhadores a defender
o patrimônio público. A tarefa estratégica de tal
comitê, na verdade, seria levar a discussão sobre o
papel do sistema financeiro na sociedade para o conjunto dos
trabalhadores.
Por
um sistema financeiro sob controle dos trabalhadores!
Na
prática, seja com capital 100% público como a CEF ou em
parte privado como o BB, os dois bancos públicos já
funcionam como instrumentos do capital financeiro. O lucro dos bancos
públicos vai para seus acionistas (que inclui capitalistas
privados, no caso do BB) e para o Tesouro Nacional. E hoje 45% do
dinheiro arrecadado pelo governo federal vai para o pagamento dos
juros da dívida pública, ou seja, para os mesmos
banqueiros e especuladores privados. Em 2014 foram R$ 978 bilhões,
ou 10 vezes o que se gasta com a saúde, 11 vezes a educação
e 15 vezes a assistência social (dados da Auditoria Cidadã
– http://www.auditoriacidada.org.br).
Essa dívida é uma fraude, nós trabalhadores
nunca pegamos esse dinheiro emprestado, todo ano paga-se uma fortuna
e a dívida não para de aumentar, porque os juros são
inventados por um comitê do Banco Central composto pelos
próprios banqueiros e especuladores! Os trabalhadores precisam
entrar em luta contra essa lógica, e construir outro projeto
para o sistema financeiro.
-
Contra a privatização, seja por abertura de capital ou
qualquer outro formato! Contra a entrega de empresas públicas
ao capital privado!
-
CEF e BB 100% públicos e sob controle dos trabalhadores!
-
Fim da venda de produtos, das tarifas abusivas e juros extorsivos!
Crédito voltado para as necessidades dos trabalhadores e não
para os capitalistas!
- Estatização do
sistema financeiro sob controle dos trabalhadores!
-
Não pagamento da dívida pública e uso desse
dinheiro para obras e serviços públicos de saúde,
educação, transporte, moradia!
Daniel M. Delfino
Abril 2015
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