Em 2008
a chegada ao poder de um negro chamou a atenção do
mundo inteiro, como uma espécie de messias que salvaria os
Estados Unidos e o mundo da crise e dos odiados neoconservadores da
era Bush. Mas a gestão Obama serviu apenas para comprovar que
os dois partidos, Democrata e Republicano, são na verdade as
duas alas de um partido único, o partido do capital. O governo
dos Estados Unidos, qualquer que seja o presidente eleito, está
a serviço da burguesia imperialista mais poderosa do mundo,
dos setores mais concentrados, brutais e sórdidos do capital
mundial: a indústria armamentista, as empresas petrolíferas,
as companhias farmacêuticas, as cadeias de varejo
transnacionais, as montadoras e maquiladoras, e o campeão
entre esses, o mercado financeiro. As guerras e invasões
imperialistas, o plano de se apropriar do petróleo do Oriente
Médio, o apoio a Israel, o apoio a todos os governos
corruptos, autoritários e anti-operários do mundo, a
cobertura às transnacionais estadunidenses para extrair
mais-valia de centenas de países às custas do
sofrimento dos trabalhadores; são deveres fixos de qualquer
presidente estadunidense, os quais Obama cumpriu à risca.
Balanço
da gestão Obama
Recém-chegado
ao poder, Obama tratou de montar um governo bi-partidário
(mesmo contando com ampla maioria no legislativo eleita em 2006), em
nome de reconstruir a unidade do país para enfrentar a grave
crise, preservando figuras chave da gestão anterior, como Ben
Bernanke à frente do FED (banco central), Robert Gates
(comandante das guerras de Bush) no Pentágono e sua adversária
Hillary Clinton como secretária de estado (equivalente a
ministro de relações exteriores). Esses nomes garantiam
a continuidade da política imperialista, enquanto Obama fazia
o papel midiático de “showman”, servindo como testa de
ferro do governo.
Uma vez
após outra, Obama foi desautorizado por seus subordinados, que
desmentiam suas declarações e o reduziam ao ridículo.
Os trilionários pacotes de salvamento dos bancos e
instituições financeiras, iniciados já no final
da gestão Bush, tiveram continuidade e foram ampliados. Os
executivos dos bancos resgatados com dinheiro público
presentearam a si mesmos com bônus milionários, em meio
ao ódio popular, e Obama não fez mais do que lhes
passar um sermão sem qualquer conseqüência prática.
As investigações sobre os crimes dos “falcões”
da era Bush em suas guerras e também dos financistas
responsáveis pela crise terminaram em pizza.
Todas as
promessas de campanha foram sucessivamente descumpridas: a retirada
das tropas do Iraque (onde permanecem contingentes significativos e
também mercenários) foi um simples deslocamento para o
Afeganistão, o fechamento dos centros de tortura em Guantánamo
(Cuba) não aconteceu, a reforma da saúde pública
nunca foi nada além de um paliativo, e a mais importante de
todas, a retomada do crescimento e dos empregos, ficou só no
marketing. As grandes empresas e o mercado financeiro voltaram a ter
lucros, mas isso não melhorou a situação dos
trabalhadores.
Piora
a situação dos trabalhadores
Ao
contrário das promessas eleitorais, a miséria avança
nos Estados Unidos. Segundo os dados do livro “The rich and the
rest of us” (Os ricos e o resto de nós), de Tavis Smiley e
Cornel West, “Num país com cerca de 300 milhões de
habitantes, 150 milhões estão em pobreza 'persistente'
ou perto da pobreza (...). Cerca de 14 milhões de pessoas
estão oficialmente desempregadas – neste número não
são contabilizadas os cidadãos que já desistiram
de buscar emprego. Estes são alguns dos piores índices
em mais de 50 anos. Enquanto isso, apenas 400 cidadãos
extremamente ricos possuem a riqueza de 150 milhões de pessoas
no país.” (Opera Mundi, 26/09). Os pobres ficaram mais
pobres e os ricos mais ricos.
Desde o
início da crise econômica em 2008, milhões de
trabalhadores vêm perdendo seus empregos, suas moradias (por
não poder pagar as hipotecas), seus planos de saúde,
vendo-se dependentes dos programas de seguro-desemprego e saúde
pública para se alimentar e sobreviver. Cenas antes comuns
apenas no chamado “terceiro mundo” tornaram-se comuns nos Estados
Unidos na era Obama: acampamentos de sem teto nas redondezas das
grandes cidades, bairros inteiros transformados em favelas,
vendedores ambulantes, pedintes e mendigos nas ruas, doentes morrendo
por não poder pagar pelo atendimento hospitalar, crianças
desnutridas, etc. O governo Obama não é capaz de
reverter esse empobrecimento, e nem tampouco será o seu
adversário republicano, que já declarou publicamente
que não governará para os pobres.
