5.11.15

Em defesa de Edward Snowden! Pelo direito à verdade!



Nas últimas semanas o mundo tem assistido a uma verdadeira caçada humana contra um ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional estadunidense (NSA, em inglês) chamado Edward Snowden. Tudo começou quando o jornal inglês “The Guardian” publicou um documento em que o governo requisitava da empresa de telecomunicações Verizon dados sobre as ligações feitas por seus clientes, bem como sua localização via GPS. Descobriu-se depois que esse documento era uma simples renovação trimestral de uma ordem editada inicialmente desde 2006, sob o governo Bush, obrigando também outras empresas de telecomunicações como AT & T, Bell South e de internet como Google, Yahoo, Facebook, YouTube, Skpe, AOL, Apple, Microsoft a fornecer informações sobre seus clientes. A ordem, chamada “Ato de Segurança e Inteligência Exterior” (FISA, em inglês), é parte do Ato Patriótico lançado em 2001 pelo governo Bush como parte da “guerra ao terror”, na sequência dos atentados de 11 de setembro.
O Ato dá poder às agências governamentais como FBI, CIA, NSA, Serviço Secreto, etc. (há dezenas de agências de espionagem e contra-espionagem doméstica e estrangeira, que por sua vez utilizam empresas subcontratadas), para violar o sigilo bancário, telefônico e postal de qualquer cidadão, sem a necessidade de ordem judicial (contrariando a Constituição e as leis do país), por suspeita de “terrorismo”. O programa de espionagem montado com a autorização do FISA permite a esses agentes captar dados e metadados (localização via GPS, números discados, endereços de IP) de ligações de celular, mensagens de correio eletrônico, redes sociais de qualquer pessoa no planeta. O sistema filtra automaticamente mensagens de conteúdo suspeito (por exemplo, palavras como “revolução”, “socialismo”, etc.) e as envia para analistas de inteligência que interpretam o risco contido nas mensagens.

Quem é o criminoso?
Os Estados Unidos proibiram qualquer país de conceder asilo a Snowden e estão em seu encalço para extraditá-lo e julgá-lo no território estadunidense pelos crimes de traição e espionagem, por ter repassado os documentos ao jornal. A imprensa internacional passou a divulgar os lances dessa caçada humana como num filme de Hollywood, em que o fugitivo está hora em Hong Kong, hora em Moscou, e assim por diante. A caçada chegou ao cúmulo de fazer com que vários governos europeus, entre eles França e Espanha, se recusassem a permitir a aterrissagem do avião do presidente boliviano Evo Morales, por conta da suspeita de que Snowden estaria refugiado na aeronave. Morales acabou aterrissando na Áustria, em meio a protestos de seu governo e de outros países latinoamericanos por conta dessa grosseira violação de soberania. Estados Unidos passam por cima de qualquer outro país, seja ele grande como a França ou pequeno como a Bolívia, aliado ou supostamente inimigo, para perseguir um indivíduo que se tornou perigoso para sua dominação.
Mas o mais grosseiro nesse caso é que Snowden se tornou o criminoso, quando ele nada mais fez do que revelar a criminosa, sistemática, massiva, arbitrária violação da privacidade da comunicação de centenas de milhões de pessoas praticada pelo governo estadunidense! Snowden se soma assim a Julian Assange, criador do site Wikileaks, que publicou na internet milhares de mensagens da rede de embaixadas estadunidenses pelo mundo (e expôs pela primeira vez os contornos colossais da prepotência imperial ao espionar centenas de países, causando imenso constrangimento e revolta), hoje refugiado na embaixada do Equador em Londres (foi forjada contra ele a acusação de assédio sexual como pretexto para extraditá-lo aos Estados Unidos, onde o aparato de segurança deseja julgá-lo por terrorismo); e ao soldado Bradley Manning, atualmente detido em um presídio militar (em confinamento solitário totalmente ilegal, sem direito a habeas corpus, nem a poder sequer falar com um advogado) pelo crime de haver publicado documentos que provam os crimes da invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão e ao Iraque, onde servia.
A face sombria do Estado capitalista
O Ato Patriótico, em que se baseia o FISA (e o programa “Prisma” em que Snowden trabalhava), não só não foi revogado, como foi ampliado no governo Obama, convertendo-se nessa gigantesca teia de espionagem. Isso mostra que não há diferença essencial entre as duas frações do partido único do grande capital estadunidense, republicanos e democratas, no que se refere a garantir seus interesses imperiais. A “guerra ao terror” se transformou em uma política de Estado, não apenas deste ou daquele governo. Para legitimar a espionagem, a detenção ilegal de suspeitos, a tortura em prisões secretas e ilegais como Abu Graib e Guantánamo, o bombardeio por aviões não pilotados (drones) de regiões que supostamente abrigam terroristas no Afeganistão e no Paquistão (causando mortes de civis tratadas cinicamente como “danos colaterais”), a contratação de mercenários, a realização de assassinatos, etc., o governo estadunidense assumiu a doutrina de que “os fins justificam os meios”, e para “proteger as vidas de cidadãos” estadunidenses, o governo e seus agentes podem tudo e passam por cima de suas próprias leis.
O monstruoso aparato de segurança (que se destaca pela “incompetência”, pois os analistas foram incapazes de captar a ameaça do atentado na maratona de Boston) instala um clima de medo e paranóia, em que os indivíduos suspeitam uns dos outros e fiscalizam comportamentos tidos como suspeitos. Num país em que são comuns casos de indivíduos que surtam e realizam chacinas em escolas, a simples emissão de uma opinião divergente pode levar o autor a ser tratado como potencial terrorista. Numa mídia completamente controlada pelas grandes corporações, as mesmas que ditam a política do governo, não há espaço para qualquer tipo de debate substantivo e os críticos do governo, mesmo os mais suaves democratas e liberais burgueses, são tratados como asseclas de Bin Laden em verdadeiras campanhas de difamação. Os Estados Unidos, que se vangloriam de ser a primeira nação democrática do mundo, são uma ditadura sombria em que se tornam realidade os piores pesadelos descritos no “1984” de George Orwell. Abaixo o Grande Irmão!

Daniel M. Delfino
Julho 2014


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