O
repúdio à Troika
No
domingo dia 25 aconteceram eleições gerais na Grécia,
antecipadas devido ao colapso do governo anterior (liderado pelo
partido mais tradicional da direita, o Nova Democracia), conforme as
regras do sistema parlamentarista. As eleições foram
vencidas pelo partido SYRIZA (Coalizão da Esquerda Radical, na
sigla em grego), que assim apontará seu líder Alexis
Tsipras para o posto de primeiro ministro. A principal promessa de
campanha do SYRIZA é o fim das medidas de “austeridade”
que vêm sangrando o país desde a crise do euro em 2010,
episódio da crise mundial iniciada em 2008, e que praticamente
não se encerrou na Europa.
Para não
ser forçada a abandonar a moeda comum européia, o euro,
a Grécia se submeteu desde 2010 a um memorando da chamada
“Troika” (União Européia, Banco Central Europeu e
FMI) que impunha medidas severas de “austeridade”, ou seja, corte
nos gastos públicos, para garantir que o governo do país
continuasse pagando sua dívida aos credores internacionais e
recuperar sua credibilidade perante o mercado internacional. Os
cortes nos gastos públicos atingiram pesadamente a população
trabalhadora, já que foram direcionados aos serviços
públicos, à saúde, à educação,
ao pagamento de aposentadorias e pensões. Além dos
cortes, houve também aumentos de impostos. Essa política
foi maciçamente rejeitada nas urnas.
A
tragédia social da austeridade
As
medidas de “austeridade” vinham sendo implantadas pelos governos
da Nova Democracia e do PASOK (Partido Social Democrata, o partido da
“esquerda” tradicional), que têm se alternado no poder nos
últimos anos, sem conseguir reativar a economia. Segundo dados
do FMI (http://www.imf.org/)
de outubro de 2014, o PIB da Grécia está em US$
246 bilhões, tendo se mantido praticamente estável em
2014 (crescimento de 0,6%), depois de uma seqüência de
quedas brutais (-3,8% em 2013, -6,9% em 2012, -7,1% em 2011, -4,9% em
2010 e -3,1% em 2009). A taxa de desemprego está em 25,7% (ou
seja, ¼ da população economicamente ativa),
sendo 60% entre os jovens de 18 a 25 anos, e a dívida pública
está em 168,6% do PIB.
As
conseqüências da austeridade e do desemprego são o
aumento explosivo da pobreza nos anos recentes: “Com 1,38 milhões
de pessoas no desemprego [de uma população de 11
milhões de habitantes], a pobreza tem aumentado na Grécia.
Um estudo da Universidade de Atenas revela que no ano passado 14% da
população vivia na pobreza, contra 2% em
2009.”(http://pt.euronews.com/2014/02/13/grecia-desemprego-e-pobreza-batem-recordes/).
A busca
por uma alternativa política
Nenhum
dos partidos políticos, nem o vitorioso SYRIZA nem os menores
KKE (Partido Comunista) e ANTARSYA (Cooperação da
Esquerda Anticapitalista para a Ruptura), entretanto, tem conseguido
organizar a imensa insatisfação popular com as medidas
de “austeridade”. Dezenas de greves gerais de 24h e 48h têm
sido realizadas desde 2008 (dirigidas pelas burocracias sindicais
ligadas ao PASOK e KKE, que assim evitaram um transbordamento das
lutas), além de massivas manifestações nas ruas,
com pesados conflitos com as forças da repressão, a
cada vez que o parlamento grego votava as imposições da
Troika. Conflitos abertos tem oposto a esquerda aos neonazistas do
Aurora Dourada, que teve sua sede incendiada por ativistas de
esquerda depois do assassinato do rapper antifascista Pavlos Fyssas
em 2013.
Nesse
cenário de crescente polarização social, o
conteúdo concreto do programa de Tsipras (apesar de todo o
terrorismo da mídia com o fantasma do esquerdismo e a ameaça
aos mercados) se limita a uma tímida renegociação
da dívida pública, que alonga as parcelas e mantém
a sujeição do país ao capital financeiro
especulativo internacional. Não se trata portanto de nenhuma
solução “radical” capaz de resolver os problemas do
país.
A origem
da crise econômica grega está na sua baixa produtividade
em comparação com as demais economias da zona do euro,
em especial gigantes como a Alemanha e a França. O tempo de
trabalho socialmente necessário para produzir carros,
eletrodomésticos, roupas, etc., é maior na Grécia
do que em outros países, o que significa que esses produtos
são mais caros, por isso as empresas gregas não
conseguem competir e são absorvidas pelas suas concorrentes
internacionais, o que resulta em desemprego de trabalhadores gregos.
A permanência da Grécia no euro é uma ficção
mantida às custas do endividamento do governo grego, já
que a produtividade do país é muito inferior à
da economia reguladora do bloco, a Alemanha, que assim está
colonizando as demais participantes do euro. Esse endividamento, por
sua vez, tem sido repassado pelo governo aos trabalhadores.
O
governo do SYRIZA não será capaz de romper realmente
com a austeridade e reverter o empobrecimento dos trabalhadores,
porque para isso teria que tomar medidas realmente anticapitalistas:
não pagamento da dívida pública, saída da
zona do euro e fim das políticas de austeridade, redução
da jornada sem redução dos salários, reativação
dos serviços públicos, igualdade de direitos para os
imigrantes, estatização das empresas que ameaçarem
fechar. Ao invés de chamar voto no SYRYZA, organizar os
trabalhadores em torno desse programa deveria ser a tarefa da
esquerda grega.
Daniel M.
Delfino
Janeiro
2015
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