No dia 7
de janeiro de 2015, uma quarta-feira, dois homens armados invadiram a
sede da revista humorística francesa Charlie Hebdo e mataram
12 pessoas, sendo 4 cartunistas que eram os dirigentes e principais
artistas da publicação e 2 policiais que tentaram
protegê-los. Nos dias seguintes a polícia francesa deu
caça à suposta “célula terrorista” que
realizou o atentado. A caçada humana, com tons de filme de
ação hollywoodiano, terminou na sexta-feira, dia 9, com
a morte dos dois atiradores e mais um homem armado que agia em
separado e dizia apoiar os dois primeiros, e que por sua vez foi
responsável pela morte de mais 4 reféns num mercado
judeu.
A
revista Charlie Hebdo ficou conhecida internacionalmente por ter
reproduzido em 2006 charges da autoria de Kurt Westergaard, que
tinham como personagem o profeta Maomé, as quais haviam sido
publicadas no jornal de direita Jyllands-Posten, da Dinamarca. O
editor da revista francesa, que se diz “de esquerda”, justificou
a publicação em nome da “liberdade de expressão”.
Já na época, em 2006, houve reações
violentas contra as charges por parte de muçulmanos em vários
países, e em 2011 houve uma tentativa de atear fogo ao prédio
da revista francesa. Agora, os fanáticos chegaram ao ponto
máximo de violência e tiraram as vidas de artistas e
funcionários da publicação.
Em
resposta ao ataque, manifestações espontâneas
surgiram em toda a França, em apoio à revista. E no
domingo dia 11, o governo francês organizou uma “marcha
republicana”, que teve o comparecimento de milhões de
pessoas em Paris e várias cidades francesas. Na capital o
presidente François Hollande desfilou ao lado de dezenas de
chefes de estado de vários países, como Angela Merkel
da Alemanha, Matteo Renzi da Itália, e do secretário de
estado estadunidense John Kerry. Todos foram unânimes em
condenar o atentado, que está sendo atribuído à
Al Qaeda, e querem o apoio da população para a
repressão.
Informações
mais detalhadas divulgadas posteriormente questionam a possibilidade
de que as ações na redação da revista e
no mercado judeu, pelo seu amadorismo e a facilidade da polícia
para localizar e abater os autores, tenham sido coordenadas e
praticadas por agentes treinados de uma “célula terrorista”.
O mais provável é que sejam de autoria de jovens
franceses descendentes de imigrantes e de religião muçulmana,
revoltados com a discriminação cotidiana que sofrem e
estimulados por pregadores radicais, mas sem qualquer relação
orgânica com a Al Qaeda e o Estado Islâmico. Mesmo assim,
com todas as evidências apontando contra uma “operação
terrorista”, os governantes já estão mobilizando suas
tropas. Os tambores da “guerra ao terror” estão soando
novamente.
A
questão da liberdade de expressão
Diz-se
que em toda guerra a primeira vítima é a verdade, e
parece também ser esse o caso dos atentados à revista e
da renovada “guerra ao terror” que eles motivaram. Há um
emaranhado de questões que estão sendo soterradas em
meio aos clichês que dominam o debate.
A
primeira questão a ser discutida é o aspecto do ataque
como um atentado contra a liberdade de expressão. Partimos do
pressuposto de que devemos defender a liberdade de expressão
como um princípio, um pré-requisito básico para
que haja qualquer pensamento e qualquer luta. Quando uma ditadura se
instaura, sua primeira medida é justamente estabelecer a
censura, para proibir a oposição de se expressar.
Defendemos a liberdade de expressão, porque a censura, de
qualquer tipo que seja, com pretexto religioso ou diretamente
político, é o pior recurso para lidar com a diversidade
de ideias. Devemos defender a possibilidade da livre expressão,
do debate, do diálogo e do aprendizado coletivo, que são
impossibilitadas pela censura.
Estabelecido
este primeiro ponto, é preciso esclarecer também que
liberdade de expressão não é o mesmo que
impunidade. As ideias devem ser expostas, e os seus autores devem ser
responsabilizados por elas. Aqueles que se utilizarem da liberdade
para expor ideias que reforçam a opressão, devem ser
punidos por isso. Sendo assim, condenamos o atentados contra Charlie
Hebdo, mas isso não significa conceder álibi para que
humoristas possam destilar machismo, racismo e LGBTfobia disfarçados
de entretenimento, como o que predomina hoje nas “stand ups” e
“talk shows” que estão na moda no Brasil. Também
tem que haver punição adequada para esses oportunistas
que reproduzem preconceito e opressão com a máscara do
humor. Até porque a reprodução do preconceito na
mídia e nos veículos de entretenimento legitima
agressões físicas e morais que mulheres, negros e LGBTs
sofrem cotidianamente.
Retomando
a questão da revista francesa, reafirmamos que é sim
dever da esquerda defender a liberdade de expressão, o
jornalismo, o humor, a arte e a cultura, como valores humanistas.
Entretanto, temos que reafirmar que a revista Charlie Hebdo
representava muito mal e porcamente esses valores. A revista foi
fundada na década de 1970 como um veículo para a sátira
contra os poderosos (como parte do mesmo processo que gerou por
exemplo o “Pasquim”, no Brasil). Alguns integrantes da redação
se definiam como “de esquerda”. Stephane Charbonnier, conhecido
por Charb, que no momento era o editor e principal artista da
publicação, já havia feito ilustrações
para publicações de obras de Marx e de autores
marxistas franceses, como Daniel Bensaid, entre outros. Não
havia apenas charges sobre Maomé, mas sobre o Papa, o general
De Gaulle, etc. A crítica era direcionada não apenas ao
islamismo, mas também ao fanatismo cristão, judaico,
aos nazistas, etc.
Entretanto,
com o passar do tempo e a perda de referências ideológicas,
começam a surgir também charges racistas e
islamofóbicas. O puro e simples mau gosto e vulgaridade
tomaram lugar da criatividade. Assim, os atentados transformaram os
responsáveis por uma publicação medíocre
em mártires da liberdade de expressão. O assassinato
dos chargistas é sempre lamentável porque se trata de
vidas humanas, mas é também lamentável porque
tira a possibilidade de que pudessem ser criticados por publicações
islamofóbicas e racistas e fossem obrigados a se retratar pela
pressão de um movimento unitário de trabalhadores, que
é o que a esquerda deveria fazer. Ao invés da devida
retratação que precisavam emitir, terão a
imerecida glória da imortalidade, primeiro resultado da
estupidez dos atiradores. Charlie Hebdo, na sua espiral decadente em
direção ao oportunismo, não estava nem um pouco
à altura dos valores humanistas que defendemos, mas a morte
dos membros da sua equipe, para cúmulo da ironia, os
transformou em “heróis”, justamente o que o imperialismo
precisava neste momento.
O
terrorismo e a crise de alternativas
Um
segundo aspecto é que os ataques são condenáveis
sob o ponto de vista político, como método de luta
equivocado. O terrorismo já foi rejeitado como método
de luta pelos revolucionários há mais de um século.
Na Rússia, os bolcheviques e revolucionários sempre se
colocaram contra a ação isolada de grupos vanguardistas
que se descolavam do restante da população para atacar
governantes e autoridades. Esse método nunca serviu para
trazer apoio da população para a luta. Ao contrário,
os governantes sempre conseguiram reverter a opinião pública
contra os atentados e com isso obter legitimidade para reprimir não
apenas os próprios terroristas, mas todo tipo de ação
ou pensamento críticos da sociedade e todos os demais grupos
de oposição. Os revolucionários sempre apostaram
no avanço da consciência e da organização
dos trabalhadores enquanto classe e coletivo, nunca em ações
“heróicas”, voluntaristas e individualistas.
O fato
de que muitos jovens de países de religião
majoritariamente muçulmana adotem o terrorismo como método
de luta tem a ver com a crise de alternativas socialistas, a falta de
uma perspectiva que aponte para o fim do capitalismo e a construção
de uma sociedade socialista. Na falta desse projeto, os jovens se
identificam não como parte da classe trabalhadora e como
habitantes de países explorados pelo imperialismo, mas como
adeptos de determinada religião ou grupo étnico. As
lutas acabam sendo desviadas para os sintomas mais evidentes dos
problemas que essa população vive, como a dominação
por governantes autoritários e corruptos, que obedecem o
imperialismo, entregam a riqueza do petróleo e insultam a
cultura, a religião e a tradição desses países;
não contra a causa dos problemas, que é o próprio
sistema capitalista. Por isso é preciso insistentemente
oferecer uma explicação socialista para questões
que são apenas aparentemente ou parcialmente religiosas e
étnicas, mas que dizem respeito à dominação
de classe e à dominação nacional.
