7.11.15

Governo Dilma anuncia mais um pacote de privatizaçoes



No dia 9 de junho Dilma anunciou um novo pacote de privatizações, ou seja, entrega de patrimônio público a empresários, num valor total de R$ 198 bilhões. Ferrovias, portos, aeroportos e rodovias fazem parte do cardápio. O PT não chama essa entrega de patrimônio público pelo nome, pois ainda é muito impopular falar em privatização. Por isso, chamam o processo de “concessões” e usam o nome pomposo de “Programa de Investimento em Logística”. Na prática, trata-se de mais um episódio do mecanismo típico da história do Brasil em que o governo (com dinheiro retirado de nós trabalhadores) fica com o investimento e os capitalistas ficam com o lucro.
O modelo a ser aplicado é o mesmo já em vigor para algumas rodovias federais: o governo leiloa a concessão das rodovias, as empresas que ganham a licitação ficam com o direito de cobrar pedágio nas estradas, e em troca, têm supostamente a obrigação de fazer a manutenção das vias. Na prática, o que acontece é que o preço dos pedágios dispara, e os tais investimentos em manutenção nunca são feitos. As empresas embolsam um lucro fácil e a população fica com um serviço de péssima qualidade.
Os setores a serem entregues à exploração privada são estratégicos (os dados são do portal G1, Reuters e UOL):
- Ferrovia Norte-Sul, um dos principais eixos de escoamento da produção de grãos no país;
- Ferrovia Bioceânica (ou Transoceânica), que vai facilitar a exportação de grãos e minérios para a China, passando pelo Peru;
- Rodovias como a BR-476, entre Santa Catarina e o Paraná e um trecho da BR-364, entre Minas Gerais e Goiás;
- Os aeroportos de Porto Alegre, Salvador, Florianópolis e Fortaleza. O programa prevê também a redução para 15% da participação da Infraero, ante os 49% de hoje, nos terminais já concedidos, como Guarulhos (SP), Galeão (RJ) e Brasília (DF);
- 50 novos arrendamentos de portos e 63 autorizações dos chamados TUPs (terminais de uso privado), além de renovações de arrendamentos, sendo 9 novos terminais no Porto de Santos, e 20 no Estado do Pará;
O plano é uma espécie de continuação do programa lançado em 2012, que entregou vários aeroportos, como o de Cumbica (em São Paulo), Confins (Belo Horizonte) e o de Brasília. O programa anterior não agradou totalmente o mercado, porque não era suficientemente privatista. Agora, o governo promete mais vantagens, inclusive aportes do BNDES para as empresas que entrarem no programa. O banco estatal vai entrar com até 70% dos investimentos com juros subsidiados, no caso das ferrovias, e os 30% restantes com juros de mercado. Nas outras áreas as porcentagens são diferentes, mas sempre incluindo uma parte em empréstimos estatais com juros “de pai pra filho”.
No discurso do governo, o programa é apresentado como uma forma de “modernizar a infraestrutura do país”, facilitando o escoamento da produção, barateando os custos e gerando crescimento da economia. E para completar o conto de fadas, o governo ainda diz que vai “gerar empregos e distribuição de renda”. Na verdade, se vier a ser efetivado, o programa de privatizações do setor de infraestrutura pode em algum grau facilitar o escoamento de mercadorias, mas daquelas destinadas à exportação, principalmente grãos e minérios, que vêm sendo o carro chefe das exportações brasileiras nas últimas décadas.
Os recursos naturais do país, o subsolo e as terras férteis, vão sendo consumidos de maneira predatória, e os lucros vão ficando nas mãos de alguns poucos privilegiados. A cereja do bolo é a confirmação de que empresas envolvidas no esquema de propinas da Petrobrás, expostas na Operação Lava a Jato, estão autorizadas a participar do programa e adquirir também as suas fatias da infraestrutura nacional. O anúncio do programa é parte de uma ofensiva de marketing para tentar retomar a iniciativa do governo, cuja popularidade está em baixa devido às medidas de “austeridade” e escândalos de corrupção, no contexto de uma economia em plena desaceleração.
O novo programa de privatizações confirma que quanto mais a burguesia faz exigências, mais o governo do PT cede. Para que não restasse a menor dúvida disso, o 5º Congresso do PT, acontecido no fim de semana seguinte ao anúncio das privatizações, em 13 e 14/06, referendou os rumos tomados pelo governo, a aliança com o PMDB, o programa de ajuste neoliberal e todo o resto. Ao invés de o partido criticar o governo, o governo centralizou o partido e comprometeu os petistas a defender suas medidas. Nesse contexto, é urgente romper com o governismo, denunciar Dilma, o PT, a CUT e seus demais aparatos, e construir nas lutas uma saída independente dos trabalhadores.

Daniel M. Delfino
Junho 2015


Nenhum comentário: