5.11.15

Todo voto é nulo: só a luta muda a vida!




O TSE diz: “#vempraurna” E a esquerda diz: “vote em mim!”
Em junho de 2013 fez falta uma esquerda que apresentasse a alternativa da ação direta combinada a uma crítica radical do capitalismo. Agora, faz falta uma esquerda que organize toda a insatisfação ainda presente por meio de uma campanha de denúncia da democracia burguesa, da repressão, dos partidos burgueses e do sistema como um todo. Se votar mudasse alguma coisa, seria proibido. Como a eleição não muda nada, o voto é obrigatório. Precisamos de democracia todos os dias, e não de 4 em 4 anos! Na ausência dessa campanha, a imensa insatisfação acumulada vai se expressar na forma de um enorme e desorganizado contingente de abstenções, votos brancos, nulos e em candidatos folclóricos.
Para fechar com chave de ouro a vitória da burguesia, os partidos de esquerda comparecem alegremente ao circo eleitoral, validando, nas entrelinhas, os seguintes pressupostos: que aceitam as regras do jogo eleitoral, que o jogo é justo e vence o melhor, que não há interferência do poder econômico da classe capitalista, que o candidato eleito é o governante legítimo, que tudo que se pode fazer é esperar mais quatro anos e torcer por um resultado melhor nas próximas eleições, que elegendo candidatos comprometidos com os trabalhadores conseguiríamos melhorias, que o sistema capitalista pode ser transformado por meio de reformas graduais, que não é necessária uma revolução, etc. Não importa o que digam na campanha (porque não o fazem fora da campanha), no frigir dos ovos, é essa a mensagem subliminar que fica.

Por que não um voto nos partidos “da classe”?
Não há uma disputa real entre um projeto dos trabalhadores e um projeto da burguesia nas eleições. Há uma disputa entre dois blocos partidários, o do PT e o do PSDB, para ver qual deles irá liderar a aplicação de um único projeto, o da burguesia. A última vez em que um projeto dos trabalhadores se expressou nas eleições foi talvez na campanha de 1989, quando o próprio PT ainda era um partido classista, combativo e com um programa de reformas radicais, que expressava as lutas que vinham desde o início da década. Hoje não temos nada parecido ao que foi aquele processo. O projeto dos trabalhadores ainda precisa ser reconstruído. Os partidos citados acima não tem a capacidade sequer de se unificar em uma frente, nem no movimento e nas lutas concretas da classe, nem nas eleições.
A participação de organizações e militantes socialistas nas eleições tem que estar a serviço do avanço da luta de classes. Hoje acontece o contrário, as formas de participação que o Estado permite aos trabalhadores, como partidos e sindicatos, servem para acomodar os trabalhadores à lógica da reprodução social no interior do capitalismo. Para que haja uma ruptura com essa lógica, esses instrumentos legalizados devem ser utilizados como os acessórios da luta e não como os principais. Hoje, a disputa por aparatos sindicais e por votos nas eleições burguesas é a atividade principal dos partidos “da classe”, e isso não serve para educar os trabalhadores. A disputa real deve ser realizada por meio da organização de base, para enfrentar a ideologia burguesa e seu Estado.

Por que voto nulo?
A disputa que devemos travar não é no interior das eleições, mas contra o processo eleitoral. As eleições são o mecanismo por meio do qual o Estado recicla os seus gerentes de plantão e assim se legitima para seguir impondo a dominação de classe. Num momento como o que estamos vivendo, pós-jornadas de junho, em que o Estado e suas instituições, principalmente os partidos, foram fortemente questionados, envolver-se nas eleições como uma disputa que interessa aos trabalhadores significa compacturar e capitular a esse operativo da burguesia de reciclar e relegitimar o seu Estado por meio das eleições.
Por que luta dos trabalhadores?
Uma campanha pelo voto nulo puro e simples também não seria suficiente para enfrentar o projeto da burguesia e seu mecanismo de legitimação por meio das eleições. Afinal, o voto nulo é somente mais uma das opções disponíveis na própria urna. Esse voto e nulo puro e simples, como se fosse um fim em si mesmo, se confunde com o voto nulo da direita e dos saudosistas da ditadura e com o voto nulo despolitizado do senso comum, que diz que “todos são iguais, todos são corruptos”. Da mesma forma, a abstenção ou os votos de protesto (em que, de certa forma, o voto nos partidos “da classe” também se enquadra) também são opções para o que fazer diante da urna. Esse não deve ser o principal debate nas eleições.
O principal deve ser o que fazer para além das eleições para mudar a realidade, que é a mobilização e a luta dos trabalhadores. Se os instrumentos legalizados (sindicatos e partidos eleitorais) não devem ser a principal arma para a luta dos trabalhadores, o principal é o que ainda falta construir, que são comitês, coletivos, fóruns de luta por local de trabalho, de estudo e de moradia que possam ser o sustentáculo para um projeto da classe.

Em resumo, “Comitês pelo voto nulo e luta dos trabalhadores!”
Alckmin vai acabar com a água de São Paulo para se reeleger, e da mesma forma Dilma vai gastar toda a munição do governo federal (e da polícia). Depois da festa eleitoral, virá a ressaca da crise capitalista latente. As lutas vão continuar, porque não haverá outra alternativa. Por isso, “comitês pelo voto nulo e luta dos trabalhadores”, que apontam uma alternativa diante das eleições e para o que fazer depois delas, apresentando a luta como negação e superação do ato de votar.

Daniel M. Delfino
Outubro 2014


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