Em
resumo, rejeitamos o terrorismo, não porque ele seja uma
afronta à “civilização ocidental”, mas
porque é contraproducente como método de luta dos
explorados e oprimidos. Defendemos o direito dos povos do Oriente
Médio e do mundo inteiro de se defender e se libertar da
dominação imperialista, por meio da luta armada se for
preciso, mas não a ação de grupos isolados que
agem em separado dos movimentos sociais, não acatam o conjunto
do movimento e matam indiscriminadamente. Defendemos o processo de
organização coletiva dos povos para formar seus
instrumentos de luta, seus partidos, sindicatos, associações
e órgãos de autodefesa. Defendemos o exemplo da
resistência armada curda na região de Rojava, na Síria,
com sua concepção laica e pluralista, que aceita todos
os grupos étnicos e religiosos, curdos, sírios,
muçulmanos, cristãos, etc., e forma inclusive milícias
de mulheres. Defendemos que a referência para a organização
dos povos é a classe trabalhadora, que tem a condição
de reorganizar toda a vida social a partir da expropriação
dos meios de produção e do controle coletivo, rumo ao
socialismo.
O
terrorismo e o estereótipo dos muçulmanos
Os
atentados já surtiram o efeito previsível, ou seja,
deslanchar uma imensa onda de islamofobia e racismo. Os fanáticos
que pegaram em armas contra Charlie Hebdo não estão
defendendo os muçulmanos do mundo inteiro, estão
atraindo sobre eles a repulsa e a desconfiança. A islamofobia,
a xenofobia e o racismo apregoados por setores de extrema direita vão
ter ainda mais apoio agora que essa amostra de irracionalismo e
barbárie aparentemente lhes deu razão. Mas a direita
não tem razão também neste caso. O terrorismo,
repetimos, não é algo inerente à religião
islâmica. O islamismo não é um todo homogêneo
(assim como o cristianismo também não é). Dentro
da população de mais de 1 bilhão de muçulmanos
no planeta, encontram-se inúmeras divisões e
subdivisões em seitas e grupos. A grande maioria da população
muçulmana é pacífica (assim como a maioria dos
cristãos, dos budistas, etc.), e o extremismo é uma
opção minúscula e ultra minoritária. E
para completar, cristãos, judeus, hinduístas, etc.,
também não estão isentos de cometer atos de
violência e crimes de todos os tipos, muito pelo contrário,
pois acontecem a todo momento. Não é a religião,
mas a política e a luta de classes que explicam a violência.
O ataque
terrorista é acima de tudo um ato politicamente estúpido,
porque deu o pretexto para que uma vasta gama de oportunistas
passasse a defender o aumento da repressão. Forças
policiais e militares estão se mobilizando em toda a França
com o pretexto de caçar terroristas remanescentes ou
supostamente relacionados aos ataques. Em toda a Europa se reforçam
medidas repressivas, que acabarão se voltando contra as lutas
dos trabalhadores, conforme discutiremos a seguir. Governos do mundo
inteiro estão defendendo ações militares contra
os grupos localizados em países do Oriente Médio e que
são supostamente responsáveis pelos ataques. Enquanto
os governos preparam a guerra no exterior, forças da repressão
e grupos neonazistas e de extrema direita intensificam a ação
no interior de cada país sobre setores “suspeitos” da
população, imigrantes em geral, em especial negros,
árabes, indianos, latinoamericanos, etc.
O
contexto da luta de classes na Europa
Uma das
principais armas da burguesia para conter as lutas dos trabalhadores,
especialmente na Europa, é justamente a divisão da
nossa classe entre nacionais e estrangeiros. Os setores de direita
exploram essa divisão e difundem o preconceito contra negros,
árabes, indianos, latinoamericanos, etc. Devido a sua baixa
taxa de natalidade e envelhecimento da população
economicamente ativa, o continente europeu precisa da mão de
obra de imigrantes, que chegam à taxa de 1 milhão de
pessoas por ano, mas ocupam os piores empregos, recebem os piores
salários, moram nos piores bairros, e ainda por cima são
tratados pelos nativos como culpados pelos problemas. Essa é a
base para a xenofobia, a islamofobia e o racismo, e é por esse
motivo, por serem obstáculo à unidade da classe, que é
preciso combater essas ideias.
Os
atentados acontecem num momento em que havia um crescimento das lutas
dos trabalhadores na Europa contra as políticas de
“austeridade” prevalecentes no continente. Manifestações
de massa na Itália, greve geral na Bélgica, eleições
altamente polarizadas na Grécia, crescimento da oposição
na Espanha. Todos esses fenômenos eram sintomas de que a classe
trabalhadora europeia estava se levantando contra as políticas
dos governos do continente, que querem fazer com que paguem os custos
de uma crise que já se arrasta desde 2008, e da qual o
capitalismo europeu jamais se recuperou plenamente. Os governos
querem cortar salários, direitos e benefícios, demitir
funcionários públicos, cortar verbas e sucatear os
serviços, reduzir aposentadorias e aumentar o tempo de
contribuição, aumentar impostos, etc. Exatamente como
anunciou o novo ministro da fazenda do governo Dilma no Brasil.
É
contra essas medidas que os trabalhadores estavam em luta, e não
apenas na Europa, mas em escala mundial. Prova disso são os
exemplos das manifestações no México, por conta
do desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa, e nos Estados
Unidos, por conta da morte de jovens negros pela polícia, dos
quais o caso de Ferguson foi o mais emblemático. No Brasil,
temos a luta contra as demissões (que foram revertidas na
Volks à custa de uma acordo que impõe arrocho salarial,
mas continuam na Mercedes), contra o aumento das passagens, por
moradia, etc. É nesse contexto de lutas dos trabalhadores e da
juventude que acontecem os atentados, dos quais as forças
imperialistas querem se aproveitar para reverter o clima político
em favor da repressão. O aumento da repressão, com o
uso massivo de policiais e tropas militares nas ruas, sob o pretexto
de “reprimir o terrorismo”, na verdade serve para conter as
manifestações, ocupações, piquetes e
greves dos trabalhadores.
Contra a
“marcha republicana” e a hipocrisia imperialista
Os
atentados terroristas são um grave equívoco como método
de luta, mas o que é mesmo absolutamente condenável
são os governantes oportunistas que querem dirigir a
indignação da população em favor de suas
políticas de militarização, guerra, reforço
da repressão e mecanismos de vigilância e controle.
Esses mecanismos, em última instância, vão ser
usados contra a própria população, não
apenas os imigrantes, os negros, árabes, indianos,
latinoamericanos, etc., mas os trabalhadores em geral, conforme
expusemos acima.
É
para manipular a situação a seu favor que governantes
imperialistas do mundo inteiro se unificaram numa grande frente com o
presidente francês François Hollande para condenar os
ataques. A composição dessa frente é um
espetáculo dantesco de hipocrisia. A lista dos nomes que
desfilaram na “marcha republicana” do dia 11 é aterradora.
Além de ditadores africanos, acostumados a afogar a oposição
em sangue e monarquias do Oriente Médio, corruptas até
os ossos e igualmente repressivas, tivemos algumas celebridades que
abrilhantaram o evento com seu cinismo sem limites.
Entre
eles, Petro Poroshenko, presidente ucraniano eleito num processo
fraudulento, que se seguiu a um golpe de estado fascista, e que está
em guerra civil contra uma parte do país que não aceita
o golpe e a política que está por trás dele, a
imposição das medidas de austeridade exigidas pela
União Europeia; Recep Tayyip Erdogan, primeiro ministro da
Turquia, país que há décadas mantém a
política de repressão sobre a minoria curda no oeste do
país, sendo que em seu governo reprimiu duramente as
manifestações na Praça Taksim em Istambul em
2013 e também as manifestações contra as
denúncias de corrupção em seu governo em 2014;
John Kerry, secretário de Estado estadunidense, cujo governo
financiou o Talibã, a Al Qaeda e o Estado Islâmico, e
que agora quer reenviar tropas ao Oriente Médio para
supostamente combatê-los, ao mesmo tempo em que empreendem uma
caçada mundial contra Julian Assange e Eduard Snowden, por
terem publicado segredos das conspirações imperialistas
(isso é que é defesa da liberdade de expressão!);
e finalmente Benjamin Netanyahu, primeiro ministro israelense, que em
2014 deu seguimento a mais uma rodada de genocídio dos
palestinos, bombardeando Gaza, inclusive escolas e hospitais, matando
milhares de pessoas, inclusive mulheres e crianças. Foram
esses facínoras que marcharam em Paris em defesa da “liberdade
de expressão”!
