O TSE
diz: “#vempraurna” E a esquerda diz: “vote em mim!”
Em junho
de 2013 fez falta uma esquerda que apresentasse a alternativa da ação
direta combinada a uma crítica radical do capitalismo. Agora,
faz falta uma esquerda que organize toda a insatisfação
ainda presente por meio de uma campanha de denúncia da
democracia burguesa, da repressão, dos partidos burgueses e do
sistema como um todo. Se votar
mudasse alguma coisa, seria proibido. Como a eleição
não muda nada, o voto é obrigatório. Precisamos
de democracia todos os dias, e não de 4 em 4 anos! Na
ausência dessa campanha, a imensa insatisfação
acumulada vai se expressar na forma de um enorme e desorganizado
contingente de abstenções, votos brancos, nulos e em
candidatos folclóricos.
Para
fechar com chave de ouro a vitória da burguesia, os partidos
de esquerda comparecem alegremente ao circo eleitoral, validando,
nas entrelinhas, os seguintes pressupostos: que aceitam as regras do
jogo eleitoral, que o jogo é justo e vence o melhor, que não
há interferência do poder econômico da classe
capitalista, que o candidato eleito é o governante legítimo,
que tudo que se pode fazer é esperar mais quatro anos e torcer
por um resultado melhor nas próximas eleições,
que elegendo candidatos comprometidos com os trabalhadores
conseguiríamos melhorias, que o sistema capitalista pode ser
transformado por meio de reformas graduais, que não é
necessária uma revolução, etc. Não
importa o que digam na campanha (porque não o fazem fora da
campanha), no frigir dos ovos, é essa a mensagem subliminar
que fica.
Por
que não um voto nos partidos “da classe”?
Não
há uma disputa real entre um projeto dos trabalhadores e um
projeto da burguesia nas eleições. Há uma
disputa entre dois blocos partidários, o do PT e o do PSDB,
para ver qual deles irá liderar a aplicação de
um único projeto, o da burguesia. A última vez em que
um projeto dos trabalhadores se expressou nas eleições
foi talvez na campanha de 1989, quando o próprio PT ainda era
um partido classista, combativo e com um programa de reformas
radicais, que expressava as lutas que vinham desde o início da
década. Hoje não temos nada parecido ao que foi aquele
processo. O projeto dos trabalhadores ainda precisa ser reconstruído.
Os partidos citados acima não tem a capacidade sequer de se
unificar em uma frente, nem no movimento e nas lutas concretas da
classe, nem nas eleições.
A
participação de organizações e militantes
socialistas nas eleições tem que estar a serviço
do avanço da luta de classes. Hoje acontece o contrário,
as formas de participação que o Estado permite aos
trabalhadores, como partidos e sindicatos, servem para acomodar os
trabalhadores à lógica da reprodução
social no interior do capitalismo. Para que haja uma ruptura com essa
lógica, esses instrumentos legalizados devem ser utilizados
como os acessórios da luta e não como os principais.
Hoje, a disputa por aparatos sindicais e por votos nas eleições
burguesas é a atividade principal dos partidos “da classe”,
e isso não serve para educar os trabalhadores. A disputa real
deve ser realizada por meio da organização de base,
para enfrentar a ideologia burguesa e seu Estado.
Por
que voto nulo?
A
disputa que devemos travar não é no interior das
eleições, mas contra o processo eleitoral. As eleições
são o mecanismo por meio do qual o Estado recicla os seus
gerentes de plantão e assim se legitima para seguir impondo a
dominação de classe. Num momento como o que estamos
vivendo, pós-jornadas de junho, em que o Estado e suas
instituições, principalmente os partidos, foram
fortemente questionados, envolver-se nas eleições como
uma disputa que interessa aos trabalhadores significa compacturar e
capitular a esse operativo da burguesia de reciclar e relegitimar o
seu Estado por meio das eleições.
Por
que luta dos trabalhadores?
Uma
campanha pelo voto nulo puro e simples também não seria
suficiente para enfrentar o projeto da burguesia e seu mecanismo de
legitimação por meio das eleições.
Afinal, o voto nulo é somente mais uma das opções
disponíveis na própria urna. Esse voto e nulo puro e
simples, como se fosse um fim em si mesmo, se confunde com o voto
nulo da direita e dos saudosistas da ditadura e com o voto nulo
despolitizado do senso comum, que diz que “todos são iguais,
todos são corruptos”. Da mesma forma, a abstenção
ou os votos de protesto (em que, de certa forma, o voto nos partidos
“da classe” também se enquadra) também são
opções para o que fazer diante da urna. Esse não
deve ser o principal debate nas eleições.
O
principal deve ser o que fazer para além das eleições
para mudar a realidade, que é a mobilização e a
luta dos trabalhadores. Se os instrumentos legalizados (sindicatos e
partidos eleitorais) não devem ser a principal arma para a
luta dos trabalhadores, o principal é o que ainda falta
construir, que são comitês, coletivos, fóruns de
luta por local de trabalho, de estudo e de moradia que possam ser o
sustentáculo para um projeto da classe.
Em
resumo, “Comitês pelo voto nulo e luta dos
trabalhadores!”
Alckmin
vai acabar com a água de São Paulo para se reeleger, e
da mesma forma Dilma vai gastar toda a munição do
governo federal (e da polícia). Depois da festa eleitoral,
virá a ressaca da crise capitalista latente. As lutas vão
continuar, porque não haverá outra alternativa. Por
isso, “comitês pelo voto nulo e luta dos trabalhadores”,
que apontam uma alternativa diante das eleições e para
o que fazer depois delas, apresentando a luta como negação
e superação do ato de votar.
Daniel M.
Delfino
Outubro
2014
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