Crueza
do candidato republicano
O atual
adversário de Obama, Mitt Romney, é um típico
homem de negócio, um grande burguês que representa os
conservadores de perfil tradicional. Romney tenta vender uma imagem
de gestor competente e critica a política econômica de
Obama, propondo um receituário estritamente neoliberal para
tirar o país da estagnação: corte de impostos
dos ricos e corte de gastos sociais com os pobres. Para Romney, 47%
dos eleitores democratas jamais votariam nele porque dependem do
Estado, o que em linguagem coloquial equivaleria a dizer que são
vagabundos. Essa declaração escandalosa, emitida num
evento para arrecadar fundos para a campanha e vazada na internet, é
inteiramente condizente com o conteúdo explícito do
programa do candidato, mas pode custar a eleição a
Romney.
A
resposta de Obama foi pronta: no programa de David Letterman o
candidato à reeleição disse que “um presidente
precisa governar para todos”. A declaração de Romney
expunha de forma distorcida a existência da divisão de
classes (pobres X ricos, vencedores X perdedores). A resposta de
Obama esconde a divisão de classe (o país é de
todos). Romney expõe a divisão de classe, com um viés
de direita, defendendo a necessidade de mais ataques sobre os
trabalhadores. Obama esconde a divisão de classe, para não
provocar reações pela esquerda, ou seja, para impedir
que haja mobilização dos trabalhadores contra os
ataques, que seguirão sendo feitos de qualquer forma.
No atual
momento, a burguesia estadunidense prefere não dar motivos
explícitos para a mobilização dos trabalhadores
e agir de maneira mais sub-reptícia. Para isso, o perfil de
Obama parece ser o mais indicado. A escolha da burguesia em torno de
qual o seria o gestor mais adequado para o momento deve ser o fator
decisivo para as eleições. Conta também o fato
de que Obama é o candidato preferido fora dos Estados Unidos.
Pesquisa realizada em 32 países mostra Obama com 51% da
preferência contra 12% de Romney (UOL, 17/09).
Qualquer
que seja o presidente, um inimigo dos trabalhadores
O
respaldo do presidente perante determinados países também
é importante num momento em que é preciso obter alguma
unidade para enfrentar a crise mundial. Entretanto, popularidade de
Obama à parte, a unidade será bastante difícil
de obter na prática, na medida em que uma das políticas
dos Estados Unidos para sair da crise tem sido a ofensiva para
reverter o saldo negativo na balança comercial. Uma nova
rodada de “alívio quantitativo” foi anunciada em setembro,
autorizando o FED a emitir até US$ 40 bilhões por mês,
por meio da compra de títulos, para estimular o mercado. Isso
vai ter como efeito a desvalorização do dólar
perante outras moedas, favorecendo as exportações
estadunidenses. Imediatamente, isso provocou protestos de outros
países exportadores e temores de uma guerra cambial de
desvalorizações.
A guerra
comercial precipitada pelos Estados Unidos está por trás
dos conflitos entre países exportadores, que vêm suas
economias patinando em plena crise mundial. É o caso da
recente escalada entre China e Japão, que pouco tem a ver com
um punhado de ilhas e mais com as dificuldades de ambas as economias.
Da mesma forma, o filme ofensivo aos muçulmanos é uma
provocação para fazer com que a nova onda de protestos
nos países árabes desfaça a simpatia do mundo
inteiro pela primavera árabe: os muçulmanos devem
voltar a ser vistos como fanáticos e bárbaros que não
respeitam a “liberdade de expressão”. Isso prova que, como
qualquer presidente, Obama defenderá os interesses da
burguesia estadunidense, externa e internamente.
A
necessidade de uma alternativa independente
A
vitória de Obama em 2008 foi obtida com uma importante votação
dos jovens, dos negros e dos latinos, tradicionalmente os
trabalhadores mais explorados nos Estados Unidos. A gestão
Obama não melhorou em nada a vida desses setores, que mesmo
assim mantém a esperança no candidato democrata. A
maior parte dos sindicatos, controlados pela burocracia da central
sindical AFL-CIO, colaboraram com o governo Obama assinando acordos
de demissão e redução de salários. Em
troca, os dirigentes do UAW, sindicato dos trabalhadores das
montadoras, ganharam ações e se tornaram sócios
da GM quando a empresa foi “reestruturada” pelo governo Obama em
2009! Historicamente, os sindicatos contribuem financeiramente com os
democratas e isso se repete em 2012.
Apesar
das seguidas demonstrações de obediência ao
capital por parte dos democratas, há uma camada de
intelectuais, artistas e celebridades que apóiam Obama, com a
justificativa de que seu governo está mais “à
esquerda” que o dos republicanos... Nesse momento é preciso
dizer com todas as letras: Obama é inimigo dos trabalhadores
estadunidenses e do restante do mundo, assim como o candidato
republicano! Ao invés de votar nos candidatos democratas ou
republicanos, os trabalhadores estadunidenses precisam confiar apenas
nas suas forças. Só a luta muda a vida, como
demonstraram os professores de Chicago e vários outros
trabalhadores que têm feito greves por todo o país, de
forma ainda incipiente. Também existe luta de classes nos
Estados Unidos, e para sair da derrota os trabalhadores precisam
construir seus próprios instrumentos e organismos de luta,
independentes das duas alas do partido do capital.
Daniel M.
Delfino
Setembro
2012
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