Je ne
suis pas Charlie!
Além
dos políticos profissionais, vários setores da mídia
e intelectuais se perfilaram numa espécie de campanha com o
slogan “je suis Charlie” (“eu sou Charlie”), em defesa da
“liberdade de expressão” e conclamando o mundo inteiro a
se unir “contra o terrorismo”. A “marcha republicana” do
domingo dia 11 recebeu a adesão de inúmeros partidos e
organizações, inclusive da esquerda francesa. Esses
setores de esquerda que aderiram à marcha governista estão
capitulando vergonhosamente ao governo burguês e imperialista
de Hollande e aos demais imperialistas que lhe dão apoio,
desde Obama à Angela Merkel. O papel da esquerda e dos
intelectuais neste momento deveria ser o de denunciar o imperialismo
e todos os seus representantes, como o próprio Hollande e os
demais citados acima, como os primeiros e maiores responsáveis
pelo terrorismo.
Uma
coisa são os atos espontâneos da população
francesa em repúdio ao ataque, por indignação
com a intolerância e a violência, e em defesa de valores
humanistas e democráticos. É dever da esquerda
organizada participar desses atos para impedir que sejam dirigidos
pela direita e extrema direita sempre prontas para injetar a
islamofobia, a xenofobia e o racismo. Outra coisa é a marcha
governista dirigida pelos maiores representantes do imperialismo e
culpados pelo terrorismo. Nesse caso, é dever da esquerda
denunciar os vínculos do terrorismo com as políticas
imperialistas para o Oriente Médio e a intenção
dos governantes de usar a “guerra ao terror” para reprimir as
lutas dos trabalhadores.
Por
último, também repudiamos a indignação
seletiva de setores intelectuais que são os primeiros a dizer
“je suis Charlie”, mas não tiveram a mesma presteza para
dizer “je suis Gaza”, para condenar o genocídio palestino
nas mãos do sionismo israelense, para se levantar contra todos
os crimes, massacres, violências e opressões praticados
pelas forças imperialistas e defensores da exploração
e da opressão capitalista no mundo inteiro. Ou, poucos dias
depois, não demonstraram nenhuma gota de indignação
quando a milícia Boko Haram massacrou 2 mil pessoas, em Baga,
na Nigéria. Não vimos nenhuma “marcha republicana”
dos líderes mundiais em repúdio ao ataque e em defesa
da vida dos 2 mil mortos, como se suas vidas não valessem o
mesmo que as das quase 20 mortas em Paris. O “humanismo seletivo”,
que só reconhece como vítimas uma parte da população,
não é humanismo, é a sua negação e
a rendição a um mundo desumano e à hipocrisia
dos poderosos.
Contra o
terrorismo! Contra a violência e a intolerância!
Em
defesa do humanismo, da cultura e da liberdade de pensamento e de
expressão!
Contra o
oportunismo de humoristas, “artistas” e celebridades que veiculam
o racismo, o machismo e a LGBTfobia
Contra a
islamofobia, a xenofobia e o racismo! Contra a extrema direita e
todos os oportunistas!
Contra
os governantes imperialistas, maiores responsáveis pelo
terrorismo e culpados de inúmeras agressões aos povos
do mundo inteiro!
Contra a
“marcha republicana” e a ofensiva política e ideológica
do estado capitalista francês para legitimar a repressão!
Pelo
direito de defesa, inclusive armada, dos povos árabes e de
todos os povos explorados e oprimidos pelo capitalismo!
Em
defesa da unidade da classe trabalhadora, nativos e imigrantes, na
Europa e no mundo inteiro, contra a exploração e a
opressão capitalistas!
Por uma
alternativa socialista para a humanidade!
Daniel M.
Delfino
Janeiro
2